Entrevistas

Lean Cruz: “Vivo uma das fases, mas felizes da minha carreira”

Cantor irá marcar presença na sala de Teatro "Le Blanc-Mesnil" em Paris no dia 6 outubro com a sua banda.

A paixão pela carreira, as inseguranças, os sonhos, o novo disco, que considera “que chegou mais longe”, o objetivo de uma carreira internacional e a vontade de ser pai de três filhos, tudo isto numa entrevista intimista ao cantor Lean Cruz, um homem “feliz com alguns momentos tristes” que encontra no mar o seu melhor confidente.

 

Agência de Informação Norte -Quando olhamos para si custa a acreditar que já completou mais de 20 anos de carreira. Como têm sido todos estes anos?
Lean Cruz -Tem sido uma verdadeira aprendizagem com momentos bons e menos bons. Com os menos bons, aprendo a não cometer os mesmos erros. Já com os bons, aproveito para fortalecer a minha confiança e continuar esta longa viagem. Mas o mais importante é sentir que estou a fazer o caminho que escolhi para mim.

Mas posso concluir que está a passar por um dos períodos mais felizes da sua vida profissional?
Sem dúvida que sim. É muito bom sentir que tudo o que plantámos ao longo do nosso trajeto está agora a dar frutos. Tenho tido a oportunidade de partilhar a minha música por várias cidades no nosso país, tanto em concertos como em presenças nos programas de televisão e nas rádios. Acho que cheguei a um certo ponto da minha vida que se torna mais fácil perceber aquilo que realmente tem importância. Entendo que nunca devemos perder o foco dos nossos objetivos, temos que resistir às tentações! Só assim é possível atingir o topo do nosso bem-estar.

Já falou da presença assídua em vários programas de televisão. Esta exposição permitiu levar o seu nome além-fronteiras. É a esta visibilidade que se deve também a sua presença em espetáculos fora de Portugal?
Sim, a televisão ajuda muito para que isso aconteça. Mas a minha história além-fronteiras já vem muito antes disso. Ao longo destes anos, tenho vindo a percorrer muitas salas de espetáculos no estrangeiro, mesmo quando ainda não aparecia em programas de televisão. Entendo que a simplicidade das minhas músicas foram conquistando os emigrantes por esse mundo fora, e isso deu-me um certo traquejo para enfrentar outros desafios.

Como por exemplo…
Irei marcar presença na sala de Teatro “Le Blanc-Mesnil” em Paris no dia 6 outubro com a minha banda. Uma sala onde a grande parte do público é francês!
É sem dúvida o maior desafio da minha carreira até hoje.

Que espetáculo vai ser esse?
Vai ser um concerto muito especial. Primeiro porque vou poder levar toda a banda comigo. Depois, porque não é todos os dias que somos convidados para atuar numa sala de Teatro com 700 lugares, a partilhar a nossa música em Paris.
Vai ser um concerto abordarei os temas do meu último disco “Maktub”, não esquecendo, obviamente, as mais conhecidas, como “Amor em qualquer lugar” e “Só mais uma noite”.

Os concertos fora de Portugal são sempre diferentes dos que realiza em Portugal?
Sim! Muitas vezes, temos que improvisar, por não podermos levar toda a nossa equipa. Quando isso acontece, é normal que tenhamos que fazer algumas alterações no alinhamento do concerto. Mas a grande diferença está em levar até aquelas pessoas a cultura portuguesa através das canções.

Vive junto ao mar. Olhar para o grande horizonte continua a ser a sua grande inspiração e motivação para escrever?
Esse é o meu grande privilégio! (risos). O mar é a minha fonte de inspiração para tudo. Adoro sentir o que sinto quando lá estou. Confesso que escrevi grande parte das letras de frente para o mar. É uma liberdade infinita! É um lugar onde sinto que tudo ali é possível.  Quando estou triste, respiro fundo, fecho os olhos e perco-me naquele silêncio, onde só se ouve o som do mar. Depois, abro os olhos e percebo que o que me deixa triste naquele momento não é nada, comparado com toda aquela energia e beleza. De seguida, sigo em frente e deixo essa tristeza para outro dia. Quem sabe se, nesse dia, ela até já se terá esquecido de mim.

“Sou um homem feliz com alguns momentos tristes”

Em 2015, na altura em que entrou numa nova etapa da sua vida profissional, garantia que ainda lhe falta fazer muita coisa. Quatro anos depois o que lhe apetece dizer?
É verdade que já fiz algumas boas coisas, mas, hoje apetece-me dizer que valeu a pena não ter desistido, valeu a pena atravessar um longo deserto. onde tudo parecia que era nada, onde, muitas vezes, tinha vontade de sair do meu corpo e descansar longe de mim próprio. A verdade é que só assim foi possível chegar aqui. Como diz uma das músicas do álbum, “hoje sou dia de sol, mas já fui temporal”. Mas continuam a faltar sempre muitas coisas. A música está sempre a evoluir. Temos que entrar na onda, senão ficamos de fora!

