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Festivais e festas locais são os espetáculos a que os portugueses mais assistem – Estudo

Os festivais e festas locais foram os espetáculos ao vivo a que os portugueses mais assistiram nos 12 meses anteriores ao início da pandemia, segundo um estudo sobre práticas culturais, promovido pela Fundação Calouste Gulbenkian, hoje divulgado.

Os dados constam do estudo “Práticas culturais dos portugueses”, feito pelo Instituto de Ciências Sociais (ICS), da Universidade de Lisboa, a pedido da Fundação Calouste Gulbenkian, a partir de um inquérito nacional sobre hábitos de consumo de Cultura dos portugueses, em particular nos 12 meses anteriores à pandemia da covid-19.

De acordo com o estudo, os festivais ou festas locais foram os espetáculos ao vivo a que mais inquiridos (38%) disseram ter assistido, seguindo-se os concertos de música ao vivo (24%).

Em relação aos festivais, “em geral, são os inquiridos do sexo masculino, dos grupos etários mais jovens, entre os 15 e os 34 anos, e com um perfil omnívoro [que apresentam uma orientação cultural mais diversificada] que dizem terem frequentado esta prática cultural”.

Quantos aos níveis de escolaridade, “destacam-se os que possuem ensino secundário e superior” e, no que à geografia diz respeito, “é a participação dos inquiridos residentes na região do Alentejo que mais sobressai”.

Já sobre as festas locais, “são os inquiridos com mais de 65 anos, com o terceiro ciclo, que têm uma adesão mais expressiva, se comparado com outras práticas, das quais estão ausentes ou associados a um perfil de participação cultural unívoro [demonstram uma menor frequência nas práticas culturais]”.

“Em geral, a importância da frequência destes eventos culturais, por parte da população inquirida, faz-nos antever uma certa transversalidade geracional que esbate as habituais clivagens em relação à idade, detetadas noutras práticas culturais. É que apesar de se tratar da prática que mais agrada aos inquiridos das faixas etárias mais velhas, não podemos deixar de sublinhar que as festas tradicionais e populares são também referidas pelos mais jovens, entre os 15-24 anos”, destaca o ICS.

Ainda em relação às festas locais, é destacado no estudo que Norte, Centro e Açores “são regiões associadas à participação” nestas iniciativas culturais, sendo os Açores “a região onde se destaca o consumo regular das festas locais, o que marca uma diferenciação territorial importante face à participação mais fraca destes inquiridos noutras práticas culturais”.

O que mais leva as pessoas a participarem em festivais ou festas locais é o convívio (60%), seguindo-se o tema (30%) e o cartaz (22%).

Os festivais ou festas locais que os portugueses frequentam acontecem, “predominantemente”, no concelho no qual residem, “o que significa que os mesmos não saem em passeio ou lazer para assistirem ao evento, embora as cidades de Lisboa e do Porto possam ser as escolhidas, quando os inquiridos saem do seu concelho”.

Em relação aos concertos de música ao vivo, os que têm taxas de frequência mais elevadas são os de ‘pop-rock’, mais frequentados por homens (60%), entre os 25 e os 34 anos (28%), com o ensino secundário (35%) e superior (47%). Também os concertos de jazz são mais frequentados por homens (87%), que têm entre os 15 e os 24 anos (35%), o ensino superior (49%) e secundário (37%) e que residem na Área Metropolitana de Lisboa (80%).

No que à música clássica diz respeito, o público é maioritariamente feminino (55%), com idade entre os 55 e os 64 anos (40%), e com o ensino superior (63%).

Por outro lado, os concertos de rap e hip-hop interessam sobretudo a um público masculino (66%), com idades entre os 15 e os 24 anos (53%) e que tem o terceiro ciclo de escolaridade (49%).

O público é maioritariamente feminino também nos concertos de música africana (67%), música popular brasileira (67%) e fado (60%). Já os de música latino-americana são mais frequentados por homens (64%).

Considera o ICS que “o interesse pela música africana, por parte dos indivíduos com 35-44 anos, e algum envolvimento das faixas etárias mais jovens, residentes na Área Metropolitana de Lisboa, são traços sociais e territoriais relevantes para a análise”.

Quanto aos concertos de música folclórica e tradicional interessam tanto a homens como a mulheres (50%), sobretudo entre os 35 e os 44 anos (26%), que têm menos do que o terceiro ciclo de escolaridade (38%).

Uma análise aos dados geográficos sugere que “na região Norte há uma maior abertura ao consumo pela participação dos inquiridos em concertos de diferentes géneros musicais”. “Nesta região predomina o gosto pela música folclórica e tradicional, mas também o gosto pela música latino-americana, a música popular brasileira e uma percentagem importante de inquiridos diz frequentar os concertos de rap, hip-hop”, lê-se no estudo.

No entanto, é no Centro que o hip-hop, “tão ligado aos valores e estilos de vida dos mais jovens, parece ter maior expressividade”. É também na região Centro que há “mais inquiridos interessados na música latino-americana e no fado”.

Na Área Metropolitana de Lisboa, “existe uma fortíssima incidência de interessados nos concertos de jazz e música clássica”, e, no Alentejo, “a participação dos inquiridos ora nos concertos de fado ora nos concertos de música pop-rock pode ser uma das explicações para os ecos de ‘omnivorismo cultural’ desta região”.

O estudo sublinha ainda “a importância dos concertos pop-rock” no Algarve e “muito fraca participação” em concertos de música ao vivo registada nos Açores e na Madeira, considerando que deve “refletir-se sobre este tipo de oferta cultural nestes territórios”.

Também a ópera regista uma baixa taxa de participação, neste caso a nível nacional (2%). “Apesar de não ter a representação estatística desejável, os dados são sugestivos, na medida em que os indivíduos que frequentam esta prática cultural fazem-no de forma assídua”, lê-se no estudo.

São os inquiridos entre os 55-64 quem mais frequenta a ópera, embora se destaquem também os grupos etários dos 25 aos 44 anos. Para o ICS, “este resultado é importante dado o envelhecimento do público regular e a possível dificuldade de renovação geracional dos públicos da ópera”.

A falta de tempo foi o principal motivo apresentado pelos inquiridos para não irem mais vezes assistir a espetáculos e concertos ao vivo, festivais e festas locais, seguindo-se a falta de interesse e o preço dos bilhetes.

“Não ter interesse como motivo para não ter participado é referido mais vezes por inquiridos com mais de 65 anos, e é menos vezes referido pelos inquiridos entre os 25 e os 44 anos. Já a ideia de que o espetáculo é difícil de compreender é referida pelos indivíduos com mais de 65 anos e com níveis de instrução mais baixos, sendo importante aprofundar, ao nível da mediação cultural, a relação das instituições e equipamentos culturais com públicos seniores com perfis culturais mais modestos”, lê-se no estudo.

Nos Açores e no Alentejo, “os inquiridos destacam a falta de salas de espetáculos na sua zona de residência”.

O estudo “Práticas culturais dos portugueses” assenta em resultados obtidos por um inquérito feito entre os dias 12 de setembro e 28 de dezembro de 2020, tendo sido recolhidas duas mil entrevistas completas a pessoas de todo o território nacional.

Segundo a ficha técnica, as duas mil entrevistas completas correspondem a 39% do inquérito feito.

JRS // MAG

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