Entrevistas

Aos 91 anos, Camilo de Oliveira revela: “É uma luta perceber que a minha carreira está no fim” (Com Vídeo)

Mais de que uma entrevista, foi uma descontraída conversa a dois. O seu nome faz parte da história do teatro Português há mais de 70 anos. O veterano comediante, que levou durante anos os portugueses à gargalhada, mostra-se apaixonado pelo Porto, cidade onde ainda hoje tem muitos amigos e lamenta perceber que a sua carreira está no fim.
Escrever sobre um dos maiores nomes do Teatro em Portugal é sempre ingrato, porque por mais que se diga, há sempre muito mais que fica por dizer. Camilo de Oliveira é um desses nomes.

Aos 91 anos de idade, recebeu-nos tranquilamente num local onde passa muitas tardes a conviver com amigos. Afastado da profissão há cerca de 5 anos, não é homem de olhar para o passado. “Olho agora para a frente para os anos que me restam para viver”. São já 91 anos. De muitos êxitos no teatro e na televisão. Todos o conhecem, todos os reconhecem e Camilo sabe disso. “Sempre fui muito bem tratado”, mas chego a esta idade e “ é de facto uma luta saber que minha carreira está no fim, sofro bastante com isso, por não estar já com saúde para dar o rendimento que o público até aqui exigia de mim. Existem 5 coisas que interessam num ator: público, público, público, público e público, sem ele um actor nada faz”, assume.

Ao longo da entrevista nunca escondeu a boa disposição, mas assumiu que nem sempre está bem-disposto. “Tem dias” (risos). Defensor do profissionalismo, não gosta de falhas e isso, por vezes, “é confundido com o “ter mau feitio.
Numa conversa sem pressas nem reservas, revela que as homenagens valem o que valem. O público já me tem dado provas de reconhecimento. O ano passado estive vários dias no Hospital e na rua perguntam-me se estou melhor, como é que eu estou, falam dos programas que fiz, as pessoas gostam de conversar comigo, de me ver ao vivo” (…) e lamenta não ter mais saúde, para dar nos dias de hoje esse “reconhecimento” ao público que o “acarinhou e que fez de mim aquilo que sou hoje porque é a ele que devo tudo aquilo que sou hoje”, revela emocionado.

O tom de voz muda quando o assunto é o Norte. “O Porto e todo o Norte é especial. O meu filho mais novo nasceu no Porto. Tenho lá muitos amigos e memórias, das muitas vezes que passei pelo Teatro Sá da Bandeira”. Da sua experiência, afirma que o público do Norte é “exigente, sabe e quer ver bons espectáculos”, “reconhecendo os artistas que por lá passam”, e já lá foi homenageado também.

Quanto à nova geração de atores, “alguns deles podem muito bem ser os meus antecessores”, entende que Portugal tem neste momento bons atores, gente com muito valor. “O problema é que a maior parte dos atores desta nova geração são descartáveis, a maior parte faz coisas cheias de peneiras, entram aqui quase com o nariz no ar, fazem uma coisinha qualquer e pronto, já acham que são atores”. Atores, na opinião do Mestre Camilo, são muito mais do que isso. “É ser humilde e aprender muito”.

O seu destino estava traçado para uma carreira promissora. Nasceu num camarote do Teatro do Grupo Caras Direitas, localizado em Buarcos, na altura o único teatro existente no concelho da Figueira da Foz, numa altura em que a sua Mãe fazia de Inês de Castro e o meu pai de D Pedro. “Por pouco não nasci no palco” (risos)
O actor cresceu no seio do Salão Rentini, a companhia de teatro itinerante que pertencia à sua família. E foi aí, com pouco mais de cinco anos, que teve as primeiras experiências profissionais. Já com cerca de 17 anos, a revista «Lisboa é Coisa Boa» marca a sua estreia nos palcos da capital e projecta a sua carreira para voos mais altos.

O teatro em Portugal mudou muito depois do 25 de Abril

A televisão nasce na vida do actor nos finais dos anos 50. “Eu estive 3 anos no Lumiar. Fiz cerca de 80 programas directos, várias personagens que nunca mais acabavam, E nessa altura já o improviso funcionava. “Aquilo eram programas diários e não tinha tempo para decorar aquilo não é?” E desses tempos guarda grandes memórias.
Nesta conversa recordou ainda Ivone Silva. “Fui eu que a pus no teatro. A Ivone era de facto uma mulher do teatro. Uma profissional a 100 por cento e exigia dos colegas também” e, por isso, é que muitos falavam do “seu mau feitio”, risos.

Camilo viajou no tempo e lembrou que o teatro de revista e o teatro em Portugal mudou muito depois do 25 de Abril, principalmente, a liberdade de expressão. “Esta rapaziada nova acha que o palavrão é que é bom, acha que o palavrão é que é o êxito, porque as pessoas riem-se muito, batem muitas palmas pelo palavrão,” e alguns, acham que essa é a maneira mais fácil de fazer rir mas na opinião do mestre Camilo estão errados. “Eu nunca disse um palavrão em cena e essa liberdade prejudicou muito o teatro”.

Afastado dos ecrãs desde 2012, Camilo, fez 47 revistas, 24 comédias e vários programas de televisão. Entre eles destacam-se Sabadabadú, um marco da televisão portuguesa da década de 80 e, mais recentemente, «Camilo e Filho», exibido pela SIC. «Camilo, Presidente» é a sua mais recente aventura televisiva, também exibida pela estação de Carnaxide.

Em finais de Setembro de 2012, houve rumores da sua morte, um boato que os jornais se apressaram a desmentir. ”Ligaram-me várias pessoas a perguntar: Camilo, estás morto? Engano que mereceu na altura valentes gargalhadas. “Se estava morto, não atendia o telefone… Era a resposta que eu dava”. Acrescentando: “já me mataram e enterraram várias vezes”, (risos).

Recorde-se que Camilo foi casado com a actriz Italiana Io Appolloni e com Maria Luísa Bettencourt. Tem dois filhos. Desde 2002, é casado com a actriz Paula Marcelo.

Foto: DR

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