Sociedade

Feira: Duas horas e meia para caracterizar Cristo na Semana Santa

A 26ª edição da Semana Santa de Santa Maria da Feira apresenta-se mais alargada no tempo e no espaço e com mais atividades, congregando 35 iniciativas. São necessárias duas horas e meia para caracterizar Cristo.

Jesus é quem lhe toma mais tempo. “Para ficar uma caracterização bem feita, com o máximo de realismo nas feridas e nas marcas das chicotadas, preciso de cerca de duas horas e meia”, explica Salomé, revelando em “off” algumas das técnicas e segredos que fazem a magia acontecer durante as recriações da Semana Santa, sobretudo na Via Sacra.
É a primeira vez em 26 anos que não participa como atriz nas recriações da Semana Santa. Salomé Sousa optou por dedicar-se em pleno à caracterização dos atores e ao guarda-roupa do evento, que lhe exigem total entrega.
Bastaram poucos minutos de conversa para percebermos que é amor o que sente pela Semana Santa e pelo Grupo Gólgota, que integrou em 1997. Amor sobretudo pelas pessoas que dele fazem parte e que considera família. A área da caracterização é um gosto pessoal, que nasceu dos primeiros ensinamentos transmitidos por Fernanda Rocha – a dona Fernandinha – numa altura em que “era tudo tão diferente”.
Já lá vão muito anos, mas Salomé recorda-se bem de caracterizar o primeiro Cristo do evento.
O tempo foi passando e foi aprimorando a arte de forma autodidata – errando, pesquisando, seguindo dicas e tutoriais, corrigindo, persistindo.
Jesus é quem lhe toma mais tempo. “Para ficar uma caracterização bem feita, com o máximo de realismo nas feridas e nas marcas das chicotadas, preciso de cerca de duas horas e meia”, explica Salomé, revelando em “off” algumas das técnicas e segredos que fazem a magia acontecer durante as recriações da Semana Santa, sobretudo na Via Sacra.
Além de Cristo, há outras personagens que requerem rigor e um cuidado especial na caracterização e guarda-roupa, pelo seu simbolismo ou imponência. É o caso Maria, de Anás e Caifás ou da mulher de Pilatos. É preciso torná-las mais velhas, com um ar carregado e triste, ou altivas e poderosas, bem cuidadas e vistosas, dependendo do papel que representam.
Rigor é também o que Salomé procura na organização de um guarda-roupa em constante crescimento, com cerca de 400 peças de vestuário e acessórios que o Grupo Gólgota utiliza ao longo de todo ano, seja nos espetáculos de palco, seja nas recriações de rua.
Aqui o trabalho faz-se em equipa e envolve várias pessoas, mas a responsabilidade do espaço é partilhada com a colega Otília Gouveia, preservando-se os primeiros ensinamentos da saudosa Fátima Magalhães.
O rigor do guarda-roupa aplica-se no que se mostra por fora, mas também no que se veste dentro. Porque há cenas que assim o exigem e imprevistos que acontecem. Tantos imprevistos!

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