Teatro da Comuna traz tragicomédia da Broadway a Matosinhos

É uma comédia a cavalo numa tragédia (ou, se se preferir, uma tragédia disfarçada de comédia). “Crise no Parque Eduardo VII”, a peça que a Comuna Teatro de Pesquisa traz a Matosinhos no próximo sábado, é sobretudo o retrato possível de um tempo, traçado com um humor que rasga e fere, mas também com a ternura de quem já só espera que anoiteça outra vez.

Adaptação de João Mota da peça “I’m Not Rappaport”, de Herb Gardner, que venceu três Tony Awards, três Outer Critics Circle Awards e deu origem ao filme “Rabugentos & Mentirosos”, “Crise no Parque Eduardo VII” encerra o ciclo comemorativo dos 45 anos de existência da Comuna e assinala o início da programação para 2018 do Teatro Municipal de Matosinhos-Constantino Nery.

Estreado na Broadway em 1985, onde fez 891 apresentações consecutivas, o texto de Herb Gardner centra-se nas histórias de dois velhos que passam os dias sentados no Central Park de Nova Iorque. Transplantada para o lisboeta Parque Eduardo VII, a peça coloca lado a lado um porteiro reformado e um velho ex-comunista, vendo passar pedaços de uma cidade que vai esquecendo os seus idosos: Daniel, o presidente da Comissão de Condóminos; Clarisse, ex-toxicodependente, perseguida pelo traficante, que não quer o nome em saldo na praça pública; Diogo, o jovem que crava três notas para proteger os velhos de si próprios; e Catarina, a filha do ex-comunista, que quer pôr o pai num lar.

Quixotesca q.b., e também inconformista e metateatral, a peça conta com a direção de João Mota e interpretações Carlos Paulo (outros nome incontornável do teatro português), Hugo Franco, Maria Ana Filipe, Miguel Sermão, Gonçalo Botelho e Elsa Galvão. “Um sonho encenado no realismo da existência”, resume a histórica companhia lisboeta.