Opinião

O Mundo em Transição

O Mundo está neste momento a atravessar uma crise que tem potenciado muitos desafios para todos nós:

– Desafios relacionados com a Saúde;

– Desafios relacionados com as Relações Sociais;

– Desafios relacionados com a Economia;

– Desafios relacionados com o aprender a olhar para o nosso interior.

Um dos assuntos centrais que os Enfermeiros abordam com os enfermos (os infirmes, aqueles que não têm firmeza) são precisamente as transições que vivem, nos processos de saúde e nos processos de doença. É nessa condição que hoje partilho este artigo, para que possamos todos, enquanto humanidade, olhar para os desafios e os resultados destas transições que estamos a viver.

Nos desafios relacionados com a Saúde:

O Mundo, mais do que nunca, está agora a perceber a importância dos Serviços de Saúde. Estou convicto de que será uma transformação na forma como as políticas dos países vão olhar para este setor. Vão dar maior valor ao investimento nos recursos em Saúde, percebendo que é de facto investir e não desperdiçar os orçamentos de estado.

Neste ano de 2020, declarado pela Organização Mundial da Saúde como o Ano Internacional dos Enfermeiros, não posso deixar de realçar que esta transição de saúde que estamos a viver tem demonstrado a importância de termos o número de Enfermeiros suficiente para estarmos seguros. Não só para nos protegermos enquanto não estamos doentes (nomeadamente nos Cuidados de Saúde Primários), mas para nos assegurar segurança nos internamentos quando estamos muito doentes. Quero dar os meus parabéns e um abraço de orgulho a todos os profissionais de saúde que estão na primeira linha de combate a esta pandemia, em especial aos meus colegas… Os Enfermeiros Especialistas em Enfermagem de Saúde Comunitária e de Saúde Pública que estão nas linhas da frente de gestão dos processos nas populações e comunidades; Os Enfermeiros de Família que incansáveis apoiam de perto as pessoas em proximidade; Os Enfermeiros de Saúde Materna e Obstétrica que não deixam de apoiar a ansiedade das grávidas nesta fase de ansiedade e continuam a fazer nascer no meio do medo da morte no Mundo; Os Enfermeiros de Saúde Mental e Psiquiátrica que constroem alternativas para olhar com luz para o negro que atravessamos; Os Enfermeiros de Reabilitação que continuam a apoiar os que precisam recuperar funcionalidade no meio desta adversidade; Os Enfermeiros Especialistas em Saúde Infantil e Pediátrica que apoiam na reconstrução da realidade para os olhos das crianças, nos cuidados de saúde primários e nos internamentos. Os Enfermeiros especialistas em Enfermagem Médico-Cirúrgica que nas Unidades de Cuidados Intensivos, nas Urgências, nos Internamentos, deixam de respirar as pessoas que são para dar oxigénio e vida aos que precisam… E a todos os Enfermeiros de Cuidados Gerais, que se unem aos especialistas, garantindo o funcionamento da linha de entrada e apoio a todos os portugueses, a SNS24 e em todos os serviços públicos e privados de Portugal. Abraço também os professores de Enfermagem e investigadores que continuam a manter a evolução do conhecimento e da ciência para melhorar os cuidados às pessoas. Também os Enfermeiros-Gestores, que na adversidade têm apoiado os enfermeiros e garantido a qualidade melhor possível nos cuidados aos cidadãos. Através do abraço de homenagem, por ser o vosso/nosso ano, abraço também todos os outros profissionais de saúde.

Sei que o futuro que se avizinha será ainda mais duro, mas sei também que a sociedade percebeu finalmente, para além dos aplausos das janelas, que o palco da vida jamais encerrará as cortinas para os profissionais de Saúde. O drama dos cuidados de saúde jamais se encerra enquanto peça e precisa, pois, de manter os holofotes acesos para garantir o sucesso.

– Desafios relacionados com as Relações Sociais;  

Nunca o afastamento necessário nos aproximou tanto. As tecnologias que nos afastavam, são aquelas que agora nos fazem olhar nos olhos uns dos outros. O tempo que passamos juntos fez-nos valorizar a família, para a qual antes parecia que o tempo escasseava, entre filas de transito, horários prolongados de trabalho e trabalho que continuava em casa.

Agora mais do que nunca percebemos que nunca mais seremos iguais… Depois deste desafio de estarmos em casa, vamos valorizar o abraço, o beijo, o “amo-te”, o dar as mãos.

Estávamos a encerrar num saco sufocante o Amor Infinito… Que por Infinito que é, agora pode respirar na liberdade de voltarmos a olhar uns para os outros.

Quando passar este desafio, as tecnologias vão continuar a ser nossas aliadas, mas vamos revalorizar o sorriso e a gargalhada na esplanada com os amigos, o olhar silencioso para a pessoa que amamos numa noite estrelada… E se de vez em quando olharmos para os ecrãs, vamos a partir deste momento olhar mais para as íris dos olhos  uns dos outros.

– Desafios relacionados com a Economia;

As notícias preparam-nos para um novo desafio económico. Sim. Mas passámos por um há pouco tempo. Ainda temos a memória das estratégias e tivemos o treino de viver com pouco durante o período de isolamento de contactos… Por isso vamos estar diferentes do que estávamos na última crise. Teremos a noção da importância da poupança de recursos. Teremos a noção do valor dos valores essenciais, que não têm preço e por isso nos ajudarão a enfrentar as dificuldades dos que têm.

Criámos e solidificámos laços de voluntariado, de apoio enquanto comunidade, de gestão de finanças menores por apoio às crianças, aos dependentes.

Percebemos que é possível manter a educação e a importância da família no apoio à educação dos filhos, para terem um futuro alicerçado em conhecimento e valores.

Percebemos que podemos usar recursos que nos poupam gasolina para comunicar e resolver questões do dia a dia. Podemos comprar on-line, ir ao banco on-line… Isso ajudar-nos-á a poupar dinheiro também!

O sentido de comunidade que se fortaleceu, vai ajudar-nos a enfrentar essa transição que se avizinha… respirando, porque o bem da saúde nos permitirá ter força para continuar. E se alguns de nós perderão pessoas que amam, saberão que as que cá continuam vão lutar pelo futuro das que permanecem, honrando as que foram.

– Desafios relacionados com o aprender a olhar para o nosso interior.

Aprendemos nesta transição a olhar para dentro. Nunca o tempo foi tão corda, para nos amarrar a nós mesmos. Para pensar. Para recriar. Para nos fortalecer para o futuro.

Depois desta transição vamos ser também melhores connosco. Vamos olhar no espelho e ver para além da pele. Vamos ver o coração e a alma que pudemos voltar a abraçar neste período de isolamento da azáfama e da euforia que nos distraiu tanto tempo de nós mesmos.

E ainda…

Queria acrescentar que a poluição no mundo diminuiu muito. O planeta não respirava. No momento em que passar esta transição, vamos ter um Mundo melhor, um Planeta melhor, uma Comunidade melhor, uma Família melhor, um Ser Individual melhor…

E das transições, percebem todos os dias os Enfermeiros, pode nascer o melhor de nós como Pessoas, preparando-nos para sermos capazes de ser e estar cada vez mais poderosos para a Vida.

E estaremos cá, todos juntos, para o barco da Vida continuar para a frente, com todos nos remos.

Pedro Melo, Professor Auxiliar Convidado, Universidade Católica Portuguesa, Instituto de Ciências da Saúde.  Enfermeiro Especialista em Enfermagem de Saúde Comunitária e de Saúde Pública.

 

 

 

 

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