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Cruzeiro vandalizado está de “regresso a casa”

Peça restaurada já pode ser vista nos “Hospitalários no Caminho de Santiago” em Leça do Balio

Em abril de 2015 um ato de vandalismo destruiu o cruzeiro quinhentista do Mosteiro de Leça do Balio, Monumento Nacional desde 1910 e um dos mais notáveis exemplos da arquitetura gótica portuguesa.
Além do edifício da igreja, o conjunto monumental é composto pelos antigos edifícios conventuais dos Paços da Baliagem ainda existentes na Quinta do Mosteiro.
O crucifixo que existia no topo do pilar do cruzeiro, datado entre 1513-1515, desprendeu-se e caiu, sofrendo diversas fraturas.
Feito em pedra de Ançã, com imagem de Cristo e decoração de motivos florais, o cruzeiro foi esculpido por Diogo Pires, o Moço. Ao que tudo indica, terá vivido e trabalhado na zona de Coimbra entre os anos de 1511 e 1535. Terá aprendido a arte da escultura com o seu pai, Diogo Pires, o Velho, autor da famosa imagem de Nossa Senhora da Conceição, que pertenceu ao extinto Convento da Conceição de Leça e que atualmente se encontra na igreja paroquial de Leça da Palmeira, que foi executada por encomenda do Rei D. Afonso V.
As primeiras obras de Diogo Pires, o Moço, são influenciadas pelas correntes góticas tardias do século XV. Todavia, a partir de 1520, segue as novas correntes estéticas renascentistas que chegam a Coimbra através de artistas de origem francesa como, por exemplo, Nicolau de Chanterenne.
Entre 1511 e 1522, executou várias esculturas como, entre outras, o padrão da ponte de Coimbra (1513), o túmulo do Bispo de Fez, D. Álvaro (c. 1515) ou o túmulo de Diogo de Azambuja (1518).
Em 1515 executou uma grande encomenda, feita pelo Prior do Crato, Comendador de Leça e Cavaleiro da Ordem dos Cavaleiros Hospitalários de S. João de Jerusalém, Dom Frei João Coelho, para o mosteiro de Leça do Balio. É da sua autoria o túmulo de Dom Frei João Coelho no Mosteiro de Leça do Balio, bem como uma pia batismal, uma pia de água benta e o cruzeiro no exterior do Mosteiro.
Devoto do Anjo Custódio, protetor do Rei D. Manuel I, Diogo Pires, o Moço, apresenta na sua obra os elementos heráldicos, os cardos, as romãs, as alcachofras, e os anjos, segurando dísticos e brasões.
Originalmente, o cruzeiro encontrava-se junto do caminho principal de acesso ao mosteiro, afastado algumas centenas de metros da localização atual. Durante o século XX, foi transferido várias vezes, sobretudo nas décadas de 1930, 1960 e 1970, e foi alvo por diversos de atos de vandalismo.
Em 1912, sofreu alguns danos e, em 1939, voltou a ser danificado, recebendo o primeiro restauro. Os maiores danos terão ocorrido em 1964 com a peça a sofrer, por duas vezes, atos de vandalismo e a ser derrubada com violência. Em 1966, foi novamente reconstruída no seu local atual, tendo sido também colocada uma cobertura e uma grade protetora para evitar a sua degradação.
Apesar dos sucessivos (e, por vezes, desadequados) trabalhos de restauro e de reconstrução, a degradação da peça escultórica foi sendo progressiva.
A Câmara Municipal de Matosinhos, em articulação com a Direção Regional da Cultura do Norte (DRCN), procedeu então ao restauro do cruzeiro.
A operação incluiu um estudo prévio pormenorizado do estado de conservação da peça e da metodologia de restauro, que ficou a cargo da oficina Samthiago: Ateliê de Conservação e Restauro.
Para a reconstituição dos elementos fraturados, foram utilizados materiais mais adequados às novas metodologias desenvolvidas na área da conservação e restauro, por forma assegurar o futuro desta emblemática peça do património artístico do século XVI.

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