Entrevistas
Pedro Laginha: “Esta Viagem Medieval deve ser encarada como uma verdadeira aula de história”
O conhecido ator Pedro Laginha encarna o rei D. Duarte, na Viagem Medieval em terras de Santa Maria da Feira, que vai decorrer no centro histórico desta cidade, entre 31 de julho e 11 de agosto. O ator assume que estudou e preparou-se para dar vida à personagem com todo o rigor, para que o público perceba e sinta a riqueza da História de Portugal. Pedro Laginha fala-nos também da importância da troca de experiências com os atores amadores que compõem o elenco desta recriação histórica, que é uma das mais importantes na Europa.
26 de julho 2024
Agência de Informação Norte – A poucos dias do arranque do arranque da 26.ª edição da Viagem Medieval, D. Duarte, aclamado rei de Portugal, está pronto e preparado para reinar durante doze dias, em Santa Maria da Feira?
Pedro Laginha – Prontíssimo e muito ansioso para esse arranque (risos). Eu já me envolvi na recriação histórica faz oito anos e trabalho sempre muito com uma associação que é a Espada Lusitana, que regressa este ano a Santa Maria da Feira para participar no evento. E, nesse sentido, ao saber que eu também estava envolvido na associação, a Câmara e a Feira Viva acharam por bem convidarem-me para ser o D. Duarte, nesta edição.
Um convite que aceitou de imediato?
Claro! Aceitei com muita honra e com muito gosto!
De que forma se preparou para dar vida a D. Duarte, aclamado rei de Portugal?
Ele é, na verdade, uma personagem. Continuo a estudar muito a vida dele, mas as fontes não são grandes. O D. Duarte acaba por ter ali um lado ingrato. Era filho de D. João I, o herói da batalha de Aljubarrota, e esteve ligado a uma quantidade de personagens importantíssimas da nossa História. Acabei por estudar bastante a sua vida e ler muita coisa sobre a sua vida, para tentar dar uma informação mais rigorosa na minha interpretação. Acho que é importante tudo isso na recriação. É muito importante o rigor na personagem. As pessoas olharem para a recriação histórica e saberem a forma como as personagens se vestiam, andavam, como falavam.
Voltar a integrar a Viagem Medieval tem um sabor especial?
Claro que sim! Desta vez, estou num registo diferente. Já tenho dado vida a outros reis e figuras importantes da história nas recriações feitas pela Espada Lusitana. Desta vez, acaba por ser um trabalho também de ponto de visão, porque estamos a falar de um projeto de composição, naquela que é a maior recriação medieval nacional, uma das maiores da Península Ibérica e uma das maiores da Europa. Portanto, há aqui uma responsabilidade em fazer tudo com rigor e ter todo esse rigor.
Sendo um ator reconhecido, acha que muitas pessoas vêm, este ano, ver o D. Duarte, mas também o Pedro Laginha?
Para mim, é um bocadinho indiferente a razão que leva as pessoas à Viagem Medieval. Para mim, o importante é que estejam lá, que se predisponham a fazer uma viagem na História. Quero e espero ser uma mais-valia durante estes doze dias de recriação pelo reinado de D. Duarte. As minhas expectativas são altas para esta edição.
“Temos uma história rica”
Que importância tem para si dividir este palco medieval com atores amadores?
É fundamental para a troca de experiências, porque aprendemos sempre todos muito, uns com os outros. Eu vim do teatro amador, quando comecei em criança, e fiz teatro amador até aos meus 17, 18 anos. Depois, profissionalizai-me. Sei bem a importância do teatro amador para todas estas pessoas. Acaba mesmo por ser uma lufada de ar fresco na vida deles. É uma paixão e isso é muito nobre ver e poder contribuir, de alguma forma, e trabalhar em conjunto com eles, para continuarmos a partilhar ideias, para evoluirmos todos.
Nos últimos dias e durante uma hora, a sala de espera das consultas do IPO virou cenário do tempo medieval, com a recriação que os atores lá fizeram. O D. Duarte esteve lá. Essas crianças são “guerreiras” nas batalhas pessoais?
Essas crianças são guerreiras nas suas batalhas pessoais. A Feira Viva teve a feliz ideia de armar cavaleiros, porque os cavaleiros na antiguidade eram reconhecidos em campo de batalha como uma conquista de valor, de mérito. E não há mérito maior do que o destas crianças e dos pais destas crianças. São batalhas que eles estão a travar presentemente, alguns deles já passaram por elas, outros estão a meio, outros estão no início, mas é importante mostrar-lhes que a batalha deles tem muito valor e que não há batalha maior do que a que eles travam. Por isso, foi uma honra muito grande ter contribuído, de alguma forma, para esse momento na vida daquelas crianças que conseguiram ser cavaleiros naquele dia.
Que mensagem os visitantes devem tirar e levar deste evento?
Que temos uma História muito rica, que a História é importante, que nós somos resultado dessa História e que, numa Viagem Medieval como esta, os visitantes vão aprender, reaprender e perceber, de certa maneira, as razões porque somos assim. Vão perceber um bocadinho melhor a nossa forma de ser como nação, como povo.
Quer dizer que devemos olhar para a História como ela é?
Claro que sim! A História tem coisas boas e tem coisas más. Esta Viagem Medieval deve ser encarada como uma verdadeira aula de História. E com diversão à mistura, com muita arte, muita cultura, para que os visitantes saiam dali a saber um pouco mais sobre a nossa História.
Fotos: CMF