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Teatro Campo Alegre: Aposta na [Mostra] Estufa ‘dá frutos’ com boa colheita de circo contemporâneo

Há uma Erva Daninha que teima em medrar artisticamente numa ‘[Mostra] Estufa’ que vive no seio do universo do circo contemporâneo. Tem sido assim ao longo dos anos, numa afirmação identitária paulatina cujo cunho, a chancela, e o valor simbólico vivem da conjugação de esforços entre esta estrutura associada à promoção e à dinâmica do circo e o Teatro Municipal do Porto. Esta edição da Mostra Estufa prepara-se para apresentar e acolher um vértice de propostas diferenciadas, mas que ainda assim possuem plenas afinidades no plano do labor artístico à volta da acrobacia: no trapézio, na corda e em cruzamento com a dança. Acrobacia aérea, dança acrobática e trapézio. A trilogia de sugestões será apresentada no Teatro do Campo Alegre, no Porto, nos próximos dias 24 e 25 de novembro (às 21h30 no dia 24, sexta, e às 19h30 no dia 25, sábado).

Será de sublinhar que o desígnio subjacente à Mostra Estufa, o conceito que lhe é inerente, passa por traduzir, por via de um espaço de experimentação criativa, toda a capacidade existente em artistas, mais ou menos emergentes, mas que tenham atingido um índice qualitativo e de exigência na demonstração de resultados em palco: em que o nível do trabalho atingido seja de um teor já muito apreciável, por forma a ser desfrutado pelo(s) público(s). Tudo isto consagra a Mostra Estufa como um espaço-embrião de criação e experimentação artística dos novos valores existentes no setor, privilegiando os artistas nacionais, sem negligenciar a missão de montra/mostra também no plano internacional, que serve de filosofia ao processo e à iniciativa em si mesma enquanto evento artístico-cultural.

No âmbito desta génese de circularidade programática, do tipo bloco sequencial, movendo-se portanto os espectadores de uma peça para a outra, vai ser possível ver “Blue”, de Margarida Monteny, um trabalho que defende e explora um projeto de acrobacia aérea e que no caso deste conteúdo temático faz uma abordagem reflexiva sobre tópicos dúplices como o afeto e o atrito, íntimo e público, solo e coletivo. A acrobata algarvia, radicada no Porto, constrói, no decurso daquilo que é caraterizado por uma ‘performance intimista’, um conjunto de paisagens efémeras, frágeis e voláteis que constituem uma espécie de teste de durabilidade, tensão e resistência aos quatros corpos que se dispõem em cena. Para além de Margarida Monteny, estarão em palco Catarina Corujeira, Carminda Soares e Mercedes Quijada.

“Pindorama”, que em termos de classificação poderemos denominar como um solo de dança acrobática. O intérprete Victor Abreu, artista brasileiro a viver em Portugal desde 2018, parte, no domínio desta peça performativa, na demanda da sua identidade e origem. Nessa busca, o acrobata desenvolve uma espécie de narrativa fantástica em que uma estética policromática, matizada por sons e danças típicas do Brasil também estarão presentes. A auxiliar a epifania, os elementos da natureza pululam, de igual modo, em cena: como são os casos de troncos de bambu, tocos de árvores, galhos e folhas. Imerso neste ambiente, o personagem convive em relação amigável com o espaço que o envolve e transforma-o de acordo com a sua folia. O seu corpo resgata uma fusão com o imaginário exótico de lendas antigas e seres mitológicos e neste processo faz um doce mergulho nas águas da cultura brasileira.

Por seu turno, “RUT/URA”, de David David, consagra em termos de abordagem temática do espetáculo toda a atenção à problemática das emoções humanas que redundam num processo de sabotagem e degeneram em autodestruição. A anatomia humana é testada à enésima nesta peça que resulta de uma pesquisa criativa sobre a exaustão e os limites da arquitetura do corpo humano. Essas emoções versadas feita matéria sensorial serão incorporadas na relação que se estabelece entre o corpo do intérprete e um trapézio metálico.

 

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