Cultura

Está a chegar o Guimarães Jazz

32ª edição do festival decorre de 9 a 18 de novembro, ao longo de 12 concertos, oficinas de jazz e jam sessions, com epicentro no Centro Cultural Vila Flor (CCVF) e difusão por vários locais da cidade como o Centro Internacional das Artes José de Guimarães e o Convívio Associação Cultural.

A 32ª edição daquele que é considerado um dos mais reconhecidos e consistentes festivais de jazz do país pela crítica e pelo público que o visita, sendo referência no panorama nacional e internacional, volta a apresentar-se de 9 a 18 de novembro com a habitual diversidade e qualidade que lhe é atribuída, reunindo em Guimarães nomes como Buster Williams, Vanguard Jazz Orchestra, Kathrine Windfeld Big Band com Gilad Hekselman e Immanuel Wilkins, Orquestra de Guimarães com Mário Costa, Aaron Parks, Michael Formanek, Maya Homburger, Agustí Fernández e Barry Guy, Elliott Sharp, Jacob Sacks, Chet Doxas, Vinnie Sperrazza, Zack Lober e Suzan Veneman, Pedro Molina, José Soares, entre muitos outros, que nos convidam a uma nova viagem por entre vários estilos e geografias musicais desta expressão artística tão universal e plural que é o jazz.

Prestando uma atenção particular à cena jazzística nova-iorquina da atualidade e às expressões de tendência experimental, cada vez mais preponderantes na linguagem do jazz contemporâneo, e destacando-se a significativa presença de músicos europeus em praticamente todos os projetos apresentados, o Guimarães Jazz 2023 chega-nos já a partir desta quinta-feira com revigoradas vibrações capazes de nos envolver na mística de um festival que convida todas as gerações, entre público e artistas, e harmoniza as vontades mais clássicas ou mais arrojadas e diversas.

Esta edição é assim inaugurada a 9 de novembro (21h30) com a presença em palco de uma das mais icónicas orquestras de jazz norte-americanas, dirigida neste concerto pelo prestigiado Dick Oatts. Esta formação histórica – um ensemble com mais de meio século de atividade – foi fundada pelo trompetista Thad Jones (no papel de compositor residente) e pelo baterista Mel Lewis (responsável pela direção musical) no já distante ano de 1966 e que desde 1990 se apresenta pelo nome de Vanguard Jazz Orchestra. No concerto que protagonizará em Guimarães, a Vanguard Jazz Orchestra celebrará o centenário de Thad Jones, seu fundador e membro de uma das famílias mais distintas do jazz (de lembrar que dois dos seus irmãos são os lendários Hank e Elvin Jones), cuja obra é hoje parte integrante e fundamental do legado jazzístico norte-americano do século XX.

A segunda noite (10 novembro, 21h30) traz-nos uma figura bem conhecida do Guimarães Jazz, onde atuou em 2014 integrado no grupo de Terence Blanchard e em 2015 no contexto da banda James Farm, ao lado, entre outros, do virtuoso saxofonista Joshua Redman: Aaron Parks. O pianista norte-americano tem revelado ao longo dos últimos anos uma maturidade musical que justifica a sua apresentação no palco do festival com um projeto do qual é ele próprio o líder, regressando assim ao palco do Guimarães Jazz, neste caso em quarteto, com a missão de interpretar e reinventar o legado da tradição do jazz norte-americano.

A primeira atuação (15h00) a fazer-se ouvir é da responsabilidade do Pedro Molina Quartet, distinguido com o prémio de melhor ensemble e de melhor arranjo original no âmbito do concurso de jazz promovido pelo Centro de Estudos de Jazz da Universidade de Aveiro e selecionado para atuar no Guimarães Jazz 2023. Com temas como “Will I Die, Nefertiti?”, que combina inspirações em composições de Avishai Cohen e de Wayne Shorter, o contrabaixista galego que surge na liderança deste projeto integra também no seu quarteto o pianista Miguel Meirinhos, o guitarrista Filipe Dias e o baterista Gonçalo Ribeiro.
Segue-se (18h00) aquela que é talvez a proposta mais extemporânea em relação à tradição clássica do jazz incluída no programa deste ano: Maya Homburger, Agustí Fernández, Barry Guy Trio. Contando com o multifacetado contrabaixista e compositor Barry Guy, a violinista clássica Maya Homburger e o pianista de jazz e improvisador Agustí Fernández, esta formação reflete uma das melhores versões possíveis que a contemporaneidade pode oferecer da confluência harmoniosa e altamente criativa dos universos do jazz e da música clássica, da composição e da improvisação.
O sábado termina (21h30) com a entrada em cena do Michael Formanek Septet “New Digs”, projeto criado especificamente para o Guimarães Jazz. Liderado pelo conceituado contrabaixista, compositor, improvisador e pedagogo norte-americano Michael Formanek, uma das figuras mais influentes do jazz de tendência avant-garde de Nova Iorque, este projeto compõe-se por um grupo de instrumentistas notáveis, entre eles a guitarrista Mary Halvorson e o baterista Tomas Fujiwara.

