Entrevistas

Anita Guerreiro: “Não tenho medo de morrer”

O seu nome não necessita de apresentações e, aos 81 anos, continua a emocionar-se e a emocionar quem a ouve cantar fado. Nunca se afastou dos palcos ou da profissão. Bebiana Guerreiro Rocha Cardinali é um nome que até pode passar despercebido mas, se lhe dissermos que se trata de Anita Guerreiro, tudo muda. Encontramos a atriz na Casa do Artista, em Lisboa, e confessou-nos que, apesar da sua saúde não “estar muito bem”, continua a trabalhar “três dias por semana” numa casa de fados. “Cantar numa casa de fado não é a mesma coisa do que estar num palco do Coliseu”, já que é necessária “mais cumplicidade e envolvência. E, numa casa de fado, não se canta com microfone e, só por isso, já é diferente”. O certo é que, ao recordar os anos de profissão, não fica indiferente e não esconde a emoção. “Da minha vida artística não tenho nada a assinalar como mais negativo, só tenho coisas boas. Ao fim destes anos, continuo a ser acarinhada e respeitada”.
Anita diz que para tudo é necessário ter sorte e recordou o fado que cantou aos 17, o da «Ti Anica», um fado dedicado aos soldados portugueses. “Eu fui conhecida na província toda e, ainda hoje, me reconhecem por este número que foi feito e dedicado aos soldados que estavam na Índia”. Em Dezembro de 1952, Anita concorre ao «Tribunal da Canção», um passatempo radiofónico do «Comboio das Seis e Meia», um “verdadeiro sucesso na altura”, explicou.
A intérprete de «Cheira bem, Cheira a Lisboa» garante que o “cheiro” no Porto também é muito agradável. “Sempre me trataram bem nesta cidade, que é linda, e o meu carinho pela Invicta e pelas pessoas é muito grande. O público é diferente e quando gosta é para sempre, são carinhosas e eu sou a pessoa indicada para dizer isso, porque fui trabalhar para o Teatro Sá da Bandeira muito nova e tive ali muitos êxitos”. Anita ficou desempregada durante vários anos, foi viver para a América e trabalhou como mulher-a-dias. “Nunca tive vergonha de o dizer, pois para mim era um trabalho, e isso é que valia”.
Filha de uma alentejana e de um minhoto, acha que herdou muito dos dois, “principalmente, dos valores que nos incutiram desde sempre”. Garantiu-nos que a vida é uma passagem e, por isso, “não tenho medo de morrer. A vida para mim é o dia-a-dia e não me faz diferença partir”, manifestando o desejo de ser cremada. Recordou ainda a primeira canção que gravou «Lição de Amor». “Foi um êxito na altura. Todos cantavam a canção, mas eram tempos diferentes. Tudo isto antes de eu entrar para o teatro”. Anita viajou ainda pelo seu vasto repertório das marchas e fados com que se popularizou no teatro de revista e na televisão. Como atriz, falou-nos ainda de papéis onde participou em diversas telenovelas como Roseira Brava (RTP) e em séries de humor como «A Loja do Camilo”» (SIC) e «Os Batanetes» (TVI).

Foto: DR

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