Aos 71 anos, e com mais de 50 de profissão, o ator e apresentador, “com alma de poeta”, revelou-nos nesta entrevista o carinho que nutre pela cidade invicta, local onde viveu décadas. “Passei muitas temporadas no Porto, sem ir a Lisboa, vivi muitos meses no Porto. Fiz aqui muitos amigos e sempre me senti aqui muito confortável”. Foi desta forma que Vítor de Sousa se manifestou, no início da nossa conversa, em pleno Teatro Sá da Bandeira, local onde esteve com «O Amor Falou Mais Alto», uma divertida comédia que conta a história de quatro personagens e os seus encontros e desencontros amorosos. Um jantar, que inicialmente era só para dois, mas que termina acaba por se transformar numa noite de grandes confusões.
Esta sua ligação ao Porto surge, “e lá vem esta minha mania da poesia”, quando, um dia, conhece Pedro Homem de Mello num consultório de cardiologia. “Lembro-me também de ser sempre muito bem recebido em casa do poeta Eugénio de Andrade, que tinha sempre uma porta aberta para eu tomar sempre um chá com ele”. Recordou também Vasco de Lima Couto, com quem “trabalhei no início da minha carreira, acompanhei-o sempre muito e a última peça que ele fez foi comigo”. E, por mais que as perguntas fugissem ao tema, a poesia surgia quase sempre nas respostas de forma natural.
O seu primeiro contrato de teatro foi feito em 1965, com o mestre Ribeirinho. Antes, recorda que já tinha feito várias representações para a RTP, mas assegura que a poesia sempre esteve ao seu lado no Teatro e recorda-se dos primeiros poemas que disse em público, de Miguel Torga, e um de Fernando Pessoa. “Foi num ginásio do Liceu Camões numa festa de Natal, até tenho fotos disso”. (risos).
Neste momento, Vítor de Sousa não se pode queixar da falta de trabalho. “Temos altos e baixos nesta profissão”. E, além desta comédia, faz ainda várias peregrinações poéticas com Luísa Amaro, “na sua guitarra clássica, um recital com música e palavra, onde nós casamos muito bem, e tenho também lançamentos de livros”, mas confessa que “foi pelo teatro que eu quis vir para esta profissão”.
O ator, assume que a poesia o ensinou a apurar a sua “sensibilidade, a conhecer os seres humanos maravilhosos que são os poetas”.
Com mais de 50 anos de carreira, “quase que me considero um papa poetas e gosto de ler a poesia em voz alta”, pois gosta de “dizer poesia e não de a declamar”. E, foi no Porto, através de palavras do Professor Arnaldo Saraiva, que aprendeu: “se algum dia eu for alguma coisa na poesia, serei um dizedor. Gostei do termo, é português e utilizo-o com muita regularidade”, pois, hoje, caímos muito no erro de “representar o poema”. “Os poemas têm de ser ditos a conversar, como nesta nossa conversa”.
Vítor assume também que teve a sorte de ter trabalhado em programas de televisão ao lado do Herman José ou da Ana Bola. “Tenho aos ombros o bom trabalho feito nesses programas de humor e é muito bom que as pessoas me reconheçam por isso. Não me sinto nada vaidoso, sou simpático e fico muito satisfeito quando me reconhecem simplesmente pela minha voz”, enfatiza.