A primeira semana de espetáculos desta edição culmina num domingo (12 novembro) com dois concertos que espelham mais dois exemplos da filosofia colaborativa continuada do Guimarães Jazz. Às 17h00, entra em ação o Projeto Orquestra de Jazz da ESMAE / Guimarães Jazz, fruto de residência e trabalho de colaboração dirigido este ano por Landline Plus One, um ensemble de composição coletiva, improvisação e colaboração interdisciplinar formado por músicos experientes como o pianista Jacob Sacks, o saxofonista Chet Doxas, o contrabaixista Zach Lober, o baterista Vinnie Sperrazza e ainda a trompetista Suzan Veneman, todos eles músicos convidados para assumir múltiplas facetas no festival, nomeadamente a direção das jam sessions, das oficinas de jazz e um concerto protagonizado pelo grupo.
O Projeto Porta-Jazz / Guimarães Jazz (21h30) é outro exemplo das relações do festival com instituições (a Associação Porta-Jazz, neste caso) que desenvolvem um trabalho meritório no campo do jazz nacional tendo como objetivo promover a criação artística no âmbito deste território musical. O concerto preparado para esta edição, fruto deste trabalho conjunto, intitula-se “Soma” e é materializado por um quarteto liderado pelo saxofonista José Soares em colaboração com a artista/videasta argentina Várvara Tazelaar, reafirmando a liberdade e naturalidade que o jazz tem para se cruzar com variadas expressões artísticas.

A segunda semana desta edição, traz-nos uma nova ronda de concertos, iniciando na quinta-feira (16 novembro, 21h30) com foco em mais uma parceria que assume hoje uma importância estrutural no programa do Guimarães Jazz, após sete edições do projeto conjunto entre o festival e a Orquestra de Guimarães, a qual desta vez acompanhará o quarteto liderado pelo talentoso baterista português Mário Costa, rodeado também por três instrumentistas reputados do circuito jazzístico mundial.
No penúltimo dia do festival (17 de novembro, 21h30), destaca-se a banda “Something More” liderada por Buster Williams, um contrabaixista epicentral do movimento do jazz de fusão, cúmplice criativo do lendário Herbie Hancock e de muitos outros músicos que hoje também simbolizam a “idade de ouro” do jazz.
A reta final do Guimarães Jazz 2023 faz-se em mais um sábado (18 novembro) com mais um circuito de jazz que nos presenteia com três propostas que atravessam a tarde e a noite, arrancando às 15h00 com a parceria com a Sonoscopia, que desde há vários anos cumpre o objetivo de exploração de expressões tangenciais ao fenómeno jazzístico e que nesta edição sugere um concerto a solo do extraordinário compositor e multinstrumentista Elliot Sharp.
Com o aproximar do final da tarde (18h), surge-nos o já referido ensemble Landline Plus One, composto por quatro instrumentistas altamente identificados com a cena jazzística nova-iorquina, aqui expandido pela colaboração com uma jovem trompetista holandesa.
O concerto de grande formato que encerra esta edição (21h30) propõe ao público do festival a apresentação de um dos exemplos mais elogiados pela crítica especializada da nova vaga de orquestras europeias, a big band liderada pela compositora e pianista dinamarquesa Kathrine Windfeld, um dos nomes em destaque na nova vaga do jazz orquestral europeu, e que terá como solistas convidados o guitarrista israelita Gilad Hekselman e o saxofonista afro-americano Immanuel Wilkins.

As sempre presentes e indispensáveis atividades paralelas do Guimarães Jazz voltam a acrescentar momentos pedagógicos, fruição e descontração, sendo possível assistir e participar nas Jam Sessions dirigidas pelo grupo Landline Plus One a terem lugar no final dos concertos noturnos no Grande Auditório do CCVF: de 9 a 11 de novembro no Convívio Associação Cultural e de 16 a 18 de novembro no Café Concerto do Centro Cultural Vila Flor. Esta que é uma das facetas identificadoras do festival, a sua componente de improvisação, revela o lado mais informal do jazz permitindo que o público o possa ouvir num ambiente mais direto e próximo dos músicos. Já as Oficinas de Jazz, também dirigidas pelo ensemble Landline Plus One, proporcionam aos estudantes, que aspiram a uma carreira profissional na música, uma experiência única de trabalho criativo com músicos de elevada qualidade técnica e envolvidos nalguns dos contextos mais fervilhantes da criação jazzística contemporânea. As respetivas inscrições são gratuitas e encontram-se abertas até 9 de novembro, podendo ser realizadas online em www.aoficina.pt, onde é possível consultar as respetivas condições, para além de toda a informação relativa a esta 32ª edição do Guimarães Jazz que, tal como menciona Ivo Martins, programador do festival, “continua a privilegiar o primado da diversidade e da escolha independente, ciente de que são as decisões do presente que determinam o futuro por enquanto incógnito.”

Foto: Jimmykatz.com

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