Sociedade

Cabeleireiros, barbeiros e esteticistas de Ovar já tem reservas para 15 dias

Município esteve um mês em estado de calamidade devido à pandemia de Covid-19. Agora prepara-se para a reabertura. Alguns cabeleireiros, barbeiros e esteticistas já têm reservas para 15 dias.

Cabeleireiros, barbeiros e esteticistas de Ovar, município que esteve um mês em estado de calamidade devido à covid-19, readaptaram os seus estabelecimentos para reabrir na próxima semana, tendo em alguns casos agenda cheia já para 15 dias.
No início do cerco sanitário que impôs várias restrições a esse concelho do distrito de Aveiro, Natália Moreira, dona de um salão que suspendeu temporariamente os contratos das respetivas funcionárias, assumiu estar com insónias provocadas pela apreensão e pela perda de amigos cujos funerais não pôde acompanhar.
Entretanto, a empresária foi-se mantendo ocupada com tarefas que alguns viram como uma antecipação exagerada da reabertura do estabelecimento e agora, com um ânimo totalmente diferente, tem tudo preparado para retomar o serviço na próxima segunda-feira, à porta-fechada, mediante reserva prévia.
“Já tenho tudo preenchido até 14 de maio e estou ansiosa. Fui dando conta do que andava a fazer nas redes sociais, as minhas clientes estão mortas por regressar e, apesar desta trabalheira toda, parece que só isto já é suficiente para melhorar a boa disposição de toda a gente”, confessa Natália.
Algumas das adaptações operadas no salão foram-lhe inspiradas pelo exemplo da filha, que é paramédica no Reino Unido.
Foi ela que me disse para costurar uns sacos de algodão muito grandes para guardar todas as toalhas, fechadas, antes de as lavar a 60 graus. Depois fiz ainda outros 15 sacos mais pequenos para os clientes guardarem todas as suas coisas mal entram no salão”, explica.
Essa clientela já foi avisada quanto a outras mudanças: só é permitida a estada no estabelecimento a quem usar máscara; logo à entrada todos terão que calcar uma solução de água e lixívia para desinfeção de calçado; zonas de espera e diagnóstico foram reconfiguradas para garantir maior distanciamento entre utilizadores; sessões de fisioterapia, estética e massagem estão suspensas para o respetivo gabinete ficar afeto apenas ao tratamento de unhas; todas as funcionárias estarão a trabalhar com roupa especial e viseira e no recinto haverá até “um medidor de temperatura à distância”.
Além disso, o salão também deixará de ter disponíveis as revistas cor-de-rosa, para evitar manuseamentos partilhados, e vão cortar-se cortesias como café e bolachinhas, para facilitar os procedimentos de higienização de todo o espaço.
Os preços poderão não permanecer iguais, para se recuperar os “cerca de 1.000 euros” investidos em questões sanitárias e se contrabalançar a redução de seis para dois clientes na lotação do atendimento simultâneo, mas Natália garante que “mimo” não vai faltar.
“Vai ser uma terapia para todos, depois de tanto tempo fechados e sem grande contacto humano”, diz Natália, numa voz de otimismo quase palpável.
Hugo Gilvaz não está assim tão entusiasmado após um mês e meio com “rendimento zero”, mas mostra-se decidido, preparado para reabrir a barbearia e cheio de sentido prático.
“Só vou atender reservas e já tenho marcações até dia 09 de maio. A principal diferença é que antes atendia dois ou três clientes numa hora e agora só vou conseguir tratar de uma pessoa no mesmo período, porque preciso de tempo para desinfetar tudo antes de receber a próxima”, revela.
Apesar do reforço no equipamento de segurança e em produtos para desinfeção dos instrumentos de corte, a oferta de serviços foi reduzida, de acordo com as instruções das entidades reguladoras do setor: deixa de haver corte de barba para se evitar o contacto com áreas particularmente sujeitas a contágio como a boca e o nariz.
Receios quanto à pandemia em geral, agora que parte da economia local e nacional se prepara para retomar a normalidade possível, Hugo ainda tem alguns, dado o seu registo lúcido e realista.
“Depende tudo de como as pessoas se comportarem. Se se puserem a sair à tola e a fazer vida como tínhamos antes, num instante isto fica tudo ‘lixado’ na mesma”, avisa.
Zita Sousa é esteticista e não tem facilitado. Mesmo quando algumas clientes insinuaram que gostariam de ser atendidas a título especial durante o estado de calamidade, fez-se desentendida e continuou firme, oferecendo-se apenas para distribuir limas profissionais pela caixa de correio de vizinhas cujas unhas de gel já pareciam garras impróprias para qualquer vulgar corta-unhas.
Com a agenda da primeira semana preenchida, a também formadora em cursos de estética não precisou de fazer muitas alterações no gabinete porque sempre trabalhou com marcações antecipadas, bastando-lhe agora garantir um ‘stock’ de máscaras e álcool-gel, e aumentar a periodicidade das higienizações.
Rigorosa com contas, prevenida e frontal, Zita não faz dramas sobre o mês e meio em que esteve sem faturação. “Vou receber 292,6 euros da Segurança Social, que é o apoio máximo para trabalhadores independentes, e tento nem comentar quando vejo colegas minhas a dizerem na net que não têm o que comer porque o Estado só lhes vai dar 20, 40 ou 60 euros. É que o apoio é em função do que declararam às Finanças; se agora só recebem 20 euros, é porque nos outros meses não declararam o que realmente ganhavam”, argumenta.
Cinco anos “só de trabalho e quase mais nada” foram precisamente para que pudesse enfrentar imprevistos sem excessos de angústia e foi essa cautela que lhe permitiu alguns dias de descanso no início da pandemia, até que “o stresse do confinamento” a incentivou a cumprir tarefas há muito adiadas.
Uma amiga autorizada a circular fora de Ovar durante o cerco geográfico comprou-lhe tintas em Santa Maria da Feira, entregou-lhe várias latas à porta e Zita acabou por concretizar pela sua própria mão as pinturas que, noutra altura, teria pago a profissionais.
Com portas novas em branco casca-de-ovo, “agora a casa está muito mais luminosa, parece ter o dobro do espaço” e Zita promete: “Quando isto tudo acabar, vou lá fazer uma festa de arromba, que a casa merece e eu ainda mais”.
No município de Ovar, a autarquia já regista 35 óbitos e cerca de 700 infetados com o vírus SARS-CoV-2 entre os seus 55.400 habitantes. Apesar de levantado o estado de calamidade pública no território, esse continua sujeito a restrições especiais ao nível da sua atividade económica.

Alexandra Couto, da Agência Lusa – via Noticias ao Minuto.

 

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