Cultura
Feira: FIMUV 2022 com 15 espetáculos de clássica, jazz, folk, fado, teatro e dança
O Festival Internacional de Música de Paços de Brandão arranca este sábado e, até 29 de outubro, apresentará 15 espetáculos em vários palcos do município de Santa Maria da Feira.
26 de setembro 2022

A 45.ª edição do FIMUV decorre de 1 a 29 de outubro e este ano aposta numa programação ainda mais diversa, em que música erudita, fado, jazz e folk se harmonizam com outros géneros artísticos, entre os quais o teatro de marionetas e a dança inclusiva. Apostado em promover jovens artistas e em inspirá-los com o exemplo de valores já consagrados, o evento promovido pelo CiRAC continua a ser maioritariamente constituído por espetáculos gratuitos e, nos dois únicos concertos com bilheteira, ainda assim pratica preços simbólico de apenas 5 a 10 euros, numa estratégia de formação de públicos apoiada pela Direção-Geral das Artes, o Município de Santa Maria da Feira e vários mecenas empresariais.
O violinista e pedagogo Augusto Trindade volta a assumir a direção artística do festival e diz que essa contenção é inevitável. “Depois de dois anos de pandemia, o facto é que a guerra, a inflação galopante e as alterações climáticas agitam novamente a sociedade. Perante tudo isto, a cultura tenderia a ficar na sombra, mas é nestes momentos que a arte mobiliza a Humanidade e exalta valores comuns e transversais muitas vezes esquecidos num quotidiano difícil”, afirma o músico. “Foi nesse contexto que preparámos o 45.º FIMUV. Vamos apresentar jovens promissores como os laureados do Prémio Jovens Músicos, teremos um recital a partir de Washington pela violoncelista Mafalda Santos, damos palco à inclusão de pessoas com necessidades especiais em espetáculos de teatro e dança, fazemos cruzamentos de música e marionetas a pensar nos mais novos, e de música e gastronomia a pensar nos adultos”.
Essa última combinação dá-se a conhecer no primeiro fim-de-semana de Outubro, já que no sábado o festival arranca em formato clássico no Auditório Municipal de Milheirós de Poiares, com a Orquestra e Banda Sinfónica de Jovens de Santa Maria da Feira a interpretar Ravel e Juan Crisóstomo Arriaga, mas no domingo o pianista Vasco Dantas leva ao Museu de Santa Maria de Lamas obras de Debussy, Gershwin e Rachmaninoff intercaladas com a prova de vinhos como um reserva, um moscatel e um espumante.
Para o feriado de 5 de Outubro está reservado o recital no Museu do Papel pelo Quinteto de Sopros do Vale, com repertório focado numa investigação académica em torno de compositores portugueses e com comentários do maestro António Vitorino d’Almeida, e no dia sete sobem ao palco da Academia de Música de Paços de Brandão os vencedores do Prémio Jovens Músicos 2022, nomeadamente o Duo Sirius, nas violas, e Rodrigo Teixeira, no piano.
Ainda na mesma semana, mas a oito, a ribalta passa para o auditório do CiRAC, onde o pianista de jazz Filipe Raposo interpretará temas do álbum “Ocre”, editado em 2019 como um ensaio sonoro, antropológico e artístico sobre a cor, e a nove o palco passa para a Casa do Moinho, junto ao rio Cáster, com a estreia de “Singular Margem”, um projeto de dança inclusiva em torno de um conto do brasileiro Guimarães Rosa e com acompanhamento ao vivo pela Orquestra Criativa de Santa Maria da Feira.
Sons de Lisboa e das Terras de Miranda
Considerado uma referência da música tradicional portuguesa, o grupo Galandum Galundaina atua a 14 de outubro no CiRAC, evocando 25 anos de experiência num repertório vocal e instrumental que homenageia o cancioneiro tradicional das Terras de Miranda. Também com tradição, mas de sonoridade mais citadina, segue-se no dia 15 a fadista Sara Correia, que levará ao Cineteatro António Lamoso temas do álbum “Do Coração”, nomeado para a secção latina dos mais importantes prémios de música internacional, os Grammy, e vencedor do Prémio Play para Melhor Álbum de Fado.
Para dar a conhecer mais valores emergentes, o auditório da Academia de Música de Paços de Brandão recebe no dia 19 de Outubro o recital pelos laureados dos concursos internacionais Paços’ Premium e Cidade do Fundão: a violoncelista Lucélia Cruz, o guitarrista Diogo Carlos e a flautista Sónia Pais. No dia seguinte o concerto é online, com a violoncelista Mafalda Santos a tocar em tempo real a partir de Washington, numa transmissão via streaming na presença do embaixador de Portugal nos estados Unidos.
FIMUV leva às escolas a história da música e a inclusão pela dança
A componente pedagógica do FIMUV estende-se à comunidade educativa de Santa Maria da Feira através de dois projetos específicos. O primeiro é o espetáculo que, encomendado pelo certame à companhia Marionetas Rui Sousa, terá estreia no dia 22, no CiRAC, e será depois apresentado, de 25 a 27, em vários estabelecimentos de ensino do município. O enredo aborda a evolução da Música ao longo dos séculos, evocando contributos desde os do matemático grego Pitágoras até aos de Verdi, Mozart, Elvis Presley e Elton John.
Quanto aos artistas com necessidades especiais, serão protagonistas a 23 de Outubro, também na Academia de Paços de Brandão, que irá acolher “E amanhã…”, um espetáculo teatral que, coordenado pela associação Sótão do Vizinho – Teatro em Caixa, envolve 56 crianças, jovens e adultos com deficiência numa reflexão sobre a diversidade e o bem comum.
Antes disso, no dia 22 há ainda o concerto de Pedro Burmester na Academia de Paços, onde o pianista duas vezes condecorado pela sua carreira em prol da cultura portuguesa interpretará obras de Franz Liszt, Fernando Lopes-Graça e Bernardo Sassetti.
Os últimos concertos do FIMUV de 2022 estão programados para os dias 28 e 29, primeiro na Igreja dos Passionistas, onde o Coro do CiRAC interpretará temas de Jacob Hann e John Rutter, e depois no Grande Auditório do Centro de Congressos Europarque, onde a Orquestra Filarmónica Portuguesa se apresentará com a violoncelista letã Margarita Balanas. Vencedora do Latvian Grand Music Award 2022, a solista lançou em 2001 o seu álbum de estreia e desde então tem integrado algumas das listas de reprodução mais ouvidas da plataforma de streaming Apple Music, entre as quais “Mulheres na Música Clássica” e “The A-List Classical’.
Para Nuno Pinto Reis, presidente do CiRAC, o programa da 45.ª edição do FIMUV afirma assim o certame como um repositório de “histórias e estórias, memórias e experiências, cultura e identidade”. O dirigente associativo não nega que, ao longo dos anos, o festival se tem deparado com “muitas dificuldades e uma significativa escassez de recursos e apoios”, o que dificulta “o seu crescimento e, muitas vezes, a sua própria sustentabilidade e existência”, mas realça: “A resiliência, a persistência e o espírito de compromisso que caracterizam a comunidade CiRAC fazem com que este evento seja, mais uma vez, levado a bom porto, com nomes nacionais e internacionais de grande qualidade, várias estreias e dinâmicas culturais inovadoras e agregadoras”.
Foto: DR