Sociedade

Artistas e técnicos vendem objetos simbólicos em plataforma solidária ‘online’

Uma guitarra do músico Paulo Furtado, um vestido da cantora Ana Bacalhau e uma peça de cenografia do Teatro Aberto estão à venda numa nova plataforma digital, A Loja Do Artista, de solidariedade com os profissionais da Cultura.

“No primeiro confinamento, quando nos começámos a deparar com as dificuldades, surgiu ideia de tentar fazer alguma coisa ‘online’ que pudesse ajudar os meus pares”, explicou à agência Lusa o músico Renato Júnior, um dos impulsionadores do projeto.

A Loja Do Artista (www.alojadoartista.pt) é uma plataforma onde artistas, técnicos, autores – mas também “proprietários mais anónimos” – podem colocar à venda “objetos que tenham simbolismo” e cujas receitas de venda revertem para os próprios ou podem ser doadas a entidades de solidariedade, como a União Audiovisual e a Casa do Artista.

“Eu quero que as pessoas encontrem peças únicas, diferentes, que sejam simbólicas, que tenham história, um CD com uma dedicatória, uma fotografia, umas baquetas, tudo o que esteja ligado à arte, para poder ser apetecível para um colecionador ou fã de determinado artista”, explicou Renato Júnior.

É lá que se pode encontrar, por exemplo, uma guitarra elétrica do músico Paulo Furtado, The Legendary Tigerman, a 1.369 euros. É uma Fender Telecaster americana, tem “cicatrizes, mas toca bem”, lê-se na mensagem deixada pelo músico, e se for vendida, o dinheiro será doado