Cultura
Teatro Municipal do Porto celebra 10 temporadas por meio de música, do toque e de reinvenções
A 10.ª temporada do Teatro Municipal do Porto (TMP) arranca a 13 e 14 de setembro com a estreia nacional de “The Köln Concert”, de Trajal Harrell/ Schauspielhaus Zürich Dance Ensemble, no Grande Auditório do Rivoli; a estreia de “Mal de Ulisses” de Rui Catalão, no Auditório do Campo Alegre; e o concerto de Bill MacKay, no Pequeno Auditório do Rivoli, naquele que é o primeiro Understage da temporada, em parceria com a Amplificasom.
Tal como em 2014, o TMP abre as portas no segundo fim-de-semana de setembro e é tempo de refletir e celebrar. Ao longo destas 10 temporadas passaram pelo TMP cerca de 900 mil pessoas para assistir aos mais de 1200 espetáculos, quase 50 por cento em coprodução. Mais de metade foram feitos com artistas que trabalham a partir do Porto.
“O número 10 representa a conclusão de um ciclo e a construção de outro”, afirmam os codiretores artísticos Cristina Planas Leitão e Drew Klein que, explicam: “Recomeçar não é o mesmo que partir do zero. O passado deixa uma marca na nossa memória, simultaneamente vivida e cultural, que nos acompanha para o futuro, quer queiramos quer não. Esta evocação da memória atravessa os espetáculos ao longo destes meses. Esta temporada inclui obras que visam reforçar a ligação entre artistas e públicos e um tempo e um espaço específicos, seja por meio da música, do toque ou de reinvenções.”
Sobre a nova temporada do TMP dizem: “As obras e artistas presentes na programação criaram espetáculos que desafiam o estado atual das coisas, estimulando o debate sobre temas como saúde mental, desejo sexual e realidades expandidas. Esperamos, assim, que nos levem a lugares – uns já conhecemos, outros iremos descobrir; uns são reais, outros um produto da imaginação.”
Certa é a afirmação do compromisso assumido em setembro de 2014: “Entramos num novo ciclo. Embora saibamos que os temas e a forma como se apresentam possam mudar nos próximos anos, renovamos o compromisso com a cidade, evoluindo com a cultura e mantendo-a na dianteira da indagação artística.”
No arranque da 10.ª temporada, destaque para a estreia do coreógrafo norte-americano Trajal Harrell no TMP. Com música de Keith Jarrett e Joni Mitchell, “The Köln Concert” busca uma forma onde as pessoas se encontram, apesar da diferença de idiomas, visões do mundo e identidades. Nesta peça, Trajal Harrell aborda a experiência partilhada de pessoas ternas e fortes, revelando a sua vulnerabilidade através da dança.
Também neste fim-de-semana, Rui Catalão estreia “Mal de Ulisses”, inspirado nos sete lutos migratórios descritos pelo psiquiatra Joseba Achotegui. Um projeto com várias modalidades de intervenção, destinado a mobilizar as comunidades para a história, a identidade e o estado psíquico das pessoas sujeitas a processos migratórios.
No primeiro Understage da temporada, em parceria com a Amplificasom, o Rivoli acolhe a estreia a solo em Portugal do guitarrista norte-americano Bill MacKay.
A relação com a música continuará presente ao longo da temporada do TMP com Joana Gama e Luís Fernandes que estreiam “Strata” no Grande Auditório do Rivoli, a 20 de setembro. Tal como o TMP, a dupla de piano e eletrónica também celebra 10 anos e para assinalar a efeméride recupera a sua configuração inicial, convidando o cineasta Eduardo Brito – com quem tinha trabalhado anteriormente em dois filmes – para a criação do imaginário visual deste espetáculo.
Em dezembro, dias 6 e 7, a estreia nacional de “4/4”, de Chunky Move, o modelo de precisão coreográfica e resistência física de Antony Hamilton. Oito bailarinos interpretam uma sinfonia rígida de movimento fascinante num cenário minimalista. Com formação em técnicas de dança krump, hip-hop em estilo livre, house e contemporânea, a diversidade de filiação artística dos bailarinos, associada à perícia notável de Hamilton, dá origem a uma peça de dança australiana absolutamente singular e original.
Realidade virtual para criar mundos paralelos
Com recurso à realidade virtual, o TMP recebe a estreia de “BITCHO – Supra” de Susana Chiocca, dias 20 e 21 de setembro. Uma aventura encantatória onde o espectador imerge num outro mundo, idílico e misterioso, explorando dois ambientes distintos à medida que vai caminhando pelo espaço. O avatar de um novo BITCHO: esse ser híbrido em constante transformação que habitará o espaço, conduzindo-nos numa viagem.
Em mais uma edição do Make Trouble, dias 27 e 28 de setembro, o Studio Dries Verhoeven apresenta “Guilty Landscapes: Episode I Hangzhou” que será experienciado individualmente, entrando uma pessoa de cada vez, a cada 10 minutos. Sob a premissa “E se as notícias se voltassem para as suas testemunhas? E se os protagonistas do jornal da noite nos olhassem nos olhos?”, o público é confrontado com uma câmara noticiosa.
