Cultura
Guimarães vai ser “invadida” por exposições, espetáculos de teatro e música
No primeiro fim de semana de março, o Centro Internacional das Artes José de Guimarães e a Casa da Memória de Guimarães vão ser habitados por novas exposições, espetáculos de teatro e música, conferências, visitas e oficinas, para todos os públicos, com destaque para as famílias, na manhã de domingo. ‘Museu do Futuro #1’, assim se intitula este programa que se apresenta claramente como um convite aberto à comunidade, de verdadeira fruição dos museus da cidade, e do futuro.
7 e 8 de março serão dias de intensa atividade nos museus mais recentes da cidade de Guimarães: o Centro Internacional das Artes José de Guimarães (CIAJG) e a Casa da Memória (CDMG). Novas exposições, espetáculos, conferências, visitas orientadas e oficinas terão entrada gratuita nos dois espaços culturais vimaranenses que se pretendem dinâmicos, vividos e usufruídos em pleno, por toda a comunidade.
A primeira proposta de sábado, 7 de março, tem a assinatura de Tânia Dinis, criadora que venceu a 2ª Bolsa de Criação do PACT – Plano de Apoio à Criação Territorial, promovido pelo Teatro Oficina. Tânia Dinis apresenta Álbuns da Terra na Casa da Memória, às 11h00 e às 15h00, um projeto sobre intimidade, arquivo de família, documento, relação tempo-imagem-memória, que atravessa diversas perspetivas e campos artísticos, como o da fotografia, o da performance e o do cinema. Através da recolha, investigação e manipulação de fotografias, filmes, cartas e objetos, Tânia Dinis construiu pequenas narrativas, num exercício de confrontação e exploração da imagem como uma experiência da efemeridade do tempo e da memória.
Às 14h00, tem início Atlas Revisitado, uma oficina de imagem e representação, orientada por Melissa Rodrigues, na icónica Sala da Máscaras do Centro Internacional das Artes José de Guimarães. O que as imagens dizem sobre nós? O que podemos compreender do mundo que nos rodeia através de uma fotografia? Como me vejo? Como me represento? Como o que conheço do mundo limita a minha relação com o desconhecido, com aquilo que considero o outro, o estranho? Para responder a estas questões será preciso mergulhar no escuro do museu, observar, pensar imagens, pensar o mundo. Alteridade, dissidência, preconceito e discriminação serão alguns dos conceitos com os quais os participantes vão trabalhar, para coletivamente construírem novas narrativas e outros discursos visuais que contrariem as narrativas hegemónicas e normativas que habitam o nosso imaginário comum.
A partir das 17h00, vamos poder assistir a uma conferência da artista Fernanda Fragateiro que, depois de expor no CIAJG a sua obra “Caixa para Guardar o Vazio”, nos falará agora sobre as matérias, as metodologias e os processos inerentes ao seu trabalho. Operando no campo da tridimensionalidade e desafiando relações de tensão entre a arquitetura e a escultura, a obra de Fernanda Fragateiro potencia relações com o lugar, convocando o espetador para uma posição de performatividade. A sua obra tem sido exposta em diferentes museus e instituições nacionais e internacionais.
No final da tarde de sábado, as atenções viram-se para a Casa da Memória, onde Gil Mac – artista igualmente vencedor da 2ª Bolsa de Criação do PACT – Plano de Apoio à Criação Territorial – apresentará Pátria, uma visita performativa que percorre a Casa da Memória, onde outrora existiu a Fábrica de Plásticos Pátria. A partir das 19h00, quatro performers demiurgos conduzem o público, entre factos e ficções, formas e sabores, numa viagem pelo território e comunidade de Guimarães. Do espírito da matéria à matéria do espírito, explora-se a memória que perdura nos gestos que nos tornam humanos, propondo a encenação sensual de uma investigação etimológica das origens da nacionalidade. Esta deriva parte da perspetiva do racionalismo emocional que caraterizou a modernidade vimaranense do séc. XIX, fruto das descobertas arqueológicas do seu passado ancestral e habitada pela fé positivista no progresso tecnológico, promessa utópica de futuras eras douradas. Um acontecimento único que serve como dispositivo de ativação da exposição Matéria que habitará a Casa do Pátio da CDMG a partir deste fim de semana, ficando patente até 19 de abril.
