Espetáculos Nacionais

MEO Marés Vivas: “Bom como sexo”

Num encontro totalmente cantado em português, a primeira noite do festival Meo Marés Vivas foi um hino ao amor e ao enamoramento, antes do sexo. Com lotação esgotada, o público voltou a mostrar que namorar à chuva e ao som da música, também pode ser um exercício de sedução. Porque, como gracejou Carlão, “se isto não é tão bom como sexo, está lá perto”.

A noite está quente, a lembrar os climas exóticos, depois da chuvada que acompanhou os primeiros dois concertos, de Jorge Palma e dos Quatro e Meia. O cantor, de 73 anos, a quem coube a primeira atuação, dera o sinal de partida para aquele que viria a ser o mote das horas seguintes: pôs toda a gente agarrada e aos beijos, quando cantou “Encosta-te a mim”. E se, nas primeiras músicas, quando chovia copiosamente e em que se sentiram alguns problemas no som, o público era composto por umas poucas dezenas de pessoas, a meio do espetáculo, o recinto já estava cheio. De chapéu de aba e de camisa estilo tropical, Jorge Palma cumpriu o alinhamento de êxitos que o público sabe de cor (incluindo “Estrela do mar”, “Frágil”, “A gente vai continuar”) e deu lume (ao cantar “Dá-me lume”) a um serão tão sublime quanto carnal.

Se dúvidas houvesse de que qualquer vírus amoroso já estava espalhado, não foi preciso esperar pela entrada em palco dos Quatro e Meia para observar demonstrações de ternura e fofice por toda a parte. Sentada em cima de um caixote do lixo da Suldouro, uma jovem loira era abraçada pela cinta pelo namorado. Uns metros adiante, uma rapariga na casa dos trinta anos abanava os ombros e as pernas ao som da música, de mão dada com a mãe, que trouxe ao festival. Junto a uma tenda de cerveja, um casal bebia uma Somersby do mesmo copo, intercalando os goles com beijos na boca.

Consciente de que qualquer um destes protagonistas no recinto do antigo parque de campismo de Madalena, em Vila Nova de Gaia, tem uma história que poderia dar uma letra de uma música, o vocalista dos Quatro e Meia dirigiu-se aos presentes, antes de cantar “Na escola”, e dedicou essa música “a todos os homens que sofrem de amores e que representam 5% da plateia, porque os outros 95% são mulheres”. A banda de Coimbra voltou a dirigir-se à multidão para elogiar o público, por ter contribuído para “a nossa essência e a nossa língua”, ao estar presente numa “noite só de música portuguesa, que mostra que o Marés Vivas é um local onde a música portuguesa tem espaço”.

O mesmo agradecimento foi feito cerca de duas horas depois por João Coelho, conhecido por Slow J, quando, com a voz embargada, interrompeu a atuação para lembrar que o primeiro concerto que viu na vida foi no Rock in Rio e que “a banda que estava lá e mandou naquilo tudo eram os fucking Da Weasel”. Por guardar essa memória de um primeiro concerto em português, o rapper não escondeu a emoção de atuar nesta noite só de nomes nacionais, dizendo “espero que percebam o peso que tem para mim subir aqui ao palco, hoje”.

Jorge Lopes, responsável da organização do Marés Vivas, confirmou à Agência de Informação Norte que “um cartaz todo ele dedicado a artistas nacionais foi propositado” e que foi “uma aposta deliberada na música portuguesa, para provar que é possível encher festivais desta dimensão com artistas portugueses”. Com efeito, nesta primeira noite de festival, a lotação esteve esgotada, com 35 mil pessoas a assistir aos espetáculos. A expetativa da organização é que, este ano, o evento volte a ter, durante os três dias de concertos, 120 mil pessoas, que foi a assistência total do ano passado e “é a lotação do Meo Marés Vivas”.

O enamoramento entre os artistas e o público reafirmou-se com a entrada em cena dos Da Weasel. A banda de Almada (que neste concerto voltou a contar com a colaboração de Manuel Cruz, dos Ornatos Violeta) apresentou-se enérgica e convicta de que “o Norte nunca falha”, como enfatizou Virgul, acrescentando a plenos pulmões “esgotámos esta noite, porra” e “até pessoal do Algarve” veio ao Marés. Por tudo isso, Carlão, o vocalista da banda, concluiu, muito antes de pôr toda a gente a entoar “uh, uh, yeah, yeah, faz, faz bebé”, o refrão da música “Dialectos de ternura”: “se isto não é tão bom como sexo, está lá perto”.

Ana Silva não veio de tão longe, vive mesmo em Gaia, e – apesar da proximidade do evento – nunca tinha estado no Marés Vivas. Nesta estreia, não hesitou em dizer “para minha primeira vez, foi melhor que bom”!

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