Cultura
Eduardo Salgueiro, o editor da resistência e da liberdade. Livro da vida e obra vai ser lançado na Biblioteca Nacional
Seis anos de investigação que acabam de resultar no livro “O editor esquecido: Eduardo Salgueiro e a Editorial Inquérito” da autoria de Rui Bondoso, que vai ser lançado no próximo dia 9 de maio, às 17h30, na Biblioteca Nacional de Portugal, em Lisboa. A apresentação estará a cargo de António Valdemar, jornalista, crítico literário, professor de jornalismo, investigador e membro da Academia das Ciências. O primeiro lançamento aconteceu no dia 23 de abril, em Moimenta da Beira, terra-berço do editor.
A obra, de 438 páginas, publicada sob a chancela das Edições Esgotadas, resgata e dá a conhecer a vida e a obra de Eduardo Salgueiro (1904-94), um dos mais proeminentes editores portugueses do século XX, fundador da Editorial Inquérito em 1936, “a maior manifestação de cultura e liberdade durante os quarenta e muitos anos do antigo regime”, segundo António Alçada Baptista.
A Editorial Inquérito foi pioneira na divulgação de grandes obras e autores de renome, como os de Charles Dickens, Stevenson, Jane Austen, Jean Cocteau, Jack London e Mark Twain, ou os portugueses Manuel da Fonseca, Fernando Namora e Vergílio Ferreira, que foram em primeiro lugar editados pela editora de Eduardo Salgueiro, tal como a grandiosa obra de Tolstoi, Guerra e Paz, editada em português pela primeira vez pela Inquérito.
Eduardo Salgueiro tinha um cuidado muito especial com a qualidade das traduções, convidando personalidades como Adolfo Casais Monteiro, António Sérgio, José Marinho, Fernando Lopes-Graça, Gaspar Simões, Agostinho da Silva, Álvaro Ribeiro, Domingos Monteiro, mas também com a apresentação dos livros, em especial com as capas, para as quais sempre rogou os mais qualificados artistas gráficos e ilustradores como Fred Kradolfer, Manuel Ribeiro de Pavia, Bernardo Marques, Vespeira, Ofélia, António Pedro, João Carlos, Paulo Ferreira, Lima de Freitas, Figueiredo Sobral, Infante do Carmo, Álvaro Duarte de Almeida, entre outros.
A Inquérito editou 1 021 títulos, entre reedições e reimpressões, e, contas feitas, lançou para o mercado livreiro mais de cinco milhões de exemplares.
“Eduardo Salgueiro foi um obreiro de cultura, homem com uma capacidade de trabalho espantosa, um dinamismo pessoal, uma coerência militante e um apurado faro, que foi, em muitos sentidos, um inovador do livro em Portugal”, escreveu na década de 1980 o escritor Luiz Pacheco.
“Pessoalmente, a primeira grande obra que me tocou, e de que nunca me irei esquecer, foi publicada pela Editorial Inquérito, editora muito importante para a nossa geração, porque, sob a sua chancela, se traduziam novelas e contos de autores estrangeiros conhecidos e já célebres”, lembrou anos antes o filósofo Eduardo Salgueiro.
“Vale a pena lembrar que a Editorial Inquérito foi um cultor sistemático da literatura russa em Portugal, durante os anos 40. Publicou não só romances, mas também uma colecção com as melhores novelas russas, na qual se integraram muitos autores. É algo que vale a pena assinalar, por duas ordens de razões: em primeiro lugar, porque a atividade desta editora foi fundamental nos anos 30 e 40; em segundo lugar, porque a sua orientação esteve ligada à gente da Presença, a Gaspar Simões e a Casais Monteiro, cuja obra a Inquérito editava. Ambos tinham uma relação pessoal com Eduardo Salgueiro, o editor. Isto esclarece-nos acerca do vínculo editorial e cultural existente, da relação entre o psicologismo da literatura russa e o seu impacto no presencismo literário nacional”, testemunhou o escritor e crítico de arte José-Augusto França.