A noite de sábado será particularmente intensa com a inauguração de Caos e Ritmo, o mais recente ciclo expositivo do Centro Internacional das Artes José de Guimarães, com início às 21h30. Caos e Ritmo desenha um círculo e enuncia um regresso a Para Além da História, exposição que fundou o Centro Internacional das Artes José de Guimarães em 2012. Caos e Ritmo serve de mote para uma reflexão encantada e desencantada, poética e política, sobre o lugar do homem e, em particular, da criação artística num mundo doente e amnésico – uma exposição-estrutura que servirá de lugar para a fundação de discursos, reflexões e práticas transversais às disciplinas, às geografias e às culturas. Em exposição vão estar peças de vários artistas: José de Guimarães, André Príncipe, Mesquitela Lima, Mariana Caló e Francisco Queimadela, Rosa Ramalho, Quintino, Susana Chiocca, Skrei, Agostinho Santos, Hugo Canoilas,
Franklin Vilas Boas, e ainda a Coleção de Arte Popular de Agostinho Santos e as Coleções de Arte Africana, Arte Pré-Colombiana e Arte Antiga Chinesa de José de Guimarães
A noite onde se celebra a abertura de novas exposições no CIAJG terminará, da melhor forma, a partir das 23h00, ao som de Plantasia, de Bruno Pernadas e Moullinex. Composto em 1976 pelo pioneiro da música eletrónica Mort Garson, Plantasia é um disco de culto escrito para plantas e para pessoas que as amam. No final de 2019, a propósito da reedição da Sacred Bones, Bruno Pernadas e Moullinex decidiram revisitar em conjunto o mundo fantástico de Plantasia. Para os dois músicos e compositores, uma coisa é certa: é um disco inigualável cheio de lugares que ainda estão por descobrir. E é essa mesma viagem que se comprometem a fazer, acompanhados por Diogo Sousa (bateria), Guilherme Salgueiro (teclados) e Diogo Duque (trompete). O que vai acontecer promete ficar para história: uma reinterpretação-homenagem sem igual de um disco ao qual não foi dada a atenção devida. Mas vamos sempre a tempo.
A manhã de domingo, 8 de março, é particularmente destinada às famílias. A partir das 10h00, o público é convidado para uma nova sessão da oficina de imagem e representação, Atlas Revisitado, que vai despertar a atenção e a curiosidade de miúdos e graúdos, na fantástica Sala da Máscaras do Centro Internacional das Artes José de Guimarães. Em simultâneo, é também disponibilizada uma visita à Casa da Memória, guiada por Francisco Neves, que despertará novas e diferentes narrativas no encontro com os objetos expostos que contribuem para um melhor conhecimento da cultura, território e história de Guimarães.
Às 11h00 segue-se a oportunidade de conhecer, mais profundamente, o recém-inaugurado ciclo expositivo do CIAJG, Caos e Ritmo, através de uma visita orientada por Rita Senra. Reunindo peças de diferentes épocas, lugares e contextos, lado a lado com obras de artistas contemporâneos, o CIAJG propõe nesta visita orientada uma releitura da história da arte e um novo desígnio para o museu, enquanto lugar para o espanto e a reflexão.
A 1ª edição do ‘Museu do Futuro’ termina com uma oficina de reciclagem de plástico, da responsabilidade da Precious Plastic, uma comunidade global de centenas de pessoas que se dedicam a arranjar soluções para combater a poluição causada pelo plástico. Com a equipa Precious Plastic Portugal, os participantes ficarão a conhecer este projeto global e o substrato a que se dedica – o plástico e as suas várias formas de transformação, com recurso às máquinas criadas por Dave Hakkens. A seguir, as famílias poderão experimentar o círculo completo do plástico com origem no “lixo” até se transformar numa peça nova, para a criação de objetos.
Todas as atividades terão entrada gratuita, até ao limite da lotação disponível.
Foto: Paulo Pacheco