Entrevistas
Ana: “Sei bem qual é o lugar que ocupo na música”
Ana tem estado a celebrar 40 anos de carreira, sem saudosismos em relação ao passado, desde que lançou, em Outubro de 1980, o seu primeiro single, “Sonha Comigo”.
Em datas redondas, como esta, “sei bem o lugar que ocupo na música” e lembra o início da sua carreira com uma canção de Chico Buarque, quando tinha 14 anos. Mais tarde, fez parte de uma banda. Realizando esse percurso experimental, e já com 24 anos, levou, por acaso, uma maqueta ao radialista António Sala. A partir daí surgiram os êxitos que ainda hoje perduram na música portuguesa. Anabela Alves, mais conhecida por Ana, recorda que são anos de uma “longa caminhada de muitas histórias, emoções e de muito respeito pelo público, que sempre me acompanhou e me respeitou”.
Os anos passam e as memórias ficam. E, nestes 40 anos, recorda o amigo e colega Carlos Paião, que ao longo dos anos a incentivou para uma carreira que parece tudo menos fácil. “Devo ao meu querido Paião muito da minha carreira. Ele era único. Eu fui a primeira cantora em Portugal a cantar letras suas. Depois seguiram-se outros também conhecidos. Se hoje estivesse vivo, seria provavelmente o maior compositor e autor de música ligeira”, enfatizou.
Os 40 anos vão ser assinalados de várias formas. “Estamos a pensar na realização de um grande espetáculo comemorativo”. O começo destes 40 anos ficam também marcados pela apresentação de um vídeo clip de uma canção, “que estava perdida”, e que faz parte do disco “Revelações”, e que eu sempre achei que a balada “Um segredo que não vi” não se destacou na altura como eu queria por falta de divulgação. E, na verdade, a canção está “agora a ser um sucesso”. Nesta altura, surge também um outro desafio. “Eu e a Ágata achamos por bem fazermos uma homenagem merecida à Cândida Branca Flor, que tanto deu à música portuguesa e que nos deixou há cerca de 20 anos”. Trata-se de um projeto que reúne êxitos da cantora “cantados por nós. Já estamos em estúdio”.
As características da sua voz do seu timbre agudo e ágil não passam despercebidos e quem a conhece reconhece-lhe como um exemplo de “trabalho e de lealdade” no panorama musical português.
Nesta altura da sua vida, destaca algo que considera muito importantes. “É tão bom saber que aquilo que canto atinge sempre as pessoas e que a minha música chega a lugares inimagináveis. É maravilhoso, pois as canções têm essa magia e chegaram sempre a pessoas que eu jamais conhecerei e fui-me apercebendo disso ao longo destes anos. Nós, cantores, temos essa magia”.
Durante a conversa, a artista revelou também a sua reação quando ouviu a sua própria música pela primeira vez no rádio. “Foi uma felicidade indescritível. Acreditei que tínhamos ali uma artista de verdade (risos)”. Ana já perdeu a conta a todas as músicas e discos que gravou, mas “as minhas músicas retratam a minha vida”.
Assume-se uma mulher vaidosa. Gosta de cuidar de si. “Durmo 10 horas, vou ao ginásio com regularidade, gosto de me ver ao espelho e, por isso, recuso-me a envelhecer”. Lamenta que pessoas com cerca de 40 anos se sintam pessoas “velhas e passem a viver só para a família. É um erro”.
Ao longo da conversa, que decorreu no Hotel Holiday Inn Porto Gaia, a cantora não escondeu o orgulho que tem na família, das dificuldades que passou e das suas origens humildes. “Eu sou assim. Esta sou eu. Fui sempre uma lutadora”.
Ana, nasceu numa ambulância, a caminho da Maternidade Alfredo da Costa, com 750 gramas e sete meses de gestação.