10@norte
10@norte com José Manuel Monteiro
Gostos não se discutem e preferências também não. Conheças as 10@norte de alguém que tem o jornalismo de um lado e a rádio do outro. É desta forma que José Manuel Monteiro separa as suas grandes paixões que junta numa só: comunicar. Homem de sorriso e gargalhada fácil, dá vida ao programa «Livre Trânsito», ao fim de tarde, na Rádio Sim. Com pronúncia e sangue do norte, o comunicador que nasceu em Amarante assume-se “orgulhosamente” um homem do norte, que garante que “carago” é uma palavra bem nortenha que caracteriza as suas gentes.
O melhor refúgio do norte?
Eu gosto de me refugiar no meio da natureza, onde ela se encontra no seu estado mais puro. É tão bom para limpar a alma. Gosto muito de me refugiar nalguns locais, que só eu conheço, em Amarante. Tenho o hábito de pegar no carro e ir passear pela serra do Marão, ou fazer a estrada nacional que liga Amarante até à Régua. Demoro horas a fazer essa estrada. E depois, na Régua, gosto de ir até ao miradouro mais bonito do mundo, que fica em São Leonardo da Galafura. Quem nunca foi não sabe o que perde. É daqueles sítios de cortar a respiração.
A melhor frase que ouviu?
As melhores têm bolinha vermelha (risos). Gosto de frases com palavrões pelo meio, ditos de forma espontânea. Mas aprecio palavras como “esbardalhar”, “picar o ponto” ou chamar a alguém de “enorme” quando essa pessoa está a ser parva.
A melhor figura desta região do país?
Amadeo de Souza-Cardoso é umas das maiores figuras de sempre. Um homem que foi estudar pintura para Paris e por lá relacionou-se com os melhores pintores do século XX.
Um pintor vanguardista que recusava ser “encaixado” em qualquer corrente artística. Muito à frente no seu tempo e, por isso, foi muito maltratado quando fez a sua primeira exposição em Portugal. Quando Amadeo de Souza-Cardoso regressou a Portugal, no início da Primeira Guerra Mundial, era um pintor reconhecido nos meios da vanguarda, tendo participado em exposições coletivas em Paris, Berlim, Nova Iorque, Chicago, Boston e Londres. Morreu muito cedo e por isso deixou uma obra não muito extensa. Que orgulho me dá quando estou fora do nosso país e vejo um quadro de Amadeo ao lado de Picasso ou Monet.
A música que representa o norte?
Eu acho que todas as músicas do Pedro Abrunhosa têm muito do norte, do Porto.
Seja quando fala da emigração, no tema “Para os braços da minha mãe”, quando canta a “Balada de Gisberta”, a propósito da morte da travesti, ou quando interpreta o amor em “Tudo o que te dou”. O norte é isso mesmo: trabalho, liberdade e amor.
O melhor espectáculo que viu no norte?
O norte tem um défice de bons espectáculos. Temos vários mas precisamos de mais. Mas escolho o Mimo. É um festival gratuito, longe dos grandes centros e que traz a Portugal os melhores artistas mundiais. Além disso, valoriza o património e ainda há tempo para cinema, workshops, encontros e palestras com os artistas ou sessões de poesia.
Com que figura nortenha gostava de jantar?
Se não fosse eu a pagar, gostaria de ter uma mesa cheia de políticos, onde estariam a Catarina Martins, Augusto Santos Silva, Pacheco Pereira e Ilda Figueiredo.
O melhor prato?
Eu não consigo ficar apenas por um bom prato (risos). Mas neste momento estava a apetecer-me um bom cabrito assada com batatas, arroz e legumes.
O monumento mais interessante?
Não escolho um monumento mas uma cidade: Guimarães. É das mais bonitas, rica em história e monumentos e com uma intensa actividade cultural.
Um episódio caricato que viveu nessa região?
Um dia fui abordado na rua por uma pessoa que me pediu uma moeda para comer algo. Quando estava a procurar a moeda, o rapaz diz que já não a queria porque a mãe dele gostava de me ver na televisão e ele não tinha coragem de me estar a enganar. A moeda era para comprar raspadinhas (risos).
Se escrevesse um livro sobre o norte, que título teria?
“Carago” – é uma palavra bem nortenha que caracteriza as suas gentes e só quem é do norte entende o seu significado.
Não sei como ainda não foi aproveitado mais na televisão ou até mesmo na rádio. É um jovem cheio de talento e de uma humildade como há poucos. Num país normal seria um grande apresentador.