Espetáculos Nacionais
Na Páscoa de Pindelo dos Milagres também o heavy metal ressuscita
É um dos segredos mal guardados de Pindelo dos Milagres, no concelho de S. Pedro do Sul: por altura da Páscoa, a aldeia acolhe o festival “Ressurreição do Metal”, que leva ao povoado várias bandas de heavy metal para dois dias de concertos. O evento é promovido pela associação local “Milagre Metaleiro”, que para a edição indoors de 2023 escolheu 15 bandas portuguesas e espanholas, e ainda prepara excursões a partir de Lisboa, Coimbra e Leiria, facilitando assim o acesso à pacata aldeia do distrito de Viseu. Normalmente, só lá vivem umas 600 pessoas; em dias de Páscoa, rock e metal, contudo, a população passa para mais do dobro.
30 de março 2023

Pindelo dos Milagres é uma pequena aldeia de S. Pedro do Sul, que, no distrito de Viseu, se mantém despojada no seu urbanismo, pacata no ritmo e com uma vivência de ruralidade marcada pela produção agrícola e pela panificação. A genuinidade do povoado garantiu-lhe a recente classificação como Aldeia de Portugal e para isso também contribuiu a dinâmica da comunidade, no que o exemplo mais expressivo é um evento que, fugindo ao que seria convencional num meio tão rural, acabou por se transformar numa tradição da terra: o festival de heavy metal “Ressurreição do Metal”, que em cada Páscoa atrai ao lugar centenas de forasteiros para vários concertos nos domínios mais pesados do rock. A aldeia tem outro festival idêntico no Verão, mas a vertente indoors, em recinto coberto, começa já no dia 07 de abril e, até ao final do dia 08, terá em cartaz 15 bandas portuguesas e espanholas. Motas, casacos de cabedal preto, longas cabeleireiras e barbas, maquilhagem carregada e adereços góticos vão animar a aldeia por esses dias e os habitantes do povoado já começaram a antecipar a chegada dos seus “metaleiros”, ajudando na adaptação logística do pavilhão que acolhe os concertos, antecipando as refeições a servir aos visitantes e libertando a agenda não só para a música, mas também para o convívio na esplanada local, na soleira da porta, nas escadas da rua e onde mais der para beber um copo entre dois dedos de conversas com os forasteiros. “Na primeira edição, em 2008, toda a gente da aldeia estranhou e os habitantes fecharam-se um bocado, mas agora as pessoas ficam mesmo animadas com isto e são elas próprias que fazem questão de vir para as varandas e para o pátio ver os visitantes e falar um bocadinho com eles, porque perceberam que os apreciadores de heavy metal constituem um tipo de público extremamente educado e cívico”, declara Marco do Vale, da associação cultural Milagre Metaleiro, fundadora do festival. Esse convívio entre população e visitantes tornou-se, aliás, um dos principais motivos de atração do festival, já que uns e outros “gostam de contactar com quem vive noutros sítios, de trocar experiências e de conhecer outros hábitos”, o que resulta “numa simbiose cultural que ultrapassa a questão do heavy metal e da música”.
A moradores e visitantes juntam-se ainda os migrantes, já que mesmo quem é de Pindelo e foi viver para o estrangeiro ou para outras localidades portuguesas “costuma voltar à terra por altura do festival, por saber que a aldeia vive estes dias de uma forma extraordinária”. Muito valorizado pelas famílias locais, esse regresso acaba assim com conferir ao evento uma carga emocional própria, que, por sua vez, conduz a particular esmero num domínio do património cultural particularmente revelador dos estados de alma: a gastronomia. “Instalamos uma cozinha ao lado do pavilhão e servimos pratos como rancho beirão e feijoada de carnes, sem esquecer o bacalhau, porque o primeiro dia do festival é na Sexta-Feira Santa, em que os católicos fazem jejum”, revela Marco do Vale. A rematar o repasto há sempre “a especialidade local que é o pindelinho, que faz lembrar um pastel de feijão, mas é feito com amêndoa”.