Cultura

FIMUV arranca com valores emergentes

44.ª edição do festival de Santa Maria da Feira começa no Dia Mundial da Música

A 44.ª edição do Festival Internacional de Música de Paços de Brandão arranca a 01 de outubro com um concerto emitido a partir de Paris, pelo duo de pianistas MusicOrba, constituído pelo português Ricardo Vieira e pelo japonês Tomohiro Hatta, ambos com residência em França e carreiras em ascensão. Após ano e meio de paragem e mais de 50 concertos cancelados, inclusive os de uma segunda tournée na China, os pianistas encaram este regresso como um gesto vital tanto em termos artísticos como profissionais. “É voltar a respirar”, garantem.
A direção do Festival Internacional de Música de Paços de Brandão (FIMUV) apostou para a sua abertura oficial num formato diferente, disponível para uma audiência global, através da internet, e cruzando várias culturas: um concerto por um artista português e outro japonês, emitido a partir da capital francesa e com conteúdos gravados na Turquia, num espaço arquitetónico cuja construção remonta à era romana e que hoje é candidata a património da UNESCO. Para materializar todas essas referências culturais, o protagonismo caberá ao duo de pianistas MusicOrba, em que Ricardo Vieira, músico natural de Santa Maria da Feira, explorará com o nipónico Tomohiro Hatta excertos do “Sonho de uma noite de verão”, de Mendelssohn.
O concerto “FIMUV pelo Mundo” está assim marcado para as 21h30, tendo transmissão a partir da página do festival na rede social Facebook e seguindo-se também a partir do Auditório do CiRAC, onde músicos, estudantes, docentes, autarcas, jornalistas e público em geral poderão dialogar em tempo real com os pianistas, antes de esses difundirem o concerto que em agosto gravaram ao vivo na Turquia, em específico na ágora de Izmir, cuja construção remonta ao século IV a.C.. Da conversa que acompanha o espetáculo também farão parte três gestores culturais: Hermano Sanches, o lusodescendente que é vereador na Câmara de Paris; Emídio Sousa, presidente do Município de Santa Maria da Feira; e Gil Ferreira, que, além de vereador da Cultura na mesma autarquia, é também músico e professor de guitarra.
Augusto Trindade, diretor artístico da 44.ª edição do FIMUV, realça que esse concerto a quatro mãos deixará bem evidentes as razões pelas quais a parceria criada em 2010 por Ricardo Vieira e Tomohiro Hatta para comemorar os 150 anos de cooperação entre a França e o Japão evoluiu para um projeto musical próprio, com carreira firmada em alguns dos mais prestigiados festivais do mundo e em salas míticas como o Tribeca de Nova Iorque e o Olympia de Paris. “O duo MusicOrba é uma das formações de excelência no que à atual música de câmara diz respeito”, garante. “Ainda em 2018, realizaram uma digressão na China em que, ao longo de 23 dias, se apresentaram em 18 das mais importantes salas de espetáculos desse país. Além disso, as excelentes críticas da imprensa internacional confirmam que os MusicOrba constituem um dos duos mais proeminentes do panorama musical atual”, acrescenta o também violinista e docente.
Para Augusto Trindade, outro fator concreto merece ser destacado no historial do duo: “Se é verdade que esta dupla luso-nipónica tem desenvolvido uma atividade ímpar em prol da divulgação da música contemporânea e dos seus dois países de origem, também é um facto que Ricardo Vieira realizou a sua formação em Portugal antes de prosseguir carreira em França. Isso sublinha a qualidade da formação pianística em Portugal, aspeto essencial para catapultar internacionalmente jovens instrumentistas promissores que tão bem vêm representando o nosso país”.
“Dar cartas mundo fora”
Ricardo Vieira reconhece que a qualidade desse ensino é essencial, mas realça que há outros aspetos de caráter formativo a influírem na progressão artística e profissional de um músico, entre os quais o contributo dos próprios festivais. “O FIMUV é há já muitos anos um marco importante na vida cultural de Santa Maria da Feira, não só pela sua qualidade artística, em que se supera todas as edições, mas também – e o que mais me sensibiliza – porque, acima de tudo, estimula toda uma região e incentiva os jovens músicos locais que, mais tarde, inspirados, vão dar cartas pelo mundo fora”, explica o pianista.
A capacidade de adaptação a diferentes contextos performativos, palcos e culturas também sai beneficiada dessa exposição de jovens músicos a certames internacionais, o que se revela particularmente necessário quando a atividade regular das salas de espetáculos fica sujeita a alterações profundas em termos sociais e económicos, como se vem verificando devido à pandemia de covid-19. “Em poucos meses tivemos mais de 50 concertos anulados, entre os quais os do nosso regresso às salas chinesas, com a MusicOrba China Tour 2020, o que nos entristeceu bastante”, recorda Ricardo Vieira. “Retomámos no final de agosto a nossa atividade, após um ano e meio completamente parados, e divulgámos esse retorno apenas poucos dias antes de o concerto acontecer, pois só acreditávamos quando pisássemos realmente o palco… Até lá, ainda se podia anular o espetáculo a qualquer momento”.
É o momento especial desse regresso que será transmitido no auditório do CiRAC a 01 de outubro. “Foi fantástico”, garante o pianista português. “Tocámos na ágora de Izmir, cuja construção remonta ao século IV a.C., e que agora consta da lista de espaços que se candidataram a ser reconhecidos como património da humanidade pela UNESCO, sob proposta da República da Turquia”.
Para depois do FIMUV, os próximos concertos “estão sob negociação porque o medo ainda está presente em todo o mundo”. A expectativa não invalida, contudo, uma certeza: “É preciso que tudo possa voltar ao normal porque precisamos de respirar – e isso também significa respirar arte”.
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