Entrevistas

Bruna Alvim: “Portugal me chamou para seguir a história da minha ascendência”

Bruna Alvim é a protagonista da nova novela da TVI “Cacau”. Diz que ser “Chiquinha” nesta novela portuguesa foi o maior presente que a vida podia ter dado, à atriz Brasileira. É no nosso País que Bruna quer ganhar o reconhecimento do Público. Nelson Rodrigues foi o seu grade mestre de Teatro. O México e a Índia, dois países do baú dos tesouros. Conheça esta mulher que chegou para vencer.

Agência de Informação Norte – Esta novela em Portugal, mostra uma mulher/mãe com coragem de começar do zero para proteger o maior tesouro, uma filha. Como foi construir e dar vida a esta protagonista?
Bruna Alvim – Chiquinha foi meu maior presente como atriz, por ter uma intensidade de vida que conseguiu ser maior que a minha, que já é imensa. No início, eu não sabia a trajetória dela, então a cada cena que recebia percebia que teria de mergulhar ainda mais profundamente na dor que tantas mulheres passam.
Neste processo, ter tido as formações em Gineterapia e Ginecologia Natural já tinha me trazido o contacto com dores profundas do feminino, e isso também me ajudou na construção das cenas.
Tive um processo interno de volta às dores das minhas mulheres ancestrais. Acessava o que elas passaram, tentava entender o tamanho dessa dor delas.
Ter a cara deformada em cena automaticamente também mexia com todo o meu padrão de beleza, construído por uma carreira como modelo, e que comecei a desconstruir com a retirada do meu silicone dos seios. Olhava pra mim no espelho com a cara descontraída e já queria chorar.

O elenco tem nomes sonantes da representação em Portugal. E é gravada em dois mundos que também são os seus, Brasil e Portugal. O que representa para si esta possibilidade?
Eu sou imensamente grata a ela. Eu vim a Portugal acreditando que era meu caminho e ter essa possibilidade logo no início confirmou a ligação que tenho com essa terra. É um enorme prazer fazer parte de uma novela que juntou perfeitamente esses dois mundos como hoje acontece na vida real em Portugal.

Como é a doce professora Chiquinha? E o que podemos esperar dela?
Chiquinha é doce, mas a sua força é gigante. Teve tudo retirado dela, e mesmo assim seguiu adiante e se reconstruiu, mesmo despedaçada. É uma personagem que fará o público assistir cenas fortíssimas. Quando se pensa que ela já passou tudo de ruim, sempre vem algo novo.

 Bruna, o teatro é a mãe da arte de representar. O mar que você abraça para se encher e dar ao publico. E quando você representa num palco para dar aos outros, às crianças, aos jovens, às mulheres, aos autistas, aos que mais precisam de você, o que sai de dentro de você? O que sente? O concerto azul é um exemplo que me levou a esta questão.
O “Concerto azul” é um projeto idealizado pela minha prima para crianças e jovens autistas. Estar dividindo o palco com eles, trazendo um monólogo que fala sobre o que é ser mãe de um autista, foi extremamente forte pra mim. As vezes não conseguia conter a emoção no texto, porque mexia muito comigo por ser uma mulher que se sensibiliza com a dor de outras.
O palco é divino. Colocar no palco um propósito de mudar o mundo é mais divino ainda.

Quem são as suas referências no Teatro?
Nelson Rodrigues foi minha grande paixão como autor durante minha formação como atriz.
O dia que subi num palco interpretando uma protagonista de uma das obras deles foi a realização de um sonho.

Agora e para finalizar vamos fazer uma viagem ao México e trouxe na sua mala emocional de lá?
México foi o lugar que me realizei muito como modelo e atriz. Sempre trabalhei muito lá e por isso acabei vivendo em três fases diferentes na Cidade do México.
Alguns momentos achei que passaria minha vida lá. Um deles inclusive quando vivia com um grande amor que ficou por lá.

E da Índia, o que pesa no seu coração quando pensa nesse país cheio de cor, de cheiros e de desigualdade social?
A Índia foi a realização de um sonho de menina. O lugar mais pobre em que já estive, mas ao mesmo tempo com uma força espiritual gigante. Desejo verdadeiramente voltar lá algumas vezes ao longo da vida.
Sou muito conectada com cheiros por também ser aromaterapeuta e trouxe de lá alguns óleos essenciais incríveis, assim como incensos maravilhosos.
A Índia pra mim é isso. Tem quem enxergue a pobreza e quem enxergue o divino. Quem sinta o cheiro forte, por exemplo de corpos sendo queimados na berma do Rio Ganges, e quem saia dali e encontre uma loja de centenas de anos que fabrica óleos essenciais.

Como me definiria o seu país Brasil?
O Brasil é das terras mais amorosas do planeta. Somos do afeto, dos abraços, da intensidade, do samba, do mar. Temos diversos tipos de fé e acho que isso torna o Brasileiro resiliente nas dificuldades. Seria incrível se não fosse tão perigoso.

E o País de o seu coração escolheu para viver, por agora, Portugal?
Portugal me chamou para seguir a história da minha ascendência. Me sinto honrada em poder honrar minhas raízes nessa terra. Acredito que o mais incrível, para um brasileiro que chega aqui, é a segurança. É tão bom a gente poder andar em paz pelas ruas.
Também fiquei encantada com algumas praias que conheci no sul. Quando vivo perto do mar, sou mais feliz, mas ainda tem muitos lugares para onde quero viajar para conhecer aqui.
Espero que eu conquiste Portugal, para poder ficar por aqui e ter tempo pra isso!

Entrevista: Andreia Gonçalves
FOTOS: DR

Tags
Show More

Related Articles

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

− 1 = 1

Close