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Paulo Neves é o autor da cadeira onde o Papa se vai sentar e do ambão nas cerimónias da JMJ
A cadeira onde o Papa se vai sentar e o ambão onde serão feitas leituras em duas cerimónias da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) de Lisboa foram criadas pelo escultor Paulo Neves. Estas peças representam a evangelização do mundo e dos jovens e foram oferecidas pelo artista à organização da JMJ.
6 de julho 2023
Espirais e rostos. São as duas características que ressaltam à vista das peças de arte criadas pelo escultor Paulo Neves para uso exclusivo do Papa Francisco, na Cerimónia de Acolhimento e na Via Sacra, no Parque Eduardo VII, em Lisboa, no próximo mês de agosto. A cadeira, onde o Sumo Pontífice se vai sentar, e o ambão, onde serão lidos os textos evangélicos, são feitos de madeira de cedro e espelham a linguagem artística muito estilizada do escultor. Paulo Neves explica que os rostos, esculpidos em cada esquina do ambão representam Mateus, Marcos, Lucas e João, “os evangelistas a quem se atribui a criação dos quatro evangelhos do Novo Testamento”. As espirais, por sua vez, simbolizam “a energia transmitida pelas pessoas, o movimento circular, dinâmico e evolutivo da vida, a união centrada em algo maior, que nos faz emergir noutra dimensão”.
Natural da Vila de Cucujães, em Oliveira de Azeméis, distrito de Aveiro, Paulo Neves assume-se como um homem espiritual, que encontra no campo e nos vários ateliers que tem instalados no campo e na floresta dessa aldeia a “introspeção e a paz de espírito” necessárias para criar. Admite, por isso, que ficou “imensamente feliz e comovido” por a organização da Jornada Mundial da Juventude ter aceite a proposta que apresentou para esculpir a cadeira papal e o ambão, de forma pro bono. A ideia de fazer estas “duas peças de arte exclusivas para o Papa” e de oferecê-las à organização da Jornada Mundial da Juventude “ganhou ainda mais importância e significado” para o artista, depois de ele ter sido recebido, este ano, numa audiência com o chefe da Igreja Católica, no Vaticano, uma experiência que o escultor diz ter sido “um momento único”. Uma vez que a própria organização da Jornada Mundial da Juventude assumiu como requisito “que o mobiliário litúrgico fosse executado e montado por artistas e recursos nacionais”, Paulo Neves não hesitou em apresentar a proposta, até porque considera que é “uma oportunidade para quem ainda não conhece” o seu trabalho passar a conhecê-lo.
O destino final destas duas criações, assim que terminar a Jornada Mundial da Juventude, ainda não está decidido. A “única certeza é que terão um fim litúrgico, serão usadas para esse fim, tal como foram concebidas para esse fim”. Resta saber se ficarão em Portugal ou se irão para o Vaticano.
Paulo Neves é um dos escultores contemporâneos portugueses com mais obras presentes no espaço público e privado nacional e internacional. Autoditata, independente e ausente dos tradicionais circuitos artísticos mainstream, recusa trocar o bucólico da sua aldeia pelas grandes cidades e faz questão de manter os seus ateliers em Cucujães, “para descentralizar a arte e a cultura e para fazer as pessoas virem aos meios pequenos”. Faz da arte uma forma de expressão individual, poética, simples e simultaneamente sofisticada. Cria peças em madeira, pedra, mármore, ferro, aço, bronze, materiais plásticos e sintéticos. É um artista que usa o que sente e aquilo em que acredita como expressão maior de beleza.