
Escreveu um dia o uruguaio Eduardo Galeano num dos seus muitos pensamentos…
Na parede de um café em Madrid um cartaz avisa: proibido cantar. Na parede do aeroporto do Rio de Janeiro um aviso informa: é proibido brincar com os carrinhos porta bagagem . Ou seja ainda existe gente que canta, ainda existe gente que brinca.
Na quadra natalícia qualquer um de nós poderia dizer que também ainda existe gente que celebra o nascimento do Menino Jesus, que vai à missa do galo e gente que coloca a parte religiosa da festividade em primeiro plano. Afinal o Natal é muito importante para o mundo católico. Talvez o mais importante em todo o calendário anual e por isso prossegue o ritual do presépio que reedita de várias formas como Cristo veio à Terra.
O problema é que cada vez mais aquilo que devia ser substância está a transformar-se em momento pagão consumista , despido da solenidade exigida, da reflexão, da partilha de valores como amor, amizade, solidariedade. O que se vê é a vertigem das compras e dos presentes , da comida e bebida em excesso , da deturpação do significado do nascimento do Salvador numa simples manjedoura, protegido pelo bafo de animais. O comportamento social nesta época está a ir em sentido contrário. Prefere a opulência e beneficia de uma Igreja Católica sem comunicação cada vez mais preocupada em limpar a mácula que alguns lhe vão criando com comportamentos desviantes.
São poucos, muito poucos os que explicam aos miúdos de hoje o significado de se dar um presente no Natal. Que mais não é que um simbolismo em relação aos três Reis Magos Belchior, Baltazar e Gaspar. Se a explicação não for continuada esvazia-se o significado natalício. E as igrejas vão despir-se ainda mais. E o nosso credo enfraquecido.
O Natal vira como já está unicamente em reencontro de famílias e amigos para um bom convívio sendo que a expressão ” o natal é quando um homem quiser” se aplica na perfeição. Se é para ser assim as comezainas e a troca de presentes pode acontecer em qualquer altura. Já o nascimento do Menino não. Como o nascimento de qualquer um nós. É sempre o inicio. O ponto de partida. Daí o nome Natal.
Que devia ser repensado. Só que não existe tempo neste tempo. É tudo a correr. Ajeitado em função das nossas necessidades. Como o que se coloca na chaminé. Um verdadeiro reino de laços e papel de embrulho. Raramente é surpresa.
Hoje já toda a gente sabe o que vai receber antecipadamente. Umas peúgas, o inevitável pijama, o after shave, ou o super herói do momento em formato de robot a pilhas. Com ou sem carta escrita ao Pai Natal.
Eu consumista me confesso. Tem sido assim mas neste Natal estou seriamente a pensar em algo diferente e que vem dos ensinamentos de Belém. Se a minha noiva me perguntar o que vou querer talvez me decida por…um beijo.
Fernando Eurico