Opinião
O choro abafado no Afeganistão
A cada nota que oiço de uma melodia de Chopin, cai uma lágrima de uma mulher afegã. Os ventos que ardem em Cabul, espalham-se…. E esta tormenta tem um nome, “Talibã”.
Vintes anos depois, voltam as borrachas que apagam as mulheres com a “Sharia”. Tremem os corações das médicas, professoras, artistas, desportistas e mulheres e meninas de um País que sabe que quem voltar ao poder, são os mesmos homens que entre 1996 a 2001 construíram, o segundo País mais perigoso do Mundo para as Mulheres. Leu bem.
Apesar das grandes dificuldades, nas últimas duas décadas, as meninas do Afeganistão já podiam ir estudar, as mulheres trabalhavam e algumas ate cargos políticos públicos conseguiram escalar, em grandes conquistas. Não obstante, a mancha de sangue se mantivesse com casamentos de meninas, menores, com homem adultos, que lhes roubam a virgindade, como abutres famintos.
Porque será que vê-mos, nos nossos telejornais imagens de tantos seres a tentarem fugir de si mesmos, da sua pátria, da tua terra, que levam em pequenos frascos, com esperança de um dia voltarem a pisar?
Vou explicar, e vai doer. Na vida só se aprende ou pelo amor, ou pela dor. No Afeganistão é pela tremenda e majestosa dor na alma de cada mulher que nasce lá.
As mulheres, ao abrigo da lei islâmica, designada, Sharia, e não confundir com Islamismo, por favor, não pode trabalhar, não pode se livre, será sempre borboleta de asas cortadas e a sangrar. Enfiadas numa burka que pesa para além do negro, o pesado efeito de as tornar invisíveis nas ruas, onde só podem circular com autorização do marido e ou parente ( homem). Sem nunca rir, gargalhar, falar ou gritar de raiva por viverem com tamanha nulidade, vendo por entre as redes daquela prisão que carregam às costas.
Imagine, que para ir ao médico, cada uma destas “borboletas de asas cortadas e a sangrar, não podem ser vistas por um médico, acabando por perder a vida, por falta de assistência, pois o numero de profissionais de saúde do sexo feminino é muito reduzido, e por um médico/homem NÂO podem ser vistas.
A borboleta de asas cortadas com dores viscerais, como lhe chamo, mulher afegã, tem de viver dentro das quatro paredes de casa, sem nunca levantar a voz, nem ir à janela, vendo as outras esposas dos seus maridos e filhos sem nunca poder levantar um ponto de interrogação que está pregado na parede, e para onde nem o olhar podem levantar, quanto mais segurar com as mãos.
Um verniz que tenha sido colocado, nos dedos de uma Afegã, se for descoberta pode faze-la perder cada dedo. Tremo de revolta, não por não ser permitida vaidade, mas por não haver aquilo que a carta dos direitos humanos defende e que para nós, ocidentais é um dado adquirido.
Há relatos de mulheres que por se terem entregues ao amor por alguém, fora do casamento, foram apedrejadas pelos talibãs até desfalecerem de dores incontáveis, em plena praça pública.
Nas ruas das cidades de Cabul, estão hoje, ainda, cartazes e publicidade com mulheres, que a par e passo já vão sendo pintadas de tinta negra, segundo os fotógrafos internacionais que nos vão contando com imagens o que por lá se passa.
Teme-se que, dentro de pouco tempo, já não haja imagens de mulheres nas revistas, nos livros, na TV, nem se oiça a voz feminina numa rádio. Mudas/surdas/ Mortas VIVAS.
“Khalida Popal, antiga capitã da equipa de futebol feminino do Afeganistão, a viver na Dinamarca apelou às jogadoras do país para que eliminem as redes sociais e fotografias, queimem os equipamentos e se escondam, para salvar a vida…”leu-se esta semana…
Sairão as mulheres aos olhos de todos, anuladas, violadas, e caladas, em pleno século XXI, onde há um autocarro específico para elas, e que já não poderão dirigir-se mais pinta-se o jardim das mulheres, porque, eles, os Talibãs, substituíram o nome por jardim da Primavera. Qual Primavera? Onde as flores morrem a cada dia, por falta de gotas de vida.
Andreia Gonçalves