O Palácio do Conde do Bolhão abriu as suas portas, ontem, Dia Mundial do Teatro, cerca de nove anos depois de obras financiados por mecenas, um investimento que ronda os 3 milhões de euros. Este novo espaço de cultura da invicta será também a nova casa da escola ACE/Teatro do Bolhão companhia de teatro portuense, até aqui localizada na Praça Coronel Pacheco, em instalações da Universidade do Porto.
A inauguração vai decorrer até domingo. “Vão ser três dias de festa, pois queremos abrir este espaço às pessoas, aos atores do Porto, para que o possam conhecer este edifício já recuperado”, garantiu à nossa reportagem, António Capelo, que assume a direção do espaço.
Quem passa pela Rua da Formosa, na baixa do Porto, pode até não distinguir este edifício, cuja arquitetura se confunde com os demais, mas, assim que se abre a porta principal, salta de imediato à memória a história de uma residência que pertenceu a António Alves de Sousa Guimarães, barão e, posteriormente, conde do Bolhão, um local muito procurado para bailes e festas entre a burguesia do século XIX.
Em todos os espaços do edifício existem memórias e muita história. O espaço inclui um auditório construído nas traseiras do edifício principal com capacidade para 174 pessoas, que foi inaugurado numa reposição de “Édipo”. A peça é uma versão elaborada pelo ator António Capelo da tragédia grega, escrita originalmente por Sófocles, e conta com o encenador Kuniaki Ida. Trata-se de um imóvel que, em 2002, foi adquirido pele Câmara do Porto e cedido à Academia Contemporânea do Espetáculo (ACE), entidade de interesse cultural, por 50 anos, que promove simultaneamente uma escola, a ACE/Escola de Artes, e uma companhia de teatro, a ACE/Teatro do Bolhão. “A história deste palácio tem muitas vicissitudes. Já foi visitado por um Presidente da República, quatro ministros da Educação, seis ministros da Cultura” e, por isso, “há muito que estamos empenhados em devolver esta casa ao Porto, vamos habitá-la e vivê-la no dia-a-dia e que seja um espaço de prazer para as pessoas”.
Segundo o ator, professor, encenador e diretor da ACE, a sala de espetáculos abrirá com uma das mais reconhecidas personagens da mitologia grega, “Édipo”. Com várias ideias para a programação o mesmo não se irá focar só no teatro. “Queremos manter o espaço aberto para que as pessoas venham, usufruam e saíam satisfeitas com aquilo que viram e ouviram”.
O primeiro andar, está todo ele concluído. No segundo e terceiro andares há 2 salas que não ficaram concluídas antes da inauguração. As escadarias, segundo o diretor, foram o restauro mais caro, mas garante que estão praticamente prontas. Em homenagem a todas as pessoas que contribuíram para a requalificação das escadarias, a escola-companhia gravou, para a posteridade, esses nomes nos vários degraus.
Em conferência de imprensa, que serviu essencialmente para apresentar a programação até Julho. Além de “Édipo”, que irá permanece em cena até 4 de abril, a programação do Palácio do Bolhão é vasta e atraente. Este espaço vai ainda receber de 14 a 21 de junho, o Festival Internacional de Expressão Ibérica (FITEI) e em setembro é a “Fundacion Siglo de Oro”, do Ministério da Cultura espanhol.
A inauguração oficial começou ao fim da tarde, com a presença de várias individualidades da cidade e da política. Na sua intervenção, António Capelo salientou que “esta luta custou-nos mais de duas décadas e foi tão dura que, às tantas, chegamos a acreditar na lenda da maldição do Teatro do Bolhão”. Por sua vez, Rui Moreia, Presidente da câmara do Porto, referiu que, com a inauguração deste “maravilhoso espaço a cidade, não só reivindica uma maior ancoragem da cultura e das artes na dinâmica social do seu centro histórico como também a inscrição de uma instituição de ensino nas novas dinâmicas que vemos surgir”.
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Foto: Hugo Viegas
Uma maravilha…