Espetáculos Nacionais

Meo Marés Vivas: “Vamos a bailar”

Ao segundo dia de Meo Marés Vivas, os ritmos latinos apoderaram-se dos corpos do público e transformaram o recinto num baile coletivo. Ao reggaeton de J Balvin e ao pop flamenco de Pablo Alborán juntou-se a aliança feminina de Carolina Deslandes e Bárbara Tinoco, a mostrarem que as mulheres não têm de ser concorrentes, mas sim equipa, e Cláudia Pascoal a aliar juventude com tradição e a convidar Marante para celebrar o aniversário em palco.

O refrão “Quiero una copa, que sude mi ropa” (quero uma bebida que sue a minha roupa) parece ter sido escolhido a dedo para uma noite de dança, como se não houvesse amanhã. Estes versos, do recente tema-sucesso “Carretera Y manta”, com que o cantor espanhol Pablo Alborán abriu o concerto da segunda noite do festival Meo Marés Vivas, foram o convite para “aproveitar ao máximo” como ele próprio desafiou o público num “portunhol” sedutor.

De calça pantalona branca e camisa branca, num estilo casual e confortável de quem não precisa mais do que um sorriso esgaçado para conquistar, o músico não se coibiu de flirtar com o público, ora piscando o olho, ora exibindo sorrisos largueirões, ora dizendo “vocês saber que amo-vos”, ora gargalhando para a multidão e garantindo-lhe “vos mando un beso grande”. Alborán comprovou que o jogo da sedução é um trunfo, pelo que fez questão de mostrar alegria e boa energia aos milhares de fãs portugueses e espanhóis que o foram ver ao Marés Vivas, dizendo-lhes, logo a seguir à primeira música, “estou muito emocionado de estar aqui” e reafirmando “Portugal é a minha segunda casa”, depois de ter cantado “Saturno”, um dos momentos mais bonitos do espetáculo. Enquanto nos ecrãs gigantes passavam imagens do universo, de estrelas e planetas, o cantor falava da Lua e de Plutão, “onde se ouvem gritos de amor”. E Alborán cumpriu o compromisso com os fãs tocando todos os hits, incluindo também o sucesso “Perdóname” (cujo original foi gravado em dueto com a fadista Carminho) e até a primeira música que compôs, “Solamente tú”. A prova de que conquistou corações viu-se nos casais abraçados a dançar e ouviu-se nos suspiros das inúmeras mulheres que, durante todo o concerto, lamentavam o facto de o cantor ser homossexual assumido e não estar “disponível para nós” e de algumas terem ficado completamente surpreendidas, por não saberem da tendência sexual de Pablo Alborán.

Sexy apresentou-se o corpo de bailarinas do colombiano J Balvin. De calções e crop tops pretos de cabedal e ligas pretas, os corpos torneados das oito bailarinas serpentearam movimentos provocatórios, enquanto o músico de Medellín entrava em palco com um fato preto a sugerir a ideia de atirador furtivo, colete preto à prova de balas e gorro preto a tapar todo o rosto, só se vendo os olhos. O rei do reggaeton arrancou o gorro da cara no fim da primeira música, descamuflando o camuflado, gritou “estoy tan feliz com usted” e apresentou um alinhamento de canções gravadas em parceria com outros artistas. “Loco contigo”, com DJ Snake, “Contra la pared”, com Sean Paul, “Con Altura”, com Rosalía, e “La Canción, com Bad Bunny, foram alguns desses temas a que o público acedeu ao convite “vamos a bailar”. Até mesmo quem não conhecia o cantor e música alguma do mesmo entrou no espírito de abanar as nádegas, num experimentalismo de twerk, transformando o piso de tapete de relva sintética numa divertida e acalorada pista de dança ao ar livre.

Os ritmos latinos fizeram as honras da noite, mas a portugalidade voltou a marcar terreno nesta segunda noite de festival, tal como tinha acontecido na primeira. A dupla Carolina Deslandes e Bárbara Tinoco voltou a mostrar em palco que ser mulher e ser artista aliada a outra mulher artista “não tem de ser concorrência”. As duas cantoras fizeram questão de explicar ao público “somos uma equipa”, recordando o quanto foram desaconselhadas a não atuarem em conjunto, por terem géneros musicais parecidos e por as pessoas já as confundirem, mesmo cantando em separado.

Deslandes exteriorizou a satisfação por este espetáculo a Norte, dizendo “sabe sempre bem voltar a casa” e quis dar uma lição de empoderamento no feminino, sobretudo, quando as mulheres são aliadas, quando todos duvidam delas ou as menorizam e quando todos as julgam. E uma lição de amizade, de cumplicidade e partilha. Fê-lo, intercalando todos os seus sucessos e os de Bárbara Tinoco, com frases slogan e, por vezes, até com um tom até agressivo só desconstruído com o cenário de três cavalos-unicórnios que enfeitavam o palco coberto de nuvens brancas e com a puerilidade do tom de rosa bebé dos calções e das t-shirts que as duas canta-autoras envergavam. O público cantou em coro temas como “Antes dela dizer que sim”, “Avião de papel”, “Despedida de solteira”, “Não me importo” e “Adeus amor adeus”.

Mais colorida e psicadélica na indumentária apresentou-se Cláudia Pascoal: de rosa Barbie e verde fluorescente e cabelo pintado em rosa, a artista conhecida por misturar as canções da etnomusicologia portuguesa com novas sonoridades pop, quis provar que a irreverência juvenil pode ser parceira da tradição e conferir-lhe valor acrescentado. Mostrou isso mesmo ao cantar, em dueto com Marante “Onde vais amanhã” e “A bela portuguesa”. Marante, que celebrou em palco 75 anos, até teve direito a parabéns cantados pelo público.

A “miúda” que despontou para o estrelato através de concursos de música televisivos contagiou o público com alegria e energia, usando temas como “Nasci Maria”, “Eh para a frente, Eh para trás” e “Fado chiclete” para transformar o concerto num autêntico baile de verão, a fazer lembrar as festas da paróquia, nas aldeias de todo o país, no querido mês de agosto. Assim começara uma noite de baile, que terminou, pois claro, a bailar.

 

 

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