Espetáculos Nacionais

Primavera Sound Porto: Linguarejo refinado e elegância britânica em noite revivalista

Em dia e noite de tréguas de São Pedro, o Primavera Sound despiu-se das capas da chuva para assumir uma indumentária futurista, ao som dos Pet Shop Boys, e do branco celestial, cor da luz e de céu rasgado, também refletida na roupa de Manuela Azevedo e Bruno Nogueira, na revisitação do divertido espetáculo “Deixem o Pimba em Paz”.

O dress code é mero adereço quando tudo o resto fala por si. A opção pelo branco, símbolo de luminosidade, espiritualidade e paz até poderia sugerir que não combina com um alinhamento no qual figuram as mais lendárias canções pimba do epectro musical português. Mas o humorista Bruno Nogueira e a cantora Manuela Azevedo desconstroem o estigma de que popularucho é sinónimo de falta de falta de qualidade, no espetáculo “Deixem o Pimba em Paz” que abriu o terceiro dia do festival Primavera Sound.

Vestidos de banco, ele com calça, fato e camisa dessa cor, ela de blazer branco, esta dupla que já correu o país com essa revisitação de temas que vão de Quim Barreiros a Ágata, embrulhados numa nova roupagem sonora, arrancaram, ao final da tarde, os primeiros aplausos do dia e as primeiras gargalhadas de uma plateia reduzida, mas que cresceu ao longo da noite, voltando a encher o recinto do Parque da Cidade do Porto. Bem dispostos, enérgicos, num despique físico e vocal, Bruno e Manuela provaram, mais uma vez, que o linguarejo vernáculo de canções pimba que estão no ouvido de meio mundo tornam-se refinadas e verdadeiros hinos de intelectualidade quando tocadas e cantadas da forma como o fazem, numa brancura de cumplicidade e amor ao que se faz.

Com esta abertura de festa, estava dado o mote para um dos concertos que terminou a terceira noite de atuações. Ouvem-se os primeiros acordes da marcha nupcial e antevê-se que o espetáculo dos britânicos Pet Shop Boys iria ser uma declaração de amor à música, às pessoas e ao mundo onde elas habitam.

Neil Tennant e Chris Lowe surgem no palco também de branco, com fatos brancos futuristas, iluminados por dois raios de luz branca, projetada por dois candeeiros por cima das suas cabeças e acompanhados de efeitos luminosos e visuais intensos, projetados sobre o palco. Abrem as hostes com “Suburbia”, porque o mundo pode ser um qualquer subúrbio de cor, de luz e de sonho, como aquele que o vocalista assumiu querer transformar esta noite.

E fê-lo. Fez o público reviver os anos 80 e todos os hits que catapultaram esta banda britânica de pop eletrónico para as bocas do mundo. Entre os incontornáveis “Always on my mind”, “Go West”, “It´s a Sin”, “West End Girls” e tantos outros sucessos do grupo, ouviu-se também uma versão de “Where the streets have no name”, dos U2, numa sofisticação revivalista que superou as expetativas de quem pudesse achar que “grupos jurássicos” não conseguem surpreender em palco.

Nesta declaração de amor à música, às pessoas e ao mundo, os Pet Shop Boys recordaram também o povo ucraniano e a decapitação dos seus sonhos, exibindo a imagem da bandeira da Ucrânia no projetor de vídeo, antes do arranque do concerto e dos acordes da marcha nupcial que podemos interpretar como a esperança de que, algum dia, seja desatado o nó da guerra.

O Primavera Sound termina hoje e os cabeças de cartaz são o grupo de rock alternativo Blur.

 

 

 

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