Também imersiva, mas não virtual, o Make Trouble apresenta ainda a estreia “HAMMAM” de Javiera Peón-Veiga, também no Make Trouble. O “banho” enquanto fenómeno coletivo de purga, regeneração e prática de cura social, de forma a roçar a fronteira entre íntimo e público. Uma experiência imersiva, inspirada em práticas tradicionais de suor ou banhos quentes presentes em várias geografias e culturas no mundo.
Em outubro, de 24 a 26, “A Conversation with the Sun” de Apichatpong Weerasethakul que “trouxe à vida o intangível, o invisível e o inaudível através do seu léxico visual único”. Poesia visual que vai além da linguagem, ondas criadas pela música de Ryuichi Sakamoto, partículas de luz a flutuar no ar num regresso à origem da vida, a um espaço-tempo completamente novo. Parte deste espetáculo pressupõe a utilização de óculos de realidade virtual e será experienciado através de circulação pelo Palco do Rivoli.
Coreógrafas da Europa, América do Norte e do Sul
Em novembro, lugar ao feminino com Faye Driscoll, Daniela Cruz, Joana Magalhães, Alma Söderberg e Carolina Bianchi.
Dias 8 e 9, no Rivoli, Faye Driscoll apresenta “Weathering”, uma escultura de carne multissensorial feita de corpos, sons, cheiros, líquidos e objetos. Dez pessoas interpretam um tableau vivant que se transforma de forma extremamente lenta num palco móvel que se assemelha a uma jangada.
Dia 9, no Campo Alegre, “ocelo”, de Daniela Cruz, uma criação sensorial e multidisciplinar para todas as idades que parte da necessidade de olhar de forma positiva para o contexto em que vivemos, pela vontade de criar sobre o belo. E “NEVA”, de Joana Magalhães, um espetáculo para a primeira infância situado entre a instalação e o teatro. Uma obra aberta formulada como uma experiência narrativa criada em interação com o público.
De volta ao Rivoli, dias 15 e 16 de novembro, a estreia nacional de “Noche” de Alma Söderberg/ Cullberg, num regresso da companhia sueca ao TMP. Um encontro entre dança e música, voz e ritmo é fundamental nesta peça na qual a exploração assume uma configuração nova. Simultaneamente lenta e repentina, constantemente recorrente, mas ainda assim imprevisível, a noite é uma interrupção delicada do seu ritmo próprio.
A 22 e 23, o Auditório do Campo Alegre recebe “Trilogia Cadela Força / Capitulo I : A Noiva e o Boa Noite Cinderela” de Carolina Bianchi y Cara de Cavalo/ Metro Gestão Cultural. O primeiro capítulo da trilogia “CADELA FORÇA”, da encenadora e autora brasileira, move-se por camadas de temporalidades. Com o seu coletivo, Cara de Cavalo, cria uma viagem para um abismo, um buraco no meio do deserto, um mergulho num copo de bebida de violação: uma descida ao Inferno.
Quintas de Leitura de regresso ao Campo Alegre
A 24 de outubro, a primeira sessão das Quintas de Leitura da nova temporada, “O poema foi ao médico dos olhos”, conta com Mia Tomé, Sandra Salomé, Isaque Ferreira e Rui Spranger. Dia 14 de novembro será sob o tema “Bebe pouco leite a poesia portuguesa”; e dia 19 de dezembro, “Os poetas adoram massagens”.
Relação com estruturas da cidade
O mês de outubro começa com a estreia de “CLASSIFIED” de José Nunes/ Estrutura, dias 4 e 5, que parte de um elemento autobiográfico do criador do espetáculo: o sonho de, um dia, vir a representar o papel de James Bond.
De 11 a 20 de outubro, o Rivoli e o Campo Alegre abrem as portas ao FIMP – Festival Internacional de Marionetas do Porto. Destaque nesta edição para a estreia de “Aruna e a arte de bordar inícios” de Ainhoa Vidal; “Lullaby for Scavengers” de Kim Noble/ CAMPO; e “In many hands” de Kate McIntosh.
Em novembro, de 19 a 23, a Festa do Cinema Francês realiza-se no Rivoli. E o TMP acolhe mais uma Mostra Estufa, em parceria com a Erva Daninha, dias 29 e 30, no Campo Alegre, e contará com as estreias de “Chapitre 2: ainsi rugissent les fleurs” de Cirque Lambda, “Quem anda ao sol” de Felipe Contreras & Miguel Brás, e “Cafelina” de Merlina.
Em dezembro, dias 13 e 14, destaque para Tetralogia das Estações “Noite de Verão” e “Noite de Inverno” de Luís Mestre/ Teatro Nova Europa no Rivoli. Paralelamente será lançado o livro “Tetralogia das Estações” no TMP Café.
Nesta temporada 2024/2025 mantêm-se as parcerias com a Medeia Filmes, a Instável – Centro Coreográfico com o ciclo Palcos Instáveis, o Curso de Música Silva Monteiro com o ciclo Novos Talentos, e com Amplificasom, Lovers&Lollypops e Matéria Prima no Understage.
Foto: Gianna Rizzo