Entrevistas

Escritor José Rodrigues: “De qualquer parte se pode chegar ao mundo”

“O Quinto Pescador” é o mais recente livro do autor José Rodrigues. O sexto romance que deu mote a esta entrevista e onde mais uma vez o autor prova que ” quando se permite experimentar o amor, mesmo depois de tristezas profundas, ele encontra rumo, espaço e liberdade para se realizar e salvar. José Rodrigues, escritor natural de Viseu, estará presente no evento "Interior no Livro", Feira do Livro promovida pelo Município de Moimenta da Beira que decorrerá de 3 a 6 de Abril.

Um homem sem esperança vai nutrir-se aos poucos com ajuda de personagens muito especiais. Quer falar-nos sobre eles?
São personagens de carne e osso. Personagens que vivem, sentem, sofrem e atuam como cada um de nós. Na verdade, tal como na vida, a esperança pode sempre ser reencontrada e, quando menos esperamos, conhecemos pessoas que nos salvam. Em “O Qunto Pescador, personagens como o Pedro, de apenas oito anos, o Manuel, a Isabel ou o Jaime, por exemplo, vestem-se de características humanas, ao jeito de pessoas que se encontram todos os dias nas ruas por onde passamos e paramos. São personagens que nos lembram amigos, família e pessoas que fazem parte das nossas vidas. E imperfeitas, claro. Como todos somos.

Foi dificil encontrar este titulo?
Encontrei o título de forma fácil, depois de algumas páginas escritas. Coincidiu com o facto de eu querer encontrar um título que fosse ao encontro da curiosidade do leitor. Ou seja, com o decorrer da leitura, o leitor pergunta a si mesmo: este título porquê? Preciso de continuar a ler para saber…

O cão que está no seu romance foi inspirado naquele amigo de quatro patas que gosta de ver futebol e que, por acaso, mora na sua casa?
Tenho um cão, de raça Golden Retriever que é extraordinário. Parece adivinhar quando estou bem ou maldisposto, mas, sobretudo, consegue perceber quando estou em dias menos bons, por este ou aquele motivo. Chama-se Luffy e é muito semelhante ao Rafa, a personagem canina que tem um papel preponderante na narrativa de O QUINTO PESCADOR. Se estivermos atentos, os animais conseguem dar-nos alguns ensinamentos acerca de coisas importantes da vida, nomeadamente a presença, a proximidade, até os afetos.

A sua escrita brota e vibra no amor. É fluida e provoca no leitor a sensação de que o amor é do melhor que existe no mundo. Aconchegante.  Concorda?
Concordo. O Amor salva-nos. Mais do que o desgosto, seja ele qual for, o que nos pode matar é a indiferença e o que nos salva, sempre, é o amor. Aliás, o amor é uma energia de bem e, se lhe dermos espaço, ele manifestar-se-á sempre. Quando se permite experimentar o amor, mesmo depois de tristezas profundas, ele encontra rumo, espaço e liberdade para se realizar e salvar. O amor tem a capacidade de se espalhar em cada canto, em cada objeto ou em cada aroma. Até mesmo em cada manifestação da natureza, sobretudo quando esta serve de testemunha desse sentimento.

Uma vida entre marés” também apaixonou os portugueses. Uma mensagem forte que há sempre um caminho alcançar por mais dificeis que sejam as marés. Os elementos mar estão presentes nas suas obras. O que lhe aportam como homem e escritor?
Sobre o mar, já o escrevi, que é não apenas imenso, mas também calmo. Ao ponto de parecer inacreditável que as suas ondas, de vez em quando, se agigantam. Como os sentimentos poderosos que, parecendo adormecidos, podem acelerar o coração quando menos se espera. As marés são como a vida, a minha, a nossa. Vivemos momentos altos, baixos, mais ou menos prolongados. E a vida, tal como as marés, dá muitas voltas. Umas mais longas, outras mais curtas, algumas mais dolorosas e outras quase impercetíveis. Depois, a memória que temos do mar. Vivo longe dele, mas tenho-o presente em muitas das minhas memórias. Algumas melhores do que outras, de uma vida nem sempre fácil, nem sempre doce, mas reencontro o mar em muito daquilo que me fez crescer como pessoa e como ser humano. Quantas vezes que já pensei que, de facto, o mar faz parte da confirmação que a maturidade me foi trazendo, de que as coisas mais importantes da vida são as mais simples. Parar em frente ao mar, bastando contemplá-lo, é retemperador.

Um homem de Viseu a singrar na escrita. Que leitura faz desta minha afirmação?
De qualquer parte se pode chegar ao mundo. Não posso dizer que me sinto feliz pelo facto da minha cidade, capital da Beira Alta, não ter uma feira do livro digna. Penso ser a única capital de distrito que não tem uma feira do livro. Acho grave, para não dizer que é lamentável, acreditando que os livros nos salvam. Existem muito bons escritores na nossa região, com trabalhos fantásticos e acho que tudo que for feito para promover os nossos talentos é de salutar. O setor da cultura, dentro das autarquias, deve preocupar-se com isso o mais possível. No caminho que vou fazendo na literatura, procuro não pensar muito nisso, mas a luta é sempre mais difícil quando é feita com pouca promoção local de quem tem talento, seja qual for a área. Neste caso da literatura, repito, há muito talento no interior de Portugal e longe das grandes cidades. Há que incentivar e, sobretudo, ter isso como motivo de orgulho.

Brevemente estará no “Interior no Livro” feira do livro de Moimenta da Beira, que decorre de 3 a 6 de Abril de 2025. O que pode esperar o público?
Profissionalmente falando, há muitos anos que trabalho na zona de Moimenta da Beira. Fundei, em 1998, com o meu sócio e amigo Fernando Cardoso, a VISAR. Uma empresa de consultoria que tem um escritório aberto ao público em Moimenta da Beira. A teimosia de acreditar convictamente no potencial do nosso interior levou-nos a isso e nem por um segundo nos arrependemos. É uma grande honra participar na Feira do Livro de Moimenta e acredito que reencontrarei amigos, colaboradores, clientes e fornecedores, pessoas que gostam do mundo dos livros e estou muito grato a todos eles.

Texto: Andreia Carneiro
Fotos: DR

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