Espetáculos Nacionais

North Music Festival: Olé! Isto é uma declaração de amor!

Baladas, mensagens amorosas e sex appeal marcaram o arranque do North Music Festival. Numa noite dedicada aos ritmos latino-americanos, o português Nininho Vaz Maia voltou a apaixonar com o seu flamenco, o espanhol Alejandro Sanz desafiou-nos a valorizar o que temos perto de nós e a argentina Maria Becerra surpreendeu e transformou o recinto numa pista de dança.

Como no fim das relações, este fim também não se esquece. Comecemos pelo fim da atuação do cantor de flamenco e compositor português Nininho Vaz Maia, que abriu a primeira noite do North Music Festival. Ao som de “Quiero bailar” (contigo) – o tema com que terminou o concerto -, o cigano de voz sofrida e vibrante fez muitas mulheres presentes no recinto do prado do Parque de Serralves suspirarem por quem desejariam que as convidasse para dançar ou por alguém com quem já tenham dançado.

E foi com essa efervescência nostálgica e apaixonante, com esse delírio imaginado e com esse sentir até às vísceras que Nininho conquistou, pelo segundo ano consecutivo, o público deste festival, maioritariamente feminino. Fê-lo, logo no início do concerto. Depois de ter começado com “Bebé”, “Hoje estou chateado” e “Bailando”, o cantor acedeu ao pedido de um menino que, num cartaz, lhe pedia para cantar com ele. O pequeno Santiago subiu ao palco e cantou o refrão de “Não vou” ao colo do artista, enternecendo os espetadores.

De pés descalços, rotações da anca, registo gipsy e a expressão “Olé” que foi intercalando entre músicas, Nininho Vaz Maia entoou baladas intercaladas com ritmos mais dançáveis, que incluíram “Te quiero”, “Foste embora”, “Não sou perfeito”, “Soy gitano”, “Calon” e o muito aguardado “Gosto de ti”, o êxito que gravou com o filho e que o catapultou para a fama. O público cantou em uníssono, numa emoção coletiva. Os fãs gritaram, aplaudiram e Nininho retribuiu-lhes com um “vocês são incríveis!”

“Maria, mia Reina”

Se Nininho foi o príncipe dos corações no primeiro dia do North Music Festival, Maria Becerra foi a rainha da noite dedicada aos ritmos latino-americanos. Isso mesmo antecipava um cartaz empunhado por um fã enamorado da cantora e compositora argentina, onde se lia “Maria, mia Reina”. Sorridente, empática e enérgica, a jovem que começou por ser youtuber transformou o recinto numa pista de dança.

Acompanhada por um corpo de sete bailarinas e bailarinos, todos vestidos de vermelho, a autora de “Coraçón vacío” encheu o palco dessa cor símbolo do fogo, do desejo físico, da excitação e da paixão, numa performance eletrizante, em jeito de statement de sexualidade, de provocação e de empoderamento feminino, como que se a cura dos males de amor fosse uma descarga de confetis vermelhos sobre o palco e sobre um body vermelho, todo justo ao corpo, com transparências e um cordão cruzado no peito.

Mas a fórmula resulta e disfarça os receios de quem está a começar nas lides das tournés. A própria o assumiu, ao admitir “pensei que não viria ninguém por mim. Muito obrigada por tudo. É muito bom estar aqui, num país diferente, numa cultura diferente, com um idioma diferente. Obrigado!”. A fórmula tanto resulta que a verdade é que a sensação argentina do reggaeton não deixou ninguém indiferente e criou uma vibe dançável, positiva e contagiante.

“Viva a música, viva a vida”

Entre o coração vazio de Maria Becerra e o coração partido de Alejandro Sanz, sobraram suspiros e declarações de amor dos fãs. Houve balões pintados com mensagens amorosas. Houve cartazes com frases apaixonadas. Houve assobiadelas e gritos de “cariño mío”. Nos ecrãs gigantes, começaram a ser projetadas imagens retrospetivas do cantor espanhol, quando era bem mais jovem. Entre fotografias em tronco nu e poses ousadas, ressaltou um plano da nuca do intérprete com uma tatuagem a dizer “flamenco”. Ouviram-se as primeiras guitarradas, Alejandro Sanz entrou em palco de óculos escuros, todo vestido de preto e começou o concerto com o tema “Lo que fui es lo que soy”, a canção que fala do que ele foi e do que ele é. Alejandro saudou o público com a frase “Com estão? Tudo bem? Têm frio? Desfrutem muito! Viva a música, viva a vida!”.

As fãs retribuíram a abordagem exibindo cartazes, ao logo de todo o espetáculo, durante o qual o símbolo do flamenco e do pop latino-americano alinhou vários dos seus sucessos. Num desses cartazes, uma fã garantia-lhe “No te soltaremos de la mano”. Outra demonstrava-lhe gratidão com um “Gracias por tus canciones, Alejandro. Te quiero”. Uma outra jurava-lhe “Te amo eternamente”. Mas o amor também se encontra em pequenas coisas não declaradas em frases de papel. Nas pequenas coisas que Alejandro Sanz recordou, como um passeio que fez, por estes dias, no rio Douro e ao qual se referiu nestes termos: “às vezes, pensamos que o paraíso está longe e está aqui tão perto”. Como que a desafiar-nos para procurarmos o nosso paraíso junto do que e de quem nos rodeia.

Nesta noite húmida, à beira rio e à beira mar, o concerto terminou com milhares de almas a perguntarem “Quién me tapará esta noche si hace frío? Quién me va a curar el corazón partió?, os versos do êxito “Corazón partío” que lançou Alejandro Sanz para a ribalta. Terminada a música, o público desmobilizou mas, passado uns instantes, o cantor voltou ao palco para um encore e para se despedir dos portugueses, repetindo a frase com que começou o espetáculo: “Viva a música, viva a vida”. Porque, afinal, uma e outra – a música e a vida – são das maiores e das mais bonitas declarações de amor! Olé!

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