Economia

Porto e S. João da Madeira  testam casa alimentada por energia solar e baterias recicladas

Um novo sistema construtivo apostado em garantir autossustentabilidade energética recorrendo a painéis solares e baterias de automóvel recicladas vai ser testado em S. João da Madeira e no Porto, revelou hoje a empresa DreamDomus, que coordena esse projeto-piloto.
A experiência intitula-se “Home Zero” e resulta de um projeto de investigação e desenvolvimento por um consórcio que, além da DreamDomus – Construção Modular e Domótica, envolve também a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) e a empresa Magnum Cap – Eletrical Power Solutions, assim como a parceria do arquiteto Alberto Montoya.
Sérgio Almeida é o coordenador da experiência e explica que o objetivo é “demonstrar a autossustentabilidade de uma casa que, em vez de depender da rede elétrica normal, foi construída de forma a integrar na sua arquitetura, já de raiz, um sistema de energia renovável à base de painéis solares e baterias de automóvel recicladas”.
O sócio-gerente da DreamDomus considera esse último aspeto particularmente relevante por permitir prolongar o ciclo de vida das baterias de carros elétricos, “já que o setor automóvel vai tentar impor a sua substituição a cada dois anos e, apesar de esses dispositivos não poderem ser reutilizadas noutros veículos, ainda poderão muito úteis para o setor da construção pela sua capacidade de armazenarem energia”.
A moradia-protótipo “Home Zero” começou no dia 11 de outubro a ser “avaliada em contexto real” no espaço exterior do Centro Empresarial e Tecnológico de S. João da Madeira e apresentar-se-á com cerca de 40 metros quadrados, pelos quais o arquiteto Alberto Montoya distribuiu um quarto, um sala-kitchnette, uma casa-de-banho e uma zona própria para carregamento de veículos elétricos.
“Apesar da sua aparente simplicidade, a construção é de uma complexidade tecnológica muito significativa, para atingir o objetivo da autonomia energética”, afirma o arquiteto. “A estética é a componente menos falada da sustentabilidade, mas foi um desafio que toda esta tecnologia fosse montada de maneira a criarmos um edifício funcional e também agradável, que apeteça realmente usar”, revela.
Em S. João da Madeira, a casa-piloto será testada sem inquilinos, com os respetivos eletrodomésticos e outros equipamentos a serem ativados remotamente para replicarem níveis de utilização normais; dois meses mais tarde, quando a moradia for transferida para as instalações da FEUP, no Porto, a casa passará a ser efetivamente habitada por dois estudantes e sujeita a uso doméstico pleno
Em ambos os casos, Sérgio Almeida diz que a “Home Zero” funcionará com recurso a um sistema de domótica que “informará o ocupante sobre a quantidade de energia renovável armazenada, permitindo-lhe decidir se quer ligar a máquina de lavar roupa com eletricidade da rede pública, por exemplo, ou esperar mais umas horas até poder usar só energia solar”.
Toda a atividade da casa será monitorizada e esses resultados serão depois aplicados no desenvolvimento de um produto a lançar no mercado da construção dentro de um ano.
“O que há de mais evoluído dentro deste género é o que faz a [norte-americana] Tesla, que combina painéis solares com uma bateria de carregamento na garagem, mas em sistemas independentes”, afirma o gerente da DreamDomus. “O nosso modelo construtivo tem a vantagem de combinar tudo de forma integrada e de também permitir a acumulação de energia, pelo que, se o utilizador quiser, até a poderá vender à rede pública”, realça.
A expectativa do consórcio é, assim, que a combinação de cinco fatores decisivos – arquitetura bioclimática, bom sistema construtivo, captação de energia renovável, armazenamento eficiente de energia e gestão inteligente via domótica – possa garantir “um balanço energético sempre o mais próximo possível do zero”.
A comprovar-se essa hipótese, a DreamDomus espera iniciar a comercialização do novo sistema construtivo dentro de 12 meses e, até porque qualquer privado poderá “recuperar o investimento em três ou quatro anos”, os primeiros mercados serão Portugal e também França, de onde já surgiram solicitações porque nesse país “as exigências são muito maiores em termos de eficiência e classificação energética”.
Alexandra Couto

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