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Gaia: A energia da revolução de abril numa obra de arte
Homenagear o legado da revolução que deu liberdade a Portugal, manter viva a memória da importância da democracia e agradecer a quem se bate, todos os dias, por uma das mais nobres conquistas da humanidade. É o espírito da nova obra de arte do escultor Paulo Neves, instalada na via pública, em Vila Nova de Gaia.
19 de março 2024
Homenagear o legado da revolução que deu liberdade a Portugal, manter viva a memória da importância da democracia e agradecer a quem se bate, todos os dias, por uma das mais nobres conquistas da humanidade. É o espírito da nova obra de arte do escultor Paulo Neves, instalada na via pública, em Vila Nova de Gaia.
Um imponente símbolo de liberdade ergue-se na nova rotunda de Santo Ovídeo, em Vila Nova de Gaia, mesmo por baixo do viaduto recentemente construído para a passagem do metro. Uma coluna de nove metros de altura de Aço Corten, por dois metros de largura e um metro de espessura, tem nela esculpido um cravo vermelho com caule verde, envolvido em múltiplas espirais que “representam a energia da revolução, o movimento progressivo e evolutivo para a democracia”. A descrição é do próprio autor da obra, o escultor nortenho Paulo Neves. Trata-se de uma “homenagem ao espírito de abril e ao privilégio de vivermos em liberdade”, explica o artista, para quem “ser livre é uma das maiores bençãos, vitórias e conquistas da humanidade”. A peça é, nesse sentido, “um monumento evocativo e de memória, mas também de gratidão por quem luta pela liberdade individual e coletiva”, contextualiza o escultor.
Se assim não fosse, o cravo não seria uma das flores com simbologias importantes em tantos países. Na Grécia antiga, por exemplo, representava o Deus Zeus e era uma flor usada para fazer coroas. Na Roma Antiga, representava o Deus Júpiter. Na Renascença, simbolizava a fidelidade conjugal. Na Holanda, cravos brancos são usados para lembrar os veteranos e a resistência do país à Segunda Guerra Mundial. Em Portugal, os cravos vermelhos simbolizam a Revolução de 25 de Abril de 1974, conhecida por «Revolução dos Cravos». Esse golpe militar, conduzido pelo Movimento das Forças Armadas, livrou o país da ditadura salazarista do Estado Novo e instaurou uma democracia em Portugal.
Conta a história que os cravos vermelhos tornaram-se símbolo da Revolução de 25 de Abril à conta de Celeste Caeiro, empregada de mesa de um restaurante em Lisboa, cujo proprietário encomendara inúmeros cravos vermelhos para decorar o estabelecimento que, nesse dia de 1974, inaugurava o primeiro serviço de self service da capital. Só que, ao chegar ao trabalho nessa manhã, Celeste Caeiro não pôde trabalhar, porque o restaurante não abriria ao público, por estar em curso uma revolução. O patrão do restaurante terá, então, sugerido à funcionária que não se desperdiçassem as flores, pelo que ela pegou nos cravos e levou-os para o Rossio, onde se concentravam soldados à espera de ordens do comando geral. Um soldado ter-se-á aproximado da mulher e pedido lume para acender um cigarro, mas Celeste Caeiro, que não era fumadora, ofereceu-lhe um cravo. O soldado enfiou a flor no cano da espingarda, os colegas imitaram o gesto, os cravos foram todos distribuídos e passaram a fazer parte da história.
A peça de arte do escultor Paulo Neves pretende reavivar essas memórias e conquistas e integra-se nas iniciativas que a Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia está a promover para assinalar os 50 anos do 25 de abril. Apesar de já poder ser vista na nova rotunda de Santo Ovídeo, a inauguração oficial só está prevista para dia 30 deste mês. A obra ficará em permanência no local, passando a fazer parte do espaço público da cidade.