Entrevistas
A viagem com o Chef Chakall: “Adoro umas boas Tripas no Porto”
É um comunicador nato e já visitou 120 países. Para o Chef Chakall o mundo continua a surpreendê-lo
2 de junho 2020

Nasceu em Buenos Aires em 1972. Cresceu a ver a mãe cozinhar. Aos 18 anos dedicou-se ao jornalismo. Já esteve em 120 países, é estrela de televisão em Portugal, na Alemanha e na China. O Chef Chakal pertence a uma quarta geração dedicada à cozinha e, por isso, fomos de viagem com as suas memórias, à volta do Mundo, conhecer lugares e sabores.
Por: Andreia Gonçalves
Foto: DR
Qual a comida da mãe que tem mais saudades?
Arroz de frango e empanadas.
Um avô Suíço, uma avó italiana/francesa e outro lado espanhol. E para além disso cresce com uma família libanese. Com tantos idiomas qual é o que soa melhor?
Cada língua tem as suas características, e foneticamente a mais bonita é o árabe. Para escrever prefiro alemão. A língua portuguesa é muito bonito quando se entende, quando não se entende soa muito estranho.
A nacionalidade portuguesa é algo que o Chakall está quase a conseguir… Contudo com a pandemia o processo atrasou.
Eu sou português de coração. Sou mais “tuga” que o bacalhau à brás. por isso essa questão não é para mim, muito importante. É apenas um papel. Depois da pandemia chegará.
“O sudão tem as melhores pessoas do Mundo”. Porquê?
Sudão tem o rio Nilo, as melhores pessoas, (a seguir de Portugal) melhores frutas do Mundo, e muita paisagem única, o verde de um lado e o deserto, do outro, onde fiquei um mês e meio, porque não me deixaram passar para o Cairo. Provavelmente, o lugar mais bonito do Mundo. Os camelos “Selvagens” marcam a diferença
E comida?
Um prato típico com feijão, amendoim, malagueta, alho, cebola e leva por cima tomates e coentros frescos. Muito bom.
Depois do Sudão vamos até à Índia, onde transforma a sua vida por inteiro. O que criou este choque, em si?
A primeira vez que foi à Índia tinha 22 anos, foi um choque em todos os sentidos. Não só pela pobreza, a cultura, como a tentativa de perceber como tantos milhões de pessoas conseguem coabitar no mesmo país tão diferente. Onde uma vaca parada no meio do trânsito, faz as pessoas contornar o animal e a deixam continuar a descansar.
Eu tinha ido, apenas, por um mês, mas acabei por ficar três meses. E tudo mudou. Quando regressei a casa, desisti de casar e fiquei com uma visão do mundo completamente diferente. Percebi que havia muito mais Mundo do que o nosso. E muito do que eu sou. deve-se a esta viagem.
A Índia é rica em especiarias, quais as que não podem faltar na nossa cozinha?
Em Portugal: Pimentão doce, pimenta branca. Na minha precisaria de várias especiarias porque me fazem criar os pratos.
O nosso próximo voo vai ser até à China. Onde fez um programa de televisão e se transformou numa celebridade. O que se pode contar desta experiência?
A China é um país gigante. Cada região é, quase, uma cultura diferente. Eu gravei programas onde as pessoas da produção, sendo chineses, ficavam muito impressionadas, com o que se comia. Parte da graça deste programa era eu experimentar coisas que não estou habituado. Por exemplo; Escorpiões ótimos, no norte da China, perto da Mongólia. Não gostei de serpente, foi uma experiência muito repugnante, porque o processo de a cozinhar foi todo à minha frente, acho que sonhei uns dias com isso. Não quis comer carne de cão. Mas, comi ratos, de sabor não era mau, mas com a cultura de onde venho, não me entusiasma.
É mito que os chineses comam tanto arroz. Certo?
Comem mais massa que arroz. O arroz é como pão, um acompanhamento. No dia a dia comem muito mais massa sem dúvida.
Estamos de novo no aeroporto. Próximo destino Turquia. De onde vêm inúmeros turbantes que usa…
Eu vivi na Turquia, em 91, há o grande bazar que tem turbantes muito bonitos, mas na Índia e Marrocos também há. Os turcos, dentro do seu país, são ótimos, pessoas muito cultas e agradáveis, são grandes anfitriões.
