Entrevistas
“Amar à Vista” – Jorge Serafim é autor dos textos e ilustrações
Contador de histórias e humorista alentejano
“Amar à vista” é o título do livro de Jorge Serafim, o contador de histórias, natural de Beja, também é humorista, e que se atreveu a escrever sobre conceitos muito fortes: tolerância, fraternidade e esperança. As ilustrações cheias de simbolismo acrescentam, ainda mais sentido ao texto e são, também, da sua autoria. Um livro para pequenos e graúdos, tal como vai descobrir nesta conversa.
Andreia Gonçalves
Jorge Serafim, “Amar à vista” é a história de uma embarcação que tenta encontrar tolerância nos mares pelos quais navega. Como surgiu este tema e despertou o clique para esta história escrita para todas as idades?
Agência de Informação Norte – O meu livro “Amar à vista” é, fortemente, marcado pelas situações dos migrantes. Pessoas que devido a problemas climáticos, situações de guerras, e outras situações provocadas nos seus próprios países, tentam chegar a bom porto de qualquer forma em frágeis embarcações, arriscando as suas vidas e as dos filhos. E há imagens que me perturbam bastante. E acho que a função da arte e da literatura, apesar de ser um livro para todas as idades, é questionar os nossos territórios de conforto. Embora este livro aponte um horizonte de esperança, ele questiona, fortemente, os nossos territórios de conforto.
Neste livro, encontro corações de todas as cores, de várias raças e credos. Este barco transporta a diversidade. Quais foram os momentos que o fizeram criar esta viagem, esta embarcação e fazer este alerta…
Houve algumas imagens que perturbaram , uma numa praia do sul de Itália, pessoas que estavam alegremente num dia de verão a bronzearem-se, estendidos na praia, e mesmo ao lado tinham uns corpos de pessoas que se tinham afogado nas frágeis embarcações e foram dar à costa. E essa imagem perturbou-me bastante. E então eu senti necessidade de escrever algo sobre isto. Sobre denúncia e alerta para todos os seres humanos, sem apontar o dedo a ninguém. A maior riqueza do Mundo é a sua diversidade. Então surgiu a ideia de, no meu livro, o barco transportar corações de todas as cores, de diferentes credos. Todos somos vizinhos no mesmo planeta.
É no verbo AMAR que as vidas se podem ancorar. E porque é que o livro se chama “AMAR À VISTA”?
O Amor transforma o ser humano e transforma o mundo. É a falta de amor que nos revela o Mundo como ele está, de desigualdades sociais, conflitos bélicos, de especulação que condiciona a vida das pessoas. O “Amar à vista” é uma analogia com as embarcações e os marinheiros que quando avistam terra gritam “terra à vista”! Mas esta situação, onde as pessoas andam naquelas fracas embarcações, as pessoas mais do que “Terra à vista” querem ver o verbo “AMAR” à vista. Significa que os preconceitos, os medos pela diferença, não têm razão de ser. Por isso, o verbo amar acolhe as pessoas, ela ancora a Humanidade no humanismo. Daí esta analogia “ AMAR À VISTA”.
“ Uma ponte é quando a bondade une distâncias”. Como se consegue explicar esta ponte aos mais pequenos, sendo este também um livro para os grandes?
De facto eu assumo que é um livro para todas as idades. Quando as crianças não entendem, os pais, os encarregados de educação e os professores podem e devem ser mediadores da leitura. Eu não gosto de literatura infantil que infantiliza. Por isso, há determinados conceitos aqui que para algumas idades não são óbvios mas que criam imagens que são percetíveis e plausíveis de de mediar/ explicar. E nesta enorme diversidade que é o mundo cabe a cada ser humano construir pontes. A ponte une margens. Ela por si só cria uma iconografia de bondade, de unir as margens de encurtar a distancias e esbater preconceitos. A ponte unes as distancias e neste sentido a todos cabe um papel, transformar os livros para todos.
Este livro mantém acesa a esperança. É importante mante-la na nossa vida?
Eu acho que a esperança é sempre a última a morrer. Se não tivermos um pouco de esperança perdemos sentido nas nossas vidas . Por muita mágoa e amargura que tenhamos com os desequilíbrios quase se encontram no mundo, mesmo agora em plena pandemia as agências de rating andam classificar os países de lixo que é um termo que eu acho horripilante. Toda uma nação na sua diversidade cultural, religiosa, social ser classificada de lixo por causa da questão financeira. Mas, nós perante esta submersão de não valores eu acho que se não tivermos um pouco de esperança andamos deprimidos, cinzentos, e somos sempre sonhadores, utópicos por natureza. O livro é isso tem uma forte história, dura, mas acaba bem.
O Jorge Serafim revela-se, um ilustrador, cheio de alma e vida. Sendo apaixonado pela ilustração conseguiu dar vida também a esta sua história. Qual a verdadeira missão destas ilustrações fortes que descubro ao virar de cada página?
As ilustrações complementam as entrelinhas do texto. Os outros sentidos. O texto tem um significado muito mais amplo, do que a própria escrita. E então a ideia foi procurar as entrelinhas, que outros sentidos, que outra temática que eu possa alargar através da ilustração e foi nesta ideia que me inspirei numa série de simbologia que estava patente. O símbolo Yin Yang, o símbolo do equilíbrio, o embondeiro ( a árvore da sabedoria), os artigos dos direitos universais do Homem.
E jogo sempre muito com a palavra, com a cor, com a mancha, no fundo um jogo gráfico que pretende uma unidade de conjunto com o texto. As ilustrações, nesse sentido, alargam os horizontes do texto.
E por todas as razões, acima, apresentadas, o contador de histórias, aqui autor e ilustrador, deixa um convite…
“Amar â vista” é um alerta, cheio de esperança. Para todas as idades. A função da literatura é desconstruir territórios. Muitas vezes vivemos conformados no nosso comodismo e não questionamos até quem mora na mesma rua. Convido-vos a adquirir o livro e a darem-me o vosso feedback, em Jorge Serafim, (Contador de contos tradicionais), no Facebook, ou no Instagram @antoniojorgeserafim