Música
Massimo Pupillo apresenta cine-concerto “My Own Private Afghanistan” no Porto
O baixista, multi-instrumentista e compositor italiano Massimo Pupillo traz, na sexta-feira, o cine-concerto “My Own Private Afghanistan” à Associação de Moradores da Bouça, no Porto, num espetáculo que ganhou “um significado muito particular”.
O músico contou à Lusa que o projeto “nasceu de uma encomenda, de uma fundação italiana, que investiga arquivos fílmicos familiares” e era para ter sido apresentado no Porto em 2020, mas a pandemia de covid-19 adiou o espetáculo.
Chega, na sexta-feira, à Associação de Moradores da Bouça, no âmbito do programa camarário Cultura em Expansão.
“Afghanistan’69”, que dá origem a este projeto, “é um filme familiar, porque foi rodado por uma rapariga de 16 anos, filha do embaixador italiano no Afeganistão na altura”.
De entre o acervo disponível, para o músico, a escolha foi fácil já que tem “algum tipo de ligação cultural ao Afeganistão, por várias razões”, uma delas porque estudou “budismo tibetano, e o Afeganistão foi um dos sítios importantes do que se tornou o budismo tibetano”.
“O que me tocou é particularmente desolador, que é ver uma terra pura, com felicidade na cara das pessoas, uma natureza limpa, os lagos lindos. O que se vê é lindo, e quando se sabe da história depois disso, todas as guerras… É uma coincidência o que acontece agora”, contou.
Para Massimo Pupillo, o concerto adiado ganha agora “um significado muito particular”.
“Estou tocado pela história, por estas pessoas que são como nós, e vemo-las a dançar, vemos as crianças, e não podemos não pensar no que aconteceu a estas famílias. É sobre chorar pela raça humana que está a ir na direção errada, a toda a hora”, disse.
O italiano confessou que “este projeto era suposto ser muito mais fácil”.
“Podia ter improvisado uns sons, como muitas pessoas fazem nestas bandas sonoras ao vivo. Mas o filme tocou-me tanto que trabalhei imenso nele, e tornou-se um álbum que lançarei em breve”, concretizou.
O disco, que será editado “ainda este ano”, espelha “um contraste” entre as imagens do filme que o inspirou e a realidade que nos é mostrada todos os dias, de um país tomado pelas forças radicais dos talibãs.
“O que me atravessou foi esta fonte de luto, de lamentação, de algo que se perdeu para este povo, para estas almas”, explicou à Lusa.
Com este trabalho, sentiu que estava “na hora de deixar para trás todo esse lado conceptual, que é todo abstrato, sobre a exploração tecnológica, ou a arte conceptual a explorar o espaço”, e explorar “a conexão humana que se pode estabelecer com a música”.
É também isso que espera que aconteça esta sexta-feira, no Porto, “porque a música é uma linguagem universal”.
“Do ponto de vista musical e técnico”, Massimo Pupillo gostava “de ser um minimalista”, mas assume-se como o contrário.
Ainda assim, diz que este trabalho “é minimalista, no sentido em que é a fonte de um rio sonoro que se mexe muito lentamente, e que acompanha as imagens, e vai crescendo”.
Massimo Pupillo, membro fundador dos Zu, é um baixista, multi-instrumentista, compositor e improvisador que já colaborou com artistas como Thurston Moore, Jim O’Rourke, Terrie Ex, FM Einheit, Otomo Yoshihide, Stephen O ́Malley ou Oren Ambarchi.
O seu trabalho é multidisciplinar, mas explora maioritariamente o jazz, a música noise e experimental.
Ao Porto, traz um trabalho com “muitas camadas e massivo – mesmo nesta fundação de música ambiente, é muito cheio de som”.
O programa do Cultura em Expansão é retomado assim, na sexta-feira, com “My Own Private Afghanistan”, seguindo-se a última apresentação de “COZINHA(S)”, um projeto de Catarina Barros e do Teatro Experimental do Porto, no sábado, no Parque da Pasteleira, e ainda Kussondulola Systema de Som, no domingo, em Miragaia.
Estão também previstos para setembro os concertos de B Fachada, Susana Santos Silva/Impermanence e a estreia do projeto “Obras Portuenses da Década de 20”, de Ângela da Ponte, Igor C. Silva, José Alberto Gomes e Sara Carvalho.
Há ainda, a apresentação de “Wave Dance Lab + 55 Anos”, de Rafael Alvarez com participantes da Pasteleira e, na performance e teatro, “Travessia”, de Pedro Vilela/ CRL – Central Elétrica, “Amor de Perdição”, de Leonor Barata, “Iceberg – O Último Espectáculo” da Peripécia Teatro, e “Altamira 2042” de Gabriela Carneiro da Cunha, no âmbito do Mexe – Encontro Internacional de Arte e Comunidade.
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Foto: DR