Entrevistas

Manuel Clemente: “Em caso de dúvida, escolhe o que te faz feliz”

Manuel Clemente é escritor. Este é o seu segundo livro, um mergulho  interessante ao interior do ser, traz o lema de que cada um de nós tem direito de sonhar com a felicidade que às vezes está em pequenos nadas. E lutar para atingi-la. Um livro sob a chancela da editora Alma dos Livros. 

Andreia Gonçalves
Foto: DR

Quem é o Manuel Clemente e para onde vai?
Sou uma pessoa perfeitamente normal que teve a felicidade de gostar de escrever. A escrita é uma das minhas dimensões e é através dela que tento transmitir aquilo em que acredito. Como qualquer outro ser humano, estou a viajar pelo meu processo evolutivo e a tentar tirar o maior partido dele.

Em caso de dúvida escolhe o que te faz feliz. Quando é que teve coragem de seguir este lema que agora nos traz no título do seu novo livro?
Vou tentando todos os dias. Nem sempre é fácil, pois as pressões e os demais condicionalismos estão constantemente a colocar-nos à prova. Tenho a profunda convicção de que todos, sem exceção, podem (e devem) almejar uma vida mais feliz. Na maioria das vezes, a “chave” está nas pequenas coisas, como a importância que damos aos nossos pensamentos, a forma como tratamos os outros ou a confiança que depositamos em nós próprios.

Parar é o segredo para viver?
Acredito que sim, principalmente nos dias que correm. Vivemos demasiado acelerados, não só fisicamente, como também mentalmente. Abrimos pouco espaço à contemplação, à serenidade e à paz de espírito. Infelizmente, acabamos por estar mais preocupados com a velocidade do que com a direção que escolhemos. Necessitamos de aprender a abrandar, para que possamos sentir quem somos e para onde devemos ir.

Porque temos tanta dificuldade em mergulhar no nosso vazio?
O medo do desconhecido é algo inato em nós. Os instintos mais primários rotulam o incerto de ameaça, pois durante milhares de anos era isso que se passava. Quando não temos consciência desse especto, o mais natural é evitarmos o vazio. Na maioria das vezes, porque temos medo do que possamos lá encontrar. Ironicamente, tendemos a preferir algo medíocre mas que nos é familiar, do que algo potencialmente bom mas que não sabemos bem o que é. A meu ver, faz todo o sentido praticarmos mais o tédio e o aborrecimento. Permitimo-nos pouco a não ter nada para fazer. Existe esta ilusão de que uma agenda ocupada corresponde a uma vida preenchida, no entanto nem sempre é assim. Da mesma forma que uma folha em branco nos permite escrever o que bem entendermos, também o vazio nos oferece a possibilidade de construir algo novo.

Porque temos tanto medo de mudar? Mesmo tendo consciência que não estamos no lugar certo?
Principalmente pelo tal medo do vazio e do desconhecido. Ingenuamente, acreditamos ser possível viver uma vida inteira no “lugar errado” e não sofrer consequências dessa decisão. Somos reféns do medo que sentimos e alimentamos algum pessimismo relativamente ao futuro. Julgamos sempre que o amanhã será pior e isso retrai-nos. As mudanças mais profundas não acontecem de um dia para o outro, mas se não dermos o primeiro passo, então aí é que tudo ficará sempre na mesma

Temos a tendência de festejar a chegada à meta, mas não valorizar o dia-a-dia desse percurso. Tudo mudaria se isso acontecesse, concorda?

Concordo a 200%. Estamos demasiado focados em chegar ao fim e não tanto em desfrutar do caminho. Esquecemo-nos que a conquista da meta final é feita de tantas outras sub-metas. Existem várias vitórias ao longo do percurso, mas a nossa insaciabilidade muitas vezes acaba por bloquear a satisfação e gratidão que deveríamos sentir.

Há quem não se atreva a viver porque sair da zona de conforto gera medo. Isso é viver?
Muitas vezes confundimos o conforto com o conformismo. Estarmos resignados e estagnados pouco tem a ver com estar-se confortável. Quando nos permitimos a viver os desafios e as superações corretas para nós, estamos a superar-nos e dessa forma a aumentar a nossa zona de conforto. O incómodo é fundamental para despoletar em nós um processo de transformação, sem dúvida. Porém, como em tudo na vida, deve existir um equilíbrio saudável. Hoje em dia, muitas pessoas vivem num esforço desmesurado, acreditando que é suposto estarmos constantemente a sacrificar-nos. Nem tudo requer assim tanta degradação da nossa condição física e psicológica. Assim que mudamos a forma de ver as coisas, naturalmente a sua forma também muda.

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