Espetáculos Nacionais

Primavera Sound Porto: como Lana del Rey transformou tristezas em alegria

Lana del Rey trouxe a brisa e o chill de uma noite de verão ao húmido recinto do Primavera Sound Porto. Com um cenário de jardim em palco e com maresia em vídeos, a cantora norte-americana apresentou-se num misto de princesa e de Miss América e converteu um alinhamento carregado de lamentos, tristezas e corações feridos num alegre e participado coro coletivo, por parte do público, do início ao fim do concerto. E ajudou a compensar a desilusão de muitos festivaleiros pelo cancelamento de todos os concertos do palco Vodafone, incluindo o dos Justice, por razões de segurança.

Já ia o concerto na quarta música do alinhamento, “Summertime sadness”, quando a nostalgia do veraneio ecoou até ao mar ali ao lado do Parque da Cidade do Porto, pela voz da multidão que encheu o recinto da segunda noite do Festival Primavera Sound Porto. Lana del Rey dava, assim, o mote para uma noite que mais soube a verão tropical, com temperatura bafienta e húmida, associada à chuva que caíra no local, com trovões e relâmpagos à mistura, cerca de cinco horas antes do concerto.

Mas nem a previsão de condições climáticas adversas impediu as fãs e a artista de trajarem a preceito, para uma noitada, como se canta nessa música. Lana subiu ao palco com um vestido dourado, cheio de brilho, botas de cano alto prateadas, cabelo impecavelmente esticado, com uma popa e com a já habitual bandelete repleta de brilhantes, a fazer lembrar um misto de princesa com Miss América. Por trás dela, um decor em forma de arcadas de jardim, com plantas e flores suspensas nessas arcadas a colorir o palco da rainha da beleza.

Foi com este cenário de glamour que a artista norte-americana trouxe ao Porto a brisa, a frescura, a leveza e o chill de uma noite de verão, durante a qual o público cantou todas as músicas, literalmente todas, do início ao fim do espetáculo, com gritos histéricos de girlies à mistura. Lana del Rey sorria, acenava-lhes e, no final daquela música, disse: “Thank you so much! I´m so fucking happy to be here”.

Neste terceiro concerto da cantora em Portugal, que teve lotação esgotada, com uma assistência estimada de quarenta mil pessoas, Lana del Rey percorreu todos os êxitos da carreira, ao longo de cerca de uma hora e meia. Depois de “Cherry”, Lana cantou “Pretty when you cry” deitada no chão, com as bailarinas que a acompanhavam também deitadas no chão. Seguiu-se “Ride”, com a projeção de imagens de romances trágicos e melancólicos, numa composição cinematográfica estilizada. Com a tónica melancólica acentuada, a compositora interpretou “Born to die” (a canção que dá nome ao disco que lançou em 2012 e que a deu a conhecer ao mundo) e foi durante esta música que protagonizou um dos momentos mais emocionantes do concerto. Lana desceu do palco para vir cumprimentar os fãs junto às grades. Tocou-lhes, deu autógrafos, tirou selfies com eles, recebeu vários ramos de flores e demorou-se um bom tempo nesta interação com o público. Quando voltou ao palco, com uns óculos vermelhos em forma de coração que alguém da plateia lhe deu, rodopiou pendurada num varão que fazia parte do cenário, levando a plateia ao rubro de gritos e aplausos.

Outra ovação do público ouviu-se depois da cantora e das três intérpretes negras que a acompanhavam nas back vocals terem cantado “The Grants” e a “Did you know that there´s a tunnel under Ocean Blvd”. Os fãs acompanharam estas interpretações com as luzes dos telemóveis ligadas, fazendo com que Lana del Dey voltasse a agradecer ao público e a declarar que amava as companheiras de palco. A gritaria da plateia feminina voltou a inundar o recinto quando, de seguida, se ouviram os primeiros acordes do sucesso “Video games”. E, mais uma vez, o público cantou em uníssono.

Foi depois desta música que Lana surgiu em palco com outro vestido, este ainda mais glamoroso que o primeiro, para cantar os três últimos temas da noite. Após ter dado voz a “Hope is a dangerous thing for a woman like me”, disse que “ainda há razões para ter esperança”. Cantou, de seguida, “A & W” e terminou o concerto com “Young and beatiful”, para se despedir do público dizendo “muito obrigada e obrigada a esta bela cidade”. Com charme, elegância e com belíssimas reinterpretações vocais, Lana fez jus à expetativa de que este seria, como efetivamente foi, o concerto da noite. E fez os fãs vibrarem de alegria com as suas tristezas que, afinal, podem ser a esperança de que o verão – summertime – volta daqui a nada.

Problemas no palco cancelam concertos

A magia de Lana del Rey ao vivo ajudou a minimizar a desilusão e a tristeza dos fãs que queriam ver os concertos agendados para o palco Vodafone, incluindo o da dupla francesa de música eletrónica Justice, e que não vão ter direito à devolução do valor do bilhete. Esse não reembolso está, aliás, previsto nas condições gerais de acesso ao festival, no site oficial do Primavera Sound, onde se lê que “o evento só se considera cancelado se for suspensa mais de metade das atuações programadas”, o que não aconteceu neste segundo dia de espetáculos.  “Por motivos de segurança”, justificou a organização do Primavera Sound Porto nas suas redes sociais, não se realizaram os concertos previstos nesse palco (de Classe Crua, The Legendary Tigerman e Justice), não se sabendo ainda se alguma dessas atuações decorrerá este sábado.

O Primavera Sound Porto termina hoje com os National e os Pulp como cabeças de cartaz.

Foto: Hugo Lima

 

 

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