Explique-me agora o porquê do turbante que acaba por ser uma imagem de marca.
Eu comecei a usar turbante em África, hoje é uma questão de higiene para não caírem cabelos na comida. E era a minha alternativa, porque não gostava dos chapéus de Chef de cozinha tradicionais. Muitas pensam que foi uma grande ideia de marketing, mas na realidade foi, apenas, um acaso.
Let’s Dance, programa de dança de estrelas, que participou no ano passado, na Alemanha. A nossa próxima paragem. O nosso Chef é também um grande bailarino?
Foi uma experiência única. Ainda por cima me pagaram para dançar e com a melhor bailarina da Alemanha. Eu gosto muito de dançar, mas nos estilos que me escolheram acabou por ser difícil e stressante. É um campeonato sério. Gostei de salsa e não gostei da dança “Jive”. Mentalmente, estaria hoje mais preparado, para este desafio. Comecei do zero, foi uma experiência dura porque treinava em Portugal e tinha de ir ao fim de semana ao programa na Alemanha. Mas a vida é assim.
Saímos da Alemanha e vamos até à cozinha italiana.
Itália não é país é um mundo de culinária. A gastronomia é muito rica, desde as massas recheadas que são ótimas, queijos, enchidos, pouco habituais, porque são feitos de carne de vaca e muitos pratos de peixe fantásticos. Itália não é apenas massa, como as que fazemos em Portugal e pizza… é muito, muito mais.
Estamos na reta final desta viagem. Vamos até à Galiza, terra do seu outro avô… O que tem de melhor?
O melhor da Espanha é o presunto pata negra. Lá tem o melhor pequeno almoço do mundo, que é pão torrado com azeite, tomate picado com alho e três fatias de presunto… do melhor! E para beber vinhos ótimos também como em Portugal.
Chegamos a Portugal: O que gosta de comer mo Porto?
Adoro umas boas Tripas no Porto. E de beber bom Vinho do Porto, velhinho. Cada região em Portugal tem coisas maravilhosas e o norte tem feiras e enchidos onde se descobrem verdadeiros sabores.
Até porque viajou em Portugal inteiro para descobrir sabores e tradições. É uma riqueza cultural única?
Uma dupla sensação. a parte lúdica é fantástica, onde se conhecem as pessoas, e sempre fui muito bem-recebido. Mas foi duro andar sempre de um lado para outro. Muda a região, mas a rotina e a estrutura tem de ser feita. eu nunca gravava mais de dois episódios seguidos. Até porque gravar em exteriores também pode ser duro, mas tem o outro lado maravilhoso: conheci Portugal, e as ilhas. Agora conheço todas as autoestradas e bombas de gasolina (risos).
Voltar onde nasceu, para terminar está conversa. O chef de cozinha tão afamado na Europa e na China saiu na capa da revista Forbes argentina. É mais conhecido deste lado do mundo do que do outro foi uma escolha?
Eu não acho que seja importante ser famoso ou não. Tive convites para gravar na Argentina programas de televisão gastronómicos e náo aceitei. O que mexe comigo não é a fama nem o dinheiro, é a curiosidade e as novas experiências.
Para além do cozinheiro, do jornalista, do modelo há o Chakall aventureiro. Verdade?
Eu olho para trás e vejo a minha histórias com 15 anos viste o de buenos Aires até ao Uruguai em kaiaque. Mais tarde atravessei três países em guerra, isto em Africa. Quando tive o meu primeiro filho fiquei mais civilizado, Menos selvagem… (risos).
Por isso, ainda ter a vontade de ir à Antártida?
Sim… E a outros lugares!
Gosta do contato com o seu público?
Eu lido bem com o contacto humano, aliás gosto que me cumprimentem e não precisam pedir desculpas para tirar uma foto. Gosto da boa energia das pessoas. Tenho muitos eventos, no país inteiro. Quando me convidam para ir a trás os montes eu fico muito feliz. Este país é fantástico e gosto de provar o que as próprias pessoas fazem e levam para as feiras gastronómicas.
Com estas voltas desenhamos juntos um boomerang pelo mundo