Está muito dedicado a este seu último álbum. Já teve algum feedback?
Foi um disco que me deu muito trabalho. Perdi muitas noites, desliguei-me completamente daquilo que me rodeava. Fechei-me num estúdio durante meses, tudo porque era um estilo muito diferente e que eu não estava habituado. Tive que criar novas histórias, novos ritmos, longe da minha zona de conforto. Mas acabou por ser uma excelente experiência, pois acabei por me apaixonar por este estilo musical! O feedback tem sido ótimo. Foi, sem dúvida, o disco que chegou mais longe. Acredito muito no “Maktub”

Mas como caracteriza este disco composto por 11 faixas?
Como disse antes, é um disco com ritmos alegres, sons que nos fazem ir além do imaginável. Mas o mais importante é a mensagem que está em todos os temas.

Mas afinal o que quer dizer “Maktub”?
(Risos). “Maktub” é uma expressão árabe, significa, “já estava escrito”. Para mim é uma forma positiva de ver a vida.

Mas na verdade qual é a grande diferença entre este e o anterior (Acordar)?
Começa logo pelas sonoridades e pelos ritmos muito mais dançantes e alegres, mas diria que sempre com uma dose de romantismo como o disco anterior. Este é um disco mais completo, mais maduro.  Tem tudo o que é preciso para eu sair por aí e apresentá-lo ao mundo. Fazer o público acreditar nas coisas boas e no lado bom da vida.

Quais foram as suas grandes influências musicais?
Confesso que para este disco tive que ouvir muito reggaeton. Algo que não gostava, mas a injeção foi tão grande que acabei por gostar (risos).
Passei dias e semanas a ouvir um pouco de tudo que abordava esse estilo, cheguei a um ponto que a minha mente já não dormia…era só música na cabeça!

Não coloca de lado uma carreira internacional?
Não penso muito nisso, mas, se acontecer, é porque já estava destinado! Claro que todos os artistas pensam e sonham sempre mais além. E,  se por algum acaso se proporcionar, tenho que aproveitar e agarrar essa oportunidade com todas as minhas forças, porque na verdade seria algo incrível!

Que tipo de música ouve em casa?
Em casa depende do momento… Num jantar mais especial gosto de ouvir Roberto Carlos ou Júlio Iglésias. Mas, quando estou mais numa de dançar em frente ao espelho, enquanto me visto, ouço um pouco de reggaeton.

A sua irmã integra os seus concertos ao vivo. Como é que é a vossa relação?
Temos uma relação ótima e acabou por se tornar na minha melhor amiga, a partir do dia em que eu aprendi a aceitá-la como ela é. Porque, no início, não foi fácil, éramos demasiado parecidos! É fascinante ouvi-la cantar. Acrescenta muito ao meu projeto. Mas, como já lhe disse várias vezes, acho que ela deve seguir o seu próprio caminho. Tem muitas qualidades como cantora.

Como é que ela o trata. Por Lean ou Leandro?
Depende! Quando quer entrar em “tangas” chama-me Lean. Mas, geralmente, trata me por irmão (brother). Não me trata mal (risos).

“Já fui egoísta inconscientemente”

Há cerca de 10 anos gravaram uma canção em dueto que não foi editada em disco. Para quando um dueto entre os dois?
Foi uma canção muito importante na nossa história, inclusive, ela chegou a concorrer ao festival da canção júnior com essa música. Ficou em segundo lugar. Mas a canção não chegou a ser editada. Até teve algum sucesso nas escolas e nos concertos que fazíamos naquela altura.  Confesso que ainda hoje, nos concertos que fazemos, há sempre aquele público que nos acompanha desde o início a pedir essa música, “Noites de Paris”. Mas está nos nossos planos gravar um outro dueto bem bonito, mas ainda não chegou a hora.

Disse há pouco que tinha um feitio muito parecido com o da sua irmã. Afinal como é que o Leandro Maciel Cruz se define enquanto ser humano?
Pergunta difícil esta. Sinceramente, sinto que estou numa fase de grande evolução como ser humano. Já fui egoísta inconscientemente. Mas fui. Agora tento ser o menos possível. Procuro ser uma pessoa melhor. Tento aprender com os erros. Essa talvez seja a melhor forma de evoluir nesta vida. Grande parte das vezes acho que sou uma pessoa simpática. Gosto de viver tranquilamente, desfrutando das coisas boas da vida, como o amor, a magia da natureza e um bom espumante bem gelado. Considero-me acima de tudo um ser humano positivo. Os sonhos que sonho em segredo são a razão de tudo o que sou…mal ou bem!

O que é que acha que o público (admiradores) desconhece de si?
Se eu contar passam a conhecer (risos). E a ideia não é essa! É melhor continuar como está. Todos nós temos que ter um lado mais escondido. Faz parte da natureza das coisas. Mas o que não conhecem não é grave. Simplesmente para o conhecerem teriam que conviver comigo 24h por dia, e isso não seria   possível.

