Cultura
CIAJG é pelo 7º ano consecutivo o ponto de Encontros para Além da História
Evento decorre a 12 e 13 de janeiro em Guimarães
A 12 e 13 de janeiro, o Centro Internacional das Artes José de Guimarães (CIAJG) promove a 7ª edição dos Encontros para Além da História, reunindo um conjunto de autores de várias origens artísticas e campos do conhecimento – e convocando o público, incluindo as famílias – para, a partir do Monumento-Documento Il Grande Cretto de Alberto Burri, em Gibellina Vecchia, dar início a uma reflexão em forma de curadoria-coreografia sob o mote provocador “É preciso incendiar todos os museus!”. Na alvorada de um novo ano, alguns meses depois do incêndio que destruiu totalmente o Museu Nacional do Brasil, no Rio de Janeiro, os Encontros para Além da História propõem pensar o devir do museu enquanto repositório de memória futura.
Os Encontros têm vindo a desconstruir os protocolos e os formatos de instâncias como a conferência ou a exposição, expandindo as possibilidades performativas, poéticas, musicais e políticas do encontro enquanto momento único de partilha, de escuta e de reflexão. Este ano, contam com a presença de Aglaia Konrad, António Fontinha, Eglantina Monteiro, Hugo Canoilas, João Nisa, João Pedro Vaz (narrador), João Sousa Cardoso, SKREI, Tomás Maia, André Maranha e a participação especial do Coro Vilancico, incluindo ainda um Dj Set pelo Instituto Fonográfico Tropical. O programa da presente edição reveste-se assim de várias expressões artísticas ao longo dos dois dias do evento que terá, pela primeira vez, uma versão dedicada às famílias: Mini-Encontros. O fim de semana dos Encontros para Além da História coincide com os Dias Abertos no Museu, uma oportunidade para visitas gratuitas às atuais exposições do CIAJG – Desenho sem fim de Rui Chafes, Constelação Cutileiro e José de Guimarães / Da dobra e do corte – e da Casa da Memória de Guimarães (CDMG).
Nuno Faria, diretor artístico do CIAJG e curador dos Encontros, acende o rastilho desta edição com a afirmação É preciso incendiar todos os museus!: “Tanta violência exercida nos museus, tantos objetos que pedem para não estar ali, arrancados à escuridão e devolvidos à luz, a uma nova condição, a um contexto outro. Les statues meurent aussi… Contudo, continuo a acreditar nos museus como lugares de exercício cívico porque delegam no espetador a sua implausibilidade, conferem-lhe o poder de escolher, de recusar, de criticar, ajudam-no a constituir-se como ser humano no fluxo por vezes incongruente, outras exuberante, da política e da poética da nossa existência.”.
É espantoso, misterioso e até irónico que o único objeto que sobreviveu ao incêndio no Museu Nacional do Brasil, no Rio de Janeiro, seja um objeto extraterrestre — o chamado meteorito do Bendegó, que vindo do espaço e entrado na atmosfera terrestre em chamas aterrou nas águas do Rio Bendegó, no Sertão, no Estado da Bahia. Será em torno deste acontecimento que esta edição dos Encontros se articulará — diálogos e cruzamentos entre forças vindas de vários tempos e vários lugares.
Desde 2017 que os Encontros Para Além da História se vêm configurando como um desenho cénico realizado no ar — curadorias-coreografias no limiar entre a cultura material e imaterial, entre o corpo, a palavra e a obra enquanto objeto. Esta é já a terceira edição em que o programa assume este formato, decorrendo na Black Box do CIAJG com a duração aproximada de quatro horas, com intervalo. O espaço-tempo é este: 12 de janeiro, a partir das 15h00, no CIAJG, em Guimarães — e ainda, em visita imaginária, Gibellina (Sicília), Rio de Janeiro (Brasil), a cidade de Colónia (Alemanha), a Floresta Amazónia (Brasil), a gruta de Blombos (sul da África do Sul) há 73.000 anos, o nordeste de Angola na década de 1960, a Capela Sistina (Vaticano) em 1630. Aquilo que acontecerá poderá apenas prolongar-se pela memória reencenada daqueles que marcarem presença neste momento, com a garantia de que as interferências que aqui se proporcionarem não voltam a repetir-se.
Esta Curadoria-Coreografia junta em Guimarães personalidades com várias origens artísticas como Aglaia Konrad (projeção), António Fontinha (performance/narração), Eglantina Monteiro (leitura), Hugo Canoilas (performance), João Nisa (projeção), João Pedro Vaz (voz-off), João Sousa Cardoso (leitura), SKREI (instalação), Tomás Maia e André Maranha (instalação) e a participação especial do Coro Vilancico. No mesmo dia, a partir das 22h00, o Instituto Fonográfico Tropical cria um ambiente sonoro que convida à visita das exposições do CIAJG num formato mais informal imbuído de festa com um Dj Set. O Instituto Fonográfico Tropical é uma coleção crescente de discos de vinil que afloram um contorcionismo musical entre duas vogais, do semba para o samba, passando a jusante de uma tranche de cúmbias, coladeras, soukous, e o diabo em saiotes com palmeiras.
Foto: DR