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Cerveja artesanal: um sabor de todas as épocas, em Gaia

Recriar sabores, aliando tradição à experimentação e à promoção de patrimónios regionais é o grande desafio dos 32 produtores de cerveja artesanal presentes no Festival Craft, no WOW - The World of Wine, em Vila Nova de Gaia, até este domingo. Na edição deste ano, a ligação cervejeira ao vinho é uma peculiaridade que a organização destaca e que a degustação confirma.

Uma das mais antigas e mais populares bebidas do mundo – a cerveja – é não apenas símbolo de socialização, mas também de revoluções rurais e urbanas, ao longo da história da humanidade. E, desde a sua invenção na antiga Mesopotâmica (atual Iraque), a cerveja sofreu evoluções, que já vão muito além da simples fórmula de malte de cevada, lúpulo e fermentação da levedura. Que o digam os 32 produtores de cerveja artesanal presentes no Festival Craft, no quarteirão cultural de Vila Nova de Gaia conhecido como WOW – The World of Wine.

Neste festival, exclusivamente dedicado à cerveja artesanal, pode provar-se dezenas de sabores, uns mais inovadores, outros mais tradicionais, uns mais ácidos, outros mais adocicados, que testam o palato, seja de iniciantes, seja de experientes apreciadores de cerveja de fabrico artesanal. Mas mais que a prova dos diferentes paladares, o visitante poderá surpreender-se com as histórias e as curiosidades em torno de cada um dos líquidos que ingere.

A “Bila”, por exemplo, é a menina dos olhos de Guido Pinto, um produtor de cerveja de Vila Real que, apesar de produzir cerveja há 22 anos, só no ano passado e com a ajuda de enólogos e da adega de Favaios, sentiu “necessidade de criar uma cerveja com ligação ao vinho, a grape ale, com mosto de uva Moscatel, que é muito característica da zona”. É uma cerveja que “leva até ao máximo de 30% de mosto de uva e tem um aroma e trago a vinho branco”.

Já a “Tough Love”, outra cerveja artesanal, produzida por Vítor Fontes e Maria José, tem a particularidade de ser envelhecida em casco de vinho tinto, para “absorver as propriedades desses elementos”. Os dois empresários, ligados à gestão ambiental e à auditoria no setor ambiental, criaram o negócio de produção de cerveja artesanal em 2019, depois de terem “bebido inspiração nas viagens de férias no estrangeiro”. Acrescenta Vítor Fontes que procuraram informação em Portugal, fizeram workshops e compraram “equipamento para começar a fazer cerveja artesanal em casa”, expandindo depois o negócio até aos dez estilos de cerveja artesanal que hoje produzem, com diferentes sabores. Framboesa, cereja, caramelo, cacau e chá produzido no Douro, são alguns desses sabores das cervejas criadas por esta dupla que, além de usar barricas de vinho tinto, também usa barricas de vinho do Porto e barricas de Xerez espanhol, onde a cerveja fica a “estagiar no mínimo três meses, no máximo dois a três anos”, absorvendo a cerveja partes do sabor desses vinhos.

Por seu lado, a “Judia” é uma cerveja feita a partir de castanha judia, um dos três tipos de castanha típicos da região de Trás-os-Montes. Lino Sampaio, o produtor desta cerveja artesanal, criada em Carrazedo de Montenegro, no concelho de Valpaços, explica que o objetivo da criação deste projeto foi “aliar o saber fazer à história, para promover um território e um fruto fora de época” e para fazer da cerveja artesanal um produto de todas as épocas, consumível durante todo o ano. A ideia é que a cerveja possa ser uma montra de uma “alma tão grande como as serras e as montanhas da região”.

Identidade regional e histórica tem também a “Mistica”, uma cerveja resultante de uma infusão do rio Douro. A marca de chás portuguesa “Infusões com História” aliou-se à mais antiga cervejeira da Áustria, a Offstetten, para fazer esta “cerveja artesanal pioneira”, diz Ademar Leite. Contextualiza este jovem de negócios que a Bräubarn, distribuidora da “Mistica”, procura “trabalhar com projetos familiares, mas de alta qualidade, trabalhar com os Ferraris da cerveja”, daí ser distribuidora oficial e exclusiva de “algumas das marcas cervejeiras mais antigas e mais premiadas do mundo”. A paixão deste rapaz pela cerveja “começou aos 4 anos, com latas de cerveja que familiares e vizinhos colecionavam”. Depois, as viagens que fez pelo mundo, o facto de ter vivido, trabalhado e conhecido inúmeros países na Ásia, no Norte de África e em quase toda a Europa, e “ter contactado com várias cervejeiras internacionais” alimentaram a paixão que o fez “trocar um trabalho de engenheiro duma multinacional para ganhar menos, mas trabalhar por paixão e viver hoje melhor, com menos dinheiro, mas com mais satisfação”.

Com preços entre os 3 Euros e os 8 Euros por cerveja, os visitantes podem tirar a prova às “cervejas artesanais com mais fator WOW”, como as adjetiva o diretor de marketing do quarteirão cultural, Ricardo Almeida. A entrada é gratuita. Quem quiser consumir tem de adquirir um copo e uma pulseira por 6 Euros, sendo a pulseira recarregável com os valores monetários que o consumidor entender. Tanto o copo como a pulseira podem ser reutilizados nas edições futuras do evento que também procura “promover a reutilização e sustentabilidade”.

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