Opinião
Partiu o homem que gostava do bem; guardemos o seu exemplo
É uma verdade irrefutável: Portugal odeia os patrões. Em muitos casos, e por décadas de maus exemplos, com razão. Noutros casos, decididamente, não (por ter sido filha de patrões, convivido com tantos outros, e ter visto o mundo do trabalho quase sempre a partir dessa perspectiva, sei uma coisa ou duas sobre o assunto). O Rui Nabeiro era um dos realmente bons – um homem admirável em toda a linha -, com a humanidade à frente e acima de tudo. Provou a vida inteira que se pode estar sempre no topo, sem deixar de ser acessível a toda a gente; sobretudo, aos que para ele trabalhavam. Era um homem comum entre os comuns, e nunca foi menos patrão nem menor autoridade por isso. É sempre triste quando parte uma referência nacional e, em matéria de patronato, o Rui Nabeiro foi uma referência absoluta. Um homem exemplar, no mundo empresarial, na sua ética de trabalho, na filantropia, na ligação à comunidade. Nabeiro foi o homem sobre quem alguns trabalhadores disseram, por louváveis motivos, que “é Deus no céu e o senhor Rui cá na terra”. E ele dizia, com aquela simplicidade genuína que sempre o caracterizou, que “por saber de onde venho, também sei quem sou e quem quero ser. Quando a pessoa semeia, colhe. E eu tenho colhido. Gosto do bem; acho que é isso.” Chegou a descrever-se, com uma certa candura, como um “sonhador do bem-fazer”. A generosidade era, de todas as virtudes que possuía, a que lhe surgia sempre mais natural e espontânea. Devia haver muitos homens e empresários como Rui Nabeiro – mas não há e, para onde caminhamos, haverá cada vez menos. Que o seu enorme exemplo possa ao menos perdurar na memória coletiva do país que somos.
Sandra Marques