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Festival Vodafone Paredes de Coura: evento gera cerca de 5 milhões de euros na economia local
Em 31 anos, o Festival de Paredes de Coura (que começa amanhã, dia 14, e que se prolonga até sábado, dia 17 de agosto) ajudou a transformar um concelho rural, pacato e estigmatizado pela interioridade numa economia capaz de se reinventar. Pôs Coura no mapa, afirmou a identidade dos courenses, contribui para atrair investimentos, gera novos negócios, ajuda a dar visibilidade a empreendedores locais do setor das artes e, todos os anos, cria postos de traballho em part-time. O evento tem um impacto estimado de 5 milhões de euros na economia local. Os comerciantes da região admitem um aumento de receitas entre 50% e 60%, no período festivaleiro, que compensa a mais baixa faturação dos restantes dias do ano.
Ainda se faziam contas em escudos, há 31 anos, quando se realizou a primeira edição do Festival de Paredes de Coura, hoje designado Vodafone Paredes de Coura. Na altura, os organizadores investiram 160 contos, o equivalente a 800 euros. Três décadas depois, o festival gera um impacto positivo na economia local “na ordem dos 5 milhões de euros”, estima João Carvalho, o Diretor da promotora Ritmos, responsável pela organização do festival.
Vítor Paulo Pereira, atual Presidente da Câmara de Paredes de Coura e que foi um dos elementos fundadores do festival, ao lado de João Carvalho, reconhece que o evento transformou-se “numa fábrica, numa empresa que cria riqueza”. O autarca não tem dúvidas de que o agora designado Vodafone Paredes de Coura “é importante na dinamização de alguns setores da economia local, como a restauração, o alojamento e os serviços” e que isso nota-se não apenas nas datas do festival (que contabiliza uma média entre 20 e 25 mil festivaleiros por dia), começando a “sentir-se três semanas antes” do mesmo.
O festival representará entre 50% a 60% da faturação anual do comércio local, para já não falar da faturação da economia informal que não entra nas estatísticas. Carlos Teixeira, proprietário, há já 23 anos, do Restaurante Miquelina, um dos mais conhecidos na vila de Paredes de Coura, confirma que o evento musical representa “um acrescento no movimento de pessoas e um aumento de receitas de aproximadamente 50%”, permitindo obter “uma bolha de oxigénio que não se consegue noutras alturas do ano”. Embora admita que as “boas e muito organizadas condições de restauração e da oferta dentro do recinto do festival” afastam alguns festivaleiros do centro da vila, também diz que o seu restaurante é muito procurado por pessoas que, algumas vezes, “prolongam o almoço até às cinco da tarde, dão umas voltas pela vila e ficam para o jantar”. Alguns são clientes que revisitam esta casa “há mais de vinte anos e até acabam por nos visitar fora desta época”, o que faz com que exista “uma grande amizade” entre esses clientes e o pessoal do restaurante.
Rosa Barbosa, que explora, há 14 anos, a Pastelaria Visconde, igualmente no centro de Paredes de Coura, também assume que, por estes dias em que decorrem as festas da vila, “já se sente um grande aumento de turistas” e que o “festival veio, claramente, ajudar ao negócio”. Reconhece a comerciante que, sem o festival, “Paredes de Coura seria muito mais parado” e diz que, durante o festival, “é um entrar e sair de clientes a todo o instante”, que muitos festivaleiros voltam a esta pastelaria “de uns anos para os outros” e que a clientela é variada: “os que estão no parque de campismo e vêm cá fazer as suas refeições, sobretudo ao almoço, muitos galegos que também passam cá muitas horas e pessoas de todo o país”.
Por ter mais trabalho nesta altura do ano, Rosa Barbosa admite sentir necessidade de dar trabalho “no mínimo, a mais três pessoas, para poder dar resposta a tantos clientes que por aqui passam”. A mesma necessidade de reforço de pessoal sente Carlos Teixeira, do Restaurante Miquelina, que, no sábado anterior ao início do festival, se viu obrigado a “meter três pessoas novas, porque os números disparam, ao nível de fregueses, de stocks e de mercadorias” e é preciso ter “gente de que não precisaria, se não fosse o festival”, para assegurar a capacidade de resposta.
A pressão sentida no comércio local gera, é certo, postos de trabalho sazonais, sobretudo, de “jovens que aproveitam esta altura para fazerem part-times” e para “colaborarem na montagem de estruturas”, de forma a obterem “um complemento aos rendimentos normais que têm”, diz o Presidente da Câmara. Mas também há “courenses que aprenderam com o festival e acabaram por constituir empresas que, agora, prestam serviços a outros festivais, ou seja, também já estão no mercado dos festivais”, garante Vítor Paulo Pereira. E dá o exemplo de “empresas de catering e de exploração de bares que passaram a prestar serviços a outros festivais, que não o de Paredes de Coura”.
