Entrevistas

Lourenço Henriques : “Somos um povo antigo, logo, cansado”

Lourenço Henriques é ator e músico. “Contrapé” é o projeto musical que lhe tem aquecido a alma, já que a sua visão é que a pandemia, traz outras enormes preocupações. O olhar atento de um homem que afirma que hoje, tudo o que é contracorrente é apelidado de fascista e outros milhentos adjetivos que, de tão usados, passam a ter significados esbatidos. que  tudo o que é contracorrente é apelidado de fascista e que de tão usados, passam a ter significados esbatidos.

Texto: Andreia Gonçalves
Foto: DR

“Pessoas oprimidas não podem permanecer oprimidas para sempre. O anseio pela liberdade eventualmente se manifesta”. Martin Luther King Jr. Comente por favor!
Martin Luther King é das figuras históricas que mais admiro. Esta citação dele não traz qualquer novidade ao mundo, já que a História nos demonstra que os povos acabam sempre por se libertar. Isso é observável desde o Êxodo, quando Moisés conduziu a fuga do povo judeu do Egipto, mas surge em muitas outras ocasiões: no 1 de dezembro de 1640, no Gueto de Varsóvia, na vitória de Mandela e, claro, no Movimento dos Direitos Civis, liderado por Luther King.

Os números da pandemia assombram, e por isso muitas outras preocupações do País se vão colocando em “banho maria”. Contudo haverá uma hora de explosão da realidade. Quais sãos as situações que mais o preocupam, das que se encontram em segundo plano?
A situação que mais me preocupa é a própria Saúde. O número de mortes colaterais é mais de duas vezes superior ao número de mortos por COVID 19, sendo que tem havido este ano uma redução de mortes na estrada. Depois preocupam-me a Cultura e o Turismo. A Cultura pela sua precariedade endémica, que numa fase destas ainda mais se agrava. O Turismo pelos motivos óbvios: não há turistas. E esse estava a ser o nosso veículo para recuperar a Economia.

Qual é a sua leitura da situação atual da cultura, em Portugal? Teatro, música, cinema, artes plásticas e livros…. Pré e pós pandemia.
Nunca foi boa; nem antes nem depois da pandemia. Os motivos são vários. Desde logo porque a sociedade portuguesa encara a Cultura como coisa supérflua, sem perceber que ela mesma é a sua Cultura. Depois porque é o parente pobre de todos os governos, desde que há memória. Por último, porque a Cultura é sempre dominada por este ou por aquele lobby, em prejuízo óbvio de quem está fora do sistema de lobbies.

Por onde anda a justiça e a injustiça deste País? Que sociedade é a nossa onde o racismo, o machismo e a descriminação são tão constantes…
Esses são grandes males de sempre. O Mundo construiu-se sobre essas problemáticas. Não podemos esperar que coisas que nos acompanham desde o amanhecer da Humanidade desapareçam de um dia para o outro. Mas é preciso lutar. É legítimo querer um mundo melhor.

Há moral, na possibilidade de impedir alguém a aprender de tenra idade a ser um cidadão?
Há diferentes perspetivas sobre como se aprende a ser cidadão. Espero que nunca venha o dia em que as pessoas não possam exprimir a sua opinião. Hoje, tudo o que é contracorrente é apelidado de fascista e outros milhentos adjetivos que, de tão usados, passam a ter significados esbatidos. Eu acho que é crucial que a cidadania tenha um lugar no currículo académico. Os moldes em que isso se faz é que são discutíveis. E têm de poder ser discutidos; a bem da liberdade.

A ideia do País pacífico que somos, deve-se ao comodismo, conivência ou inercia?
Deve-se a tudo isso, mas também a um certo fatalismo que nos é natural. Conformamo-nos com a desgraça. Por outro lado, o nosso povo lutou muito para chegar até aqui. Enfrentou várias guerras, revoluções, desastres… Somos um povo antigo, logo, cansado.

A música tem sido um bálsamo para a sua alma. O que tem feito, nas noites de luar, preso num estúdio de gravação de guitarra na mão?
A música é uma constante na minha vida, desde miúdo. É um escape, é um campo de inúmeras possibilidades criativas, de permanente descoberta. Isso é apaixonante. Continuo sempre a fazer música e a gravar; atualmente com o meu projeto pessoal “Contrapé”, que pode ser ouvido nas várias plataformas: Spotify, Apple Music, Deezer, Amazon Music.

Culturalmente falando, para onde vamos, tendo em conta que sabemos de onde vimos…
Sabemos de onde vimos, ou achamos que sabemos? Creio que num mundo em transformação também a Cultura terá de se adaptar. O advento da Internet criou nas pessoas a exigência de serem muito entretidas em pouco tempo. A oferta é avassaladora e o público tende a dispersar-se. Mais do que nunca, a brevidade é uma virtude.

Para um serão atípico na sua vida, Big Brother ou CMTV?
Não sei responder, porque não sigo nenhum dos dois. Não parto do princípio de que são maus. Apenas sei que não me atraem. Mas se só tivesse essas duas hipóteses, talvez escolhesse a que me desse mais sono mais depressa.

 

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