Entrevistas
Diana Costa Gomes: “Apostar na educação emocional desde a infância é importantíssimo”
Diana Costa Gomes, psicóloga, e autora do livro "FALA-ME DO QUE SENTES" traz-nos cinco histórias reais, mais a sua. Estes são relatos sobre pessoas e para pessoas. Todos nós temos uma história que molda quem somos. Problemas e questões que gostaríamos de resolver para nos sentirmos mais equilibrados. E se falássemos sobre o que, realmente, sentimos?
15 de outubro 2024
Agência de Informação Norte – Reconhecemos a importância da saúde mental, mas não temos psicólogos suficientes para tanta procura no SNS. Como vê esta realidade?
Diana Costa Gomes – De forma apreensiva, por um lado, mas otimista por outro. É preocupante constatar a incidência de doença mental e não haver resposta ao alcance de todos. Vejo, todavia, um esforço crescente para oferecer respostas, nomeadamente nas camadas mais jovens. De facto, apostar na educação emocional desde a infância é importantíssimo.
Fala-me do que sentes é título deste seu livro. A ideia de nos contar 5 histórias +1 remete-nos para o ser humano, mais do que para as técnicas da psicoterapia. Como chegou a esta fórmula aparentemente simples de dar-nos exemplos de histórias como nós? Onde a escuta ativa e onde esta frase ecoa ao longo de todo o livro… «Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas na hora de tocar uma alma humana, seja apenas uma alma humana.»
Esta frase é o meu lema na minha prática clínica. E acho que, de alguma forma, foi ele que levou a esta “fórmula” que acabou por não ser. Ou seja, não foi uma receita pensada no sentido de visão premonitória de sucesso. Contar histórias de “pessoas como nós” foi natural. Percebermos e constatarmos que há mais quem sinta como nós, pense como nós, só isso, pode ser terapêutico.
É um livro de pessoas. Sobre pessoas e para pessoas, por isso revemo-nos ou no Ricardo, na Maria, na Carolina, no Henrique e na Madalena, e embora saibamos que são nomes fictícios, eles entranham-nos na pele. Porque são pessoas como nós. Não é a ficção a prender-nos, mas sim a realidade pura e dura… Comente.
Não obstante o diagnóstico que trazem, o foco vai para as pessoas e não para a perturbação. Por trás da depressão, quem é a Maria? E quem foi a Maria pequenina? E o que é que a Maria me faz sentir, a mim, terapeuta e a mim, pessoa? É um livro sobre pessoas.
No consultório de Diana Costa Gomes, psicóloga clínica, todos se sentam para pelo menos pedir ajuda. Mas, há algo neste livro que nos cria um mergulho na realidade do profissional, todos imaginamos que os psicólogos têm as suas vidas. Mas, neste livro a inquietude e o desassossego por uma gravidez cria-nos um universo paralelo onde também se vê a psicóloga Diana, em busca da resolução de uma questão, relacionada com a maternidade. Podemos dizer, por isso que este livro despe todas as almas que nele são abordadas. Até aquelas que aos nossos olhos parecem ser mais do que humanas e por isso não tem os problemas que todos temos, enquanto pacientes?
Sem dúvida. Muitas vezes, o psicólogo é visto como alguém desprovido de humanidade, como exemplo, como incondicionalmente neutro ou velho ancião detentor do conhecimento. Este livro põe a descoberto a humanidade do psicólogo. Mais, ele mostra-nos como a a humanidade do psicólogo pode ser levada para o processo psicoterapêutico.
Muitas vezes, o espelho é o olhar do outro
Ansiedade, depressão, trauma, luto e burnout são palavras do nosso quotidiano. São dores trazidas pelos relatos destes seus pacientes de nome fictício. Mas, todos sofrem com as mesmas questões com que tantos de nós se debatem: solidão, compulsões alimentares, obsessões, problemas com o sono, síndrome do impostor, angústia, mudanças de humor. Como olhar no espelho e perceber os sinais de uma ansiedade já patológica? De uma depressão que nos leva a uma cama, perdendo a vontade de tudo? Como entender os sinais das obsessões ou até de compulsões alimentares? Sinais do síndrome do impostor?
Muitas vezes, o espelho é o olhar do outro que nos devolve uma imagem de nós próprios diferente daquela que nós vemos. As pessoas percebem os sinais e, na depressão, na ansiedade e em tantos outros quadros, um grande sinal de alerta é a narrativa tantas vezes ouvida em consulta de: “Eu não era assim”.
“Mas, ao longo destas páginas, encontramos ainda uma sexta história que se entrelaça com as outras: a de Diana, a autora e psicóloga clínica, que nos mostra como, por trás de um terapeuta, está uma pessoa, também ela com as suas fragilidades, angústias e contradições, que enfrenta desafios diários como qualquer um de nós”. Não teve medo de se expor. Porque é tão importante mostrar que o Drª Diana, também é, apenas Diana aos olhos dos outros?
Claro que tive! Mas lá está: «Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas na hora de tocar uma alma humana, seja apenas uma alma humana.» Que sentido faria esta frase ecoar ao longo das páginas e não mostrar a minha parte humana? Todos temos a nossa história. Não importa em que cadeira nos sentamos!
A relação que se estabelece entre paciente e terapeuta, ou médico deveria ser sempre humanizada. Algo que se lê ao longo do seu livro, mas não se vê, por exemplo em alguns hospitais. Porque é tão importante mostrar que somos todos seres humanos onde a empatia pode segurar o outro do abismo?
A parte humana e a parte técnica não podem ser indissociáveis.
E se falássemos sobre o que sentimos? Sem medos, nem julgamentos. Tudo seria diferente e a ajuda chegaria bem mais rápido. Verdade?
Verdade!
Texto: Andreia Carneiro
Foto: DR