Investimento e identidade
Mas mais que negócios de oportunidade e postos de trabalho temporários, o Festival de Paredes de Coura ajuda a afirmar um território que se ressente do “fatalismo da geografia, contrariando um bocadinho esse fatalismo da geografia”. O autarca não tem dúvidas de que, apesar de o concelho situar-se no interior norte do Alto Minho, o festival ajuda a passar “uma imagem de modernidade e de afirmação do território”, estimulante para captar investimento, como é “o caso da nova ligação rodoviária a Paredes de Coura”, e para captar alta tecnologia noutros setores, como é o caso da “primeira fábrica de vacinas do país”, que foi instalada em Paredes de Coura.
Essas mais-valias fazem com que as gentes locais “sintam orgulho e sintam que também é possível fazer coisas boas, independentemente do lugar onde nascemos ou estamos“, afirma Vítor Paulo Pereira, acrescentando que “os eventos culturais e a cultura, se tiverem qualidade, têm capacidade de atração de pessoas e geram muito retorno económico”, para além de “gerarem autoestima, afirmação territorial e criarem algumas raízes e sentido de identidade”. Sublinha o responsável pelo município que “se não fosse o festival, as pessoas, porventura, não teriam um motivo tão forte para regressarem à terra”.
Que o diga Carlos Silva, filho de courenses emigrados em França que, em agosto de todos os anos, passa férias em casa dos pais, numa das freguesias do concelho e que procura nesta terra “a calma que não existe em Paris” e que aproveita os regressos a Portugal para “matar saudades do bacalhau e dos enchidos”.
O rock em escultura
Por outro lado, o festival ajuda a dar visibilidade a negócios singulares que mostram bem o sentido de empreendedorismo das gentes minhotas. É o caso do Margareth Atelier, situado na Elevadora, Centro de Capacitação Empresarial de Paredes de Coura. Nesse atelier, nasceu a marca ´Rosa Courense`, uma marca de peças de cerâmica artesanais, feitas e pintadas à mão e inspiradas nas mulheres da terra, “mulheres de garra, destemidas, de amores e carinhos”.
A artista plástica Margarete Barbosa cria, neste atelier, peças de autor, únicas e exclusivas, numa linguagem que junta a cerâmica, a escultura, a pintura, o desenho, a gravura e a ilustração. Embora ressalve que se trata de “um negócio diferente, para um determinado público específico”, Margarete Barbosa admite que “alguns festivaleiros vêm comparar este negócio com os outros, outras pessoas vêm comprar lembranças, porque gostam do conceito”. Há até quem faça encomendas antes do festival começar e “passe pelo atelier, durante o festival, para levantar a encomenda feita”.
É o caso de clientes que já encomendaram à artista a peça ´Rosa Guitarrista`, “uma escultura de uma roqueira” que Margarete criou e que é inspirada no Festival de Paredes de Coura, ou a ´Rosa Coração`, que representa “o Coração do Alto Minho”.
Todos reconhecem que o festival “ajudou a pôr Paredes de Coura no mapa”, como diz a artista plástica, até porque, “em qualquer lado que se fale de Coura, fala-se do festival”. Carlos Teixeira, do Restaurante Miquelina, acrescenta que “o festival é a cereja em cima do bolo” para o comércio local. E o Presidente da autarquia courense não tem dúvidas de que o festival “deu uma relevância mediática a Paredes de Coura que, sem festival, o concelho não teria” e que “afirmou o concelho de uma forma muito positiva no contexto nacional e até europeu, libertando Paredes de Coura do estigma do interior”.
A prova disso é que cerca de quarenta por cento das pessoas que vão a Paredes de Coura por altura do festival são galegos que “já sentem o Festival de Paredes de Coura como deles e como fazendo parte da vida deles”, diz Vítor Paulo Pereira. Junte-se a esse público a quantidade de emigrantes que, por estes dias estão de férias no concelho, para se ter uma ideia da transformação social que os dias de rock imprimem à região.
O impacto de “ter tanta gente no território” é de tal ordem que, admite o edil courense, gera-se “um problema constante que não conseguimos ultrapassar, porque há regras” e que tem a ver com “as caixas de multibanco, que até nos criam situações indesejáveis e de impotência”, porque, “às vezes, às oito da noite, já estão todas sem dinheiro”.
Contas à parte, o Festival Vodafone Paredes de Coura conseguiu criar uma identidade própria, ostenta o orgulho de ser o mais antigo festival de música em Portugal que se realiza ininterruptamente há 31 anos, é um dos mais alternativos e um dos mais acarinhados por frequentadores que, ano após ano, tiram dias de férias para acampar nas imediações do recinto. Nos dias do evento, os campos em redor da praia fluvial do Taboão estão repletos de tendas e carros de forasteiros que se juntam aos festivaleiros que optam por pernoitar no parque de campismo oficial do festival, dada a escassez de oferta hoteleria no concelho, que fica lotada mesmo antes do festival começar.
Paredes de Coura ganha, assim, por estes dias, uma nova vida! E a ruralidade duma terra que poderia estar condenada ao isolamento e à indiferença é a mesma ruralidade que, afinal, enriquece Coura e que torna o seu maior cartaz – o festival – tão diferenciador.