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Santa Maria da Feira: Refood recolhe alimentos para necessitados, mas precisa de Centro Operacional gratuito
Meia tonelada de alimentos. Foi quanto o Núcelo Refood de Santa Maria da Feira já recolheu e distribuiu por pessoas carenciadas do concelho, nos dois primeiros meses de funcionamento. Esta organização independente e de voluntariado que recolhe alimentos em boas condições para os distribuir por 12 instituições e por 200 famílias necessitadas do concelho, evitando o desperdício alimentar, está a crescer e precisa de um espaço gratuito que possa ser usado como Centro Operacional, para armazenar e conservar as recolhas que faz. A Agência de Informação Norte acompanhou o trabalho de sete voluntários, na recolha de cerca de 40 quilos de alimentos numa noite, em Perlim - o parque temático que, por estes dias, anima Santa Maria da Feira - e no Mercado de Natal, instalado no centro histórico da cidade.
11 de dezembro 2024
É noite de domingo, com temperaturas gélidas, mas com cheiros, sons e imagens de Natal. De gorro de malha amarelo nas cabeças, coletes e sacos com o logotipo da Refood de Santa Maria da Feira, sete voluntários dão início às recolhas. Alfredo Ferreira, Ana Major, Catarina Leite, Cristiano Moreira, Leonor Batista, Lídia Almeida e Vera Oliveira começam a percorrer as barraquinhas da quinta do castelo de Santa Maria da Feira, palco do parque natalício Perlim, para recolherem as sobras que os comerciantes não venderam.
Sete quilos de pão e 400 gramas de presunto, recolhidos da barraquinha “Presunto Sobre Rodas”, outros 25 quilos de pão com chouriço ofertados pela “Dom Duarte” e 300 gramas de bolachas de Natal entregues pela “Christmas O´Clock” são os primeiros produtos doados a ser colocados nos sacos e a constar da lista em papel onde Ana Major anota as quantidades de contribuições recebidas esta noite.
Aurora Rocha, comerciante da “Dom Duarte” começou a colaborar com o Núcelo Refood de Santa Maria da Feira no verão porque “sempre que há sobras, tentamos dá-las a alguém e, como a Reefood vem ter connosco, é mais fácil ajudar, porque terminamos as vendas de noite, já tarde, e não precisamos de ser nós a ir entregar essas sobras a quem delas precisa”.
Depois de percorridas as tendas de Perlim que se associaram às recolhas da Refood, os voluntários descem a rua do castelo até ao centro histórico da Feira, onde se encontra o Mercado de Natal. Na ronda pelas barraquinhas deste mercado e por estabelecimentos comerciais do centro histórico da cidade, acabam por juntar aos sacos e à lista de doações regueifas, ferraduras, rabanadas, folhados, brownies, bolachas, bolas de Berlim, panquecas, croissants de chocolate, eclaires, fogaças, caracóis doces e mais pães com chouriço. No total, só esta noite, recolheram 40 quilos de alimentos que foram, depois, entregues na Junta de Freguesia de Santa Maria de Lamas para esta distribuir por instituições e famílias carenciadas.
Clara Guedes Pinto, da barraquinha “Delícias de Natal”, não hesitou em associar-se à recolha da Refood por “se poder dar um fim tão digno às sobras do dia, que são produtos absolutamente frescos”. Rita Pinho, da “Candy by Raiz”, uma tenda de produtos vegan, também sublinha o trabalho nobre dos voluntários da Refood, por “ajudarem a dar conforto alimentar a quem precisa”. E Luís Duarte, da “Frutaria Realeza“, aderiu igualmente ao projeto, há duas semanas, tendo já disponibilizado 20 quilos de fruta, por entender que “devemos ajudar um bocadinho os outros e, como há certos desperdícios que são comestíveis e ainda têm qualidade, não faz sentido pô-los ao lixo”.
O Núcleo Refood de Santa Maria da Feira começou a operar em setembro deste ano, tendo já recolhido cerca de meia tonelada de alimentos que foram distribuídos por 12 instituições do concelho e por cerca de 200 famílias, graças ao tempo disponibilizado por 40 voluntários. Estes colaboradores fazem as recolhas diárias de alimentos, movidos por um desígnio: há desperdício alimentar que não está a chegar a quem precisa dele e o nosso objetivo é fazer chegar essa ajuda a quem precisa.
Lídia Almeida, uma das fundadoras do Núcleo Refood de Santa Maria da Feira, explica que “o trabalho da Refood, aqui no concelho da Feira, é movido pela solidariedade e pela vontade de criar um impacto positivo na nossa comunidade”, para “inspirar ainda mais pessoas a colaborar com esta causa”. Catarina Leite, outra das fundadoras, acrescenta que “o movimento Refood tenta incluir toda a comunidade e esperamos que Santa Maria da Feira se sinta motivada para realmente acabar com o desperdício alimentar e dar nutrição a quem mais precisa, envolvendo toda a comunidade num espírito muito mais sustentável”.
Construir uma ponte humana entre o excesso e a necessidade é o propósito deste movimento solidário internacional que resgata toneladas de boa comida, em várias partes do mundo, para eliminar o desperdício e alimentar pessoas carenciadas. Para isso, “bastam duas horas semanais do tempo disponibilizado por qualquer voluntário para fazer a diferença na vida dos outros”, assinala Lídia Almeida.
Em busca de um Centro Operacional gratuito
A Refood de Santa Maria da Feira preenche um vazio territorial, já que não havia, até agora, recolha deste movimento entre Aveiro e Vila Nova de Gaia. Para já, só coleta alimentos em frutarias, padarias e pastelarias, mas quer alargar o raio de ação a restaurantes e supermercados, que têm contatado a equipa para recolher também nesses espaços. Como o projeto está a crescer e o número de estabelecimentos comerciais a quererem colaborar está a aumentar, “precisamos de um Centro Operacional que ainda não temos”, diz Lídia Almeida, um espaço cedido por alguma entidade pública, alguma empresa ou algum particular “que se identifique com este novimento e com esta causa”.
Catarina Leite acrescenta que “não pode ser um espaço muito pequeno, porque vamos ter que ter frigoríficos”. Idealmente, esse espaço deve ter “cerca de 150 a 300 metros quadrados, num local perto do centro de Santa Maria da Feira, porque é aí que estão as nossas principais fontes de alimentos”. Além disso, “teria de ser um espaço cedido gratuitamente, porque nós não temos dinheiro, tudo o que fazemos é tudo suportado por nós e não temos qualquer apoio, por isso, não temos dinheiro, nem para pagar o espaço, nem para pagar luz, nem pagar gás, teria que ser tudo de forma gratuita”.
A Agência de Informação Norte contatou a Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, para auscultar a possibilidade de a autarquia ajudar a encontrar um espaço para a Refood, mas não obteve qualquer resposta.