10@norte

10@norte com José Raposo

Não consegue escolher um prato favorito, gosta de todos, nem nenhum lugar, porque aquilo que mais gosta são mesmo as pessoas do norte. Gostava de levar Rui Moreira a jantar e ainda se lembra da sua estreia no Teatro Sá da Bandeira, há 37 anos, quando acabou por ficar preso lá dentro e passar lá a noite. O ator José Raposo é apaixonado pela Ribeira, pelo Palácio da Bolsa e pela arquitetura de uma cidade que, diz, nos “desnorteia”.

O melhor refúgio do norte?
O norte tem imensos refúgios e não é fácil escolher apenas um. Prefiro destacar o grande calor humano de toda a região que se estende a todos os refúgios.

A melhor frase que ouviu?
Ui tantas! E para responder à sua pergunta vou ter mesmo que dizer um palavrão (risos). Mas aqui vai: “A menina é uma rosa Fod…!!”

A melhor figura desta região do país?
Vou destacar o António Pedro porque foi na verdade muito mais do que um homem de teatro, cujo seu nome está indelevelmente ligado ao TEP-Teatro Experimental do Porto. O António que faleceu em 1966 foi ainda um grande poeta, romancista, novelista, um pintor, escultor, ceramista, um forte
crítico de arte, jornalista, criador da primeira galeria de arte comercial e introdutor do dimensionismo e do surrealismo em Portugal. Destacou-se ainda por ser um criador de jornais, revistas e de programas de televisão, polemista, pedagogo e dramaturgo. Mas na verdade o seu grande amor foi sempre o Teatro.

A música que representa o norte?
São tantas as músicas, mas vou escolher o Rui Veloso e a canção Porto sentido. “Quem vem e atravessa o rio junto à Serra do Pilar vê um velho casario que se estende até ao mar quem te vê ao vir da ponte…” Está tudo dito.

O melhor espetáculo que viu no norte?
Vi vários no Teatro São João, na Seiva Trupe, companhia de teatro do Porto, no Teatro Sá da Bandeira…Vou destacar um Cálice de Porto de Benjamim Veludo, Manuel Dias e Norberto Barroca. Tratou-se da peça que mais sucesso fez na Seiva Trupe, estreou-se em 1982 e manteve-se dois
anos em cena.

Com que figura nortenha gostava de jantar?
Gostava muito de jantar com o Presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, para propor uma maior circulação de géneros de Teatro pela cidade do Porto. Gostava ainda de lhe propor independentemente de ter sido vendido ou não a colaboração na ajuda da recuperação do Teatro Sá
da Bandeira. Trata-se de um Teatro histórico, maravilhoso por onde passaram os maiores nomes do Teatro português.

O melhor prato?
Ui! Tudo. Não vou escolher nenhum – risos. Aqui tudo é uma perdição.

O monumento mais interessante?
O Porto é lindíssimo. Esta cidade está cheia de monumentos maravilhosos até os próprios edifícios do centro do Porto, da Ribeira se destacam pela sua arquitetura. Mas respondendo à pergunta existe um que me fascina sempre que por lá passo. O Palácio da Bolsa. É para mim um dos monumentos históricos mais importantes desta cidade e lugar de visita obrigatória. Mas não é fácil destacar um edifício.

Um episódio caricato que viveu nessa região?
Ui! Essa é fácil (risos). Eu fiz a minha estreia no Teatro Sá da Bandeira em 1982 com a peça Processo de Jesus. Viemos para cá de véspera e ensaiamos tarde e noite porque era para estrear no dia a seguir. Eu não conhecia nessa altura o Porto, viemos diretos para o teatro e nem conhecia o Teatro. Quando apagaram as luzes no final do ensaio geral eu fiquei fechado nos camarins esqueceram-se de mim porque eu ainda hoje ando sempre atrasado. Quando dou conta já não estava lá ninguém. Passei um frio terrível porque era inverno, andei por ali às escuras a cair pelo palco fora até que decidi tentar dormir em plena sala do Teatro (risos). No dia seguinte tentei sair pela porta dos artistas e nessa altura vem a Aurorinha que era uma costureira com cerca de 80 anos
muito engraçada que me diz: O que é que andas aí a fazer seu grande Car…!
(risos). Esta foi na verdade a minha grande estreia que considero mesmo tripeira e fabulosa.

Se escrevesse um livro sobre o norte que título teria?
O norte desnorteia-nos.

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