Clérigos: um tributo à espiritualidade, em sons, imagens e esculturas

Um tributo à esperança, à vida e à arte. É o que propõe a décima quinta exposição temporária do Museu dos Clérigos, no Porto. Intitulada “Meu Cristo”, essa mostra, da autoria do escultor Paulo Neves, é composta por 66 obras, simbolizando o rosto e o corpo de Cristo: 33 em bronze, outras 33 em madeira de cedro.

A força espiritual da imagem de Cristo, a fragilidade do indivíduo, a contemplação do divino são interpretadas pelo artista nestas esculturas que convidam o público a uma introspeção e a uma elevação espiritual.

Paulo Neves transpôs para estas obras a sua própria visão de Cristo, num diálogo artístico estilizado e mimetizado. Nestas peças, o autor quis mostrar “um ser que nos transforma, um ser que, apesar de ter morrido muito novo, aos 33 anos, nos deixa uma mensagem de esperança, um ser que é símbolo de amor”. O escultor pretende, com esta mostra, “convidar à contemplação do divino” e prestar “um tributo à figura de Cristo, pelo que ele simboliza para a Humanidade, pela fé que inspira e pela dimensão imaterial que lhe está associada”, sobretudo, no atual contexto do Jubileu 2025.

E se transcendência é palavra de ordem nestas figuras escultóricas verticais de Cristo, que podem ser vistas até 6 de abril, a mesma transcendência adquire outras formas nas fachadas da Igreja dos Clérigos, transportando o visitante para uma viagem de descoberta do indivíduo e do universo.

“Spiritus”: uma viagem espiritual

O espetáculo multimédia “Spiritus” continua a irradiar pelas paredes da Igreja dos Clérigos. Inspirado no poema “Afinal, a melhor maneira de viajar é sentir”, de Álvaro de Campos (um dos heterónimos de Fernando Pessoa), este espetáculo de luzes fortes, sons intensos e voz do ator João Reis, eleva o imaginário do público numa viagem sensorial que reflete sobre a condição do indivíduo, sobre a origem do planeta Terra e das suas espécies, sobre os desequilíbrios do universo, sobre o caos e a desarmonia da vida.

“Spiritus”, palavra latina que significa “respiração” ou “sopro”, convida, desta forma, o visitante a encontrar o seu momento de paz, de equilíbrio e de harmonia interior e exterior, através da respiração, do simples ato de inspirar e de expirar. Como que se o ciclo da vida fosse uma viagem constante onde nada termina, tudo se transforma e onde tudo são recomeços.

“Spiritus” foi o primeiro espetáculo imersivo desenvolvido de raiz para o interior da Igreja dos Clérigos. Estreou em 2022, já foi visto por 260 mil visitantes e vai já na quarta edição, o que demonstra o sucesso desta ode à vida abstrata, imersiva e sensorial, que chegou a ser premiada nos Global Remarkable Venue Awards, em 2023.

O que o espírito sente, a vista alcança

Digna de prémio é também a emblemática Torre dos Clérigos, uma das atrações turísticas da cidade do Porto que, no ano passado, teve cerca de um milhão e trezentos mil visitantes.

Projetado pelo arquiteto italiano Nicolau Nasoni, este edifício barroco foi construído na primeira metade do século XVIII, tendo a construção sido concluída em 1763.

Este conjunto arquitetónico, classificado como Monumento Nacional desde 1910, tem seis andares e 76 metros de altura, tendo já sido o mais alto de Portugal. Para chegar ao seu topo, o visitante tem de subir 240 degraus de uma escadaria em pedra, muito estreita, em forma de espiral.

A subida vale a pena porque, uma vez no topo, o cenário são desafogadas vistas panorâmicas sobre o rio Douro e sobre a cidade e porque é essa subida que permite apreciar os 49 sinos que formam um grande carrilhão de concerto. No fundo, este é o local onde aquilo que o espírito sente, a vista alcança.

O visitante pode adquirir bilhetes combinados que permitem visitar apenas algumas destas atrações ou todas em conjunto: a Torre dos Clérigos, o Museu, a Igreja dos Clérigos e o espetáculo Spiritus.