Entrevistas

Rui Unas: “O Porto é uma cidade que me traz sempre boas recordações”

Está de passagem, com a peça “Trair e Coçar é só começar”, pelo Teatro Sá da Bandeira, no Porto, até 19 de fevereiro. Rui Unas reconhece que este sucesso de bilheteira é para si “um desafio e uma honra”, principalmente por integrar o elenco ao lado de José Raposo, ou Carlos Areia, numa divertida comédia da autoria de Marcos Caruso, com encenação de Miguel Thiré, e adaptação de Nuno Markl. A sua estreia, enquanto ator, surgiu em março de 2006, no fenómeno Floribella, quando tinha 32 anos. Além de apresentador, produtor, e autor, Unas tem vários projetos profissionais em simultâneo, e garante que o Porto é uma cidade que lhe traz “sempre” boas recordações.

Agência de informação Norte – Integra o elenco de uma peça que, desde a sua estreia, tem arrancado mutas gargalhadas em plateias sempre cheias. Dá vida ao Eduardo. De que forma se adaptou e estudou a personagem deste médico em “Trair e Coçar é só Começar”?
Rui Unas
– Uma comédia desta natureza tem apenas como intuito entreter e divertir. Não há muito espaço para desenvolver uma personagem. O mais importante é encontrar tempos de comédia, o tom da personagem e chegar, em conjunto com o resto do elenco, a uma coerência no ritmo, para que todos estejam na mesma história.

O Eduardo entra em palco e nunca o abandona. É uma personagem sempre presente. De que forma estudou esta figura?
Como disse, não há muita justificativa para um estudo muito elaborado ou anterior. A personagem foi estudada em ensaio, onde, justamente se ensaiam diferentes registos de voz, de energia… a personalidade do Eduardo é revelada ao longo da peça na dinâmica da história e no relacionamento com as outras personagens.

Estamos a falar de um texto do Marcos Caruso, escrito há mais de 30 anos, e que foi um verdadeiro êxito no Brasil. Acreditou sempre na continuidade desse mesmo sucesso em Portugal?
Estávamos todos cientes que a peça já tinha provas dadas. Que sobreviveu a várias décadas e a vários elencos. Ou seja, a matéria original, o texto, dá-nos garantias de sucesso. Mas nada é garantido, sobretudo na arte, onde há outras variáveis.

Mas foi um texto adaptado à realidade portuguesa?
O Nuno Markl fez a adaptação do texto para a realidade portuguesa, e nós próprios, já em ensaios, fomos incluindo, de forma voluntária ou involuntária, alguma “portugalidade”.

A peça integra três casais, uma empregada e um padre. Ao todo nove pessoas em palco, e tudo acontece num prédio. A Palmira é uma empregada ingénua, mas que arranja sempre muitas confusões…
É ingénua e vê-se envolvida numa tremenda confusão por ela própria, criada com a melhor das intenções. Ou melhor, ela quer ajudar os patrões, mas
enreda-se na sua cobiça ingénua de ganhar um pouco mais de dinheiro… à medida que as confusões aumentam, ela vai perdendo as estribeiras, e os seus esquemas tornam-se cada vez mais surreais…

Integrar este elenco é para si uma honra ou, principalmente, um desafio?
É sempre um desafio e uma honra. O desafio de fazer bem, de criar uma personagem credível, divertida, de jogar com os colegas esta coisa tão bonita de “fazer de conta”, e honrar o privilégio que é estar em cima do palco e contar uma história que, durante duas horas, leva centenas de pessoas a outro lugar, tempo e realidade.

Aquilo que verificamos é que os atores estão muito afinados e até sabem qual vai ser a reação do público em determinada situação. A cumplicidade entre o elenco é também um dos segredos desta peça?
Em comédia, o público é sempre um outro ator. Porque atua connosco. Ele determina os tempos, o ritmo, influencia a nossa energia e resposta. Todas as noites é um ator novo que recebemos e que integramos na nossa narrativa. Por isso, batemos palmas ao nosso público.

“Creio que sempre fui ator, mesmo quando comecei como apresentador”

Do “Alta Voltagem” a “Maluco Beleza” vão 27 anos. Juntamos ainda a vertente de apresentador, produtor, ator e autor. Onde se sente mais confortável?
Atualmente, como ator. Creio que sempre fui ator, mesmo quando comecei como apresentador, há 27 anos, no “Alta Voltagem”, incarnava uma personagem. Felizmente com o tempo, fui ganhando mais maturidade e confiança para ser “eu” como entertainer e, paralelamente, fui ganhando competências para ser ator em personagens de ficção.

Algum destes programas estaria atualizado para a televisão dos dias de hoje?
Acho que qualquer programa que fiz, desde o “Alta Voltagem”, “Sub 26”, “3000 segundos”, “Curto Circuito” (que ainda existe), “Cabaret da Coxa”… poderiam existir, mas numa versão que contemplasse o digital. Eram programas, à falta de outra palavra, “modernos” e, hoje em dia, a vertente digital, das redes sociais é obrigatória porque é lá que está o público-alvo para estes conteúdos.

A sua boa disposição é conhecida por todos. Segundo muitos atores, fazer rir é uma das tarefas mais difíceis. Partilha dessa opinião?
Há muitas formas de fazer rir. Há quem tenha o dom da expressividade física, outro da resposta rápida, do trocadilho. Há quem faça caretas, outros escrevem muito bem piadas. Há quem seja bom a contar anedotas e não saiba fazer
teatro cómico. Quando se tem sentido de humor, e todas as pessoas o têm, podem fazer rir outras pessoas. Agora, há pessoas que o têm muito apurado, porque “nasceram” assim ou o foram apurando pelas circunstâncias da sua vida.
A sua estreia, enquanto ator, surgiu em março de 2006, no fenómeno Floribella. Que Unas era este naquela altura?
Tenho de fazer contas. Tinha 32 anos. Não sabia muito bem o que queria fazer da vida… ainda hoje não sei (risos).

Ao fim de todos estes anos, ainda se sente inseguro quando o assunto é novos projetos?
Sim. Cada vez menos, mas há sempre o “síndrome do impostor”.

Como lida com o improviso?
Não sou muito fã. Ao contrário do que se possa pensar, gosto de ter tudo controlado.

Aos 48 anos, considera que vive uma fase feliz da sua vida profissional?
Este mês de fevereiro é muito atípico porque estou a acumular muita coisa. A peça no Porto, as gravações da novela, o Maluco Beleza e o Vale Tudo. É sobretudo uma fase muito exigente, em termos de disponibilidade.

Qual é ligação que o Rui tem com a cidade do Porto?
Nenhuma em particular. Não tenho ligações familiares, nunca estudei nem vivi no Porto. Agora, o Porto é uma cidade que traz-me sempre boas recordações porque sempre fui bem recebido aqui, comi e bebi bem… E há uma forma de estar na vida que, de resto, é partilhada com todas as gentes do Norte.

O que mais o apaixona nesta região?
É difícil explicar o encanto. Dizer que é a comida, as paisagens, a abertura e sinceridade das pessoas do norte é ser muito redutor… o norte, de facto, é um Portugal com uma mística diferente… Assim como é o Alentejo, ou o Algarve…

O que ouviu de mais engraçado no Porto?
Seguramente, muitas coisas, mas não me lembro de nada.

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