Mas como é a sua relação com os fãs?
Tenho uma ótima relação com eles. Tento ser o mais atencioso possível. Sem eles nada disto seria possível. Estou sempre grato pelo carinho que me oferecem!
Não abandono o local do concerto sem estar com todos aqueles que ficam para uma foto ou um beijinho! É bom estar perto deles. Faz-me sentir que vale a pena continuar apesar das adversidades que vamos encontrando.

Responde a todas as mensagens que recebe?
Quase a todas, por vezes, com dias de atraso, mas respondo.
Só não respondo quando a mensagem passa para assuntos pessoais, ou melhor, respondo não respondendo! Acho que é fundamental não ultrapassarmos o limite das coisas, até porque as redes sociais têm dois lados, o bom e o menos bom. É importante aproveitar o lado bom e não deixar que o lado menos bom prejudique a nossa vida pessoal.

“Ainda me falta compor aquela grande música”

Quando olhamos para si ficamos com a sensação de ser uma pessoa feliz. Do que tem medo?
Faz pouco tempo, num programa da SIC, falando um pouco da minha história disse: “Sou um homem feliz com alguns momentos tristes”! Tenho medo de perder a capacidade de sonhar com o passar dos anos. Vou aproveitar este assunto para partilhar uma frase que me acompanha desde que aprendi a conhecer-me de uma forma mais profunda. “Cada minuto que passa pode ser tudo o que nos resta para viver, mas mesmo assim continuamos a desperdiçar o nosso tempo como se ele fosse infinito”! Este pensamento ensinou-me a ver a vida de outra maneira. É preciso saber entender a essência das coisas. A partir daí, tudo se torna mais mágico. Até mesmo quando chove!

Considera-se um homem vaidoso?
Em miúdo era bastante! Mas, mesmo assim, saía de casa um pouco despenteado pelo facto de chegar sempre atrasado ao autocarro.
Agora, um pouco mais crescido, gosto de me sentir bem com o que levo comigo. Apenas isso! Não complico muito. Mas entendo que todos nós devemos ser um pouco vaidosos, mas só um bocadinho! (risos)

Mas cuida da imagem mesmo fora dos palcos?
Deveria cuidar mais! Fui sempre um pouco desmazelado. Mesmo assim, não deixo de dar a minha corridinha ao fim da tarde e frequentar um ginásio para exercitar o corpo e a mente! Mas, sem dúvida, que todos nós devemos cuidar da nossa imagem, até porque não vamos para novos!

Fale-me de projetos para futuro?
Evoluir como ser humano é das coisas que mais me fascina. Espero chegar ao futuro como um homem incrível! Esse é o meu grande projeto. Porque, depois disso, tudo se transforma em algo bom. Quero ser pai de três filhos. Mudando um pouco a conversa, quero ter 3 filhos! Quero conhecer mais lugares do mundo, mais do que os que já conheci, que já foram bastantes, felizmente!  Quero ter a capacidade de retribuir os momentos bons que algumas pessoas me proporcionaram.

E a nível profissional?
Consolidar a minha carreira no panorama musical português, pois sinto que ainda tenho muito para fazer. Ainda me falta compor aquela grande música! Ou talvez já a tenha feito e não tenha percebido.
Para finalizar, quero fazer xeque-mate às coisas que ainda não fiz! Se ainda houver tempo…

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5 Comments

  1. Conheço-o dos programas da tarde da TVI é o cantor que tem uma rapariga sempre a mexer no cabelo que deve ser a irmãi que fala. lol. Gostei de ler a entrevista. Uma grande produção. Parabéns.

  2. Muitos Parabéns por esta entrevista ficamos a conhecer melhor este artista com muito talento e música diferente que dá para viajar mesmo quando se está dentro de casa
    Para ele desejo-lhe uma longa carreira com o seu grupo

  3. Conheço o Lean pessoalmente. E como uma grande fã que sou dele e o adoro muito. É um ser humano incrível, merece toda a sorte do mundo. Ele é muito atencioso com os fãs e dá lhes bastante atenção e tira sempre um bocadinho para tirar uma fotografia. Para mim é um amigo que guardo para a vida. ??❤️❤️

  4. Gosto das perguntas, gosto das respostas, gosto das fotos, gosto do novo disco e gosto muito do cantor. Felizmente que existem meios de comunicação Social como esta Agência a dar voz a artistas que nem sempre têm a oportunidade de chegar a outras portas mais “famosas”.

  5. A entrevista está muito cativante para a sua leitura acompanhada por fotos que a enriquecem muito. Gosto particularmente destas duas perguntas: “Disse há pouco que tinha um feitio muito parecido com o da sua irmã. Afinal como é que o Leandro Maciel Cruz se define enquanto ser humano?” e “O que é que acha que o público (admiradores) desconhece de si?” Muito bom. Parabéns ao autor/a da entrevista uma vez que a mesma não esta assinada. Só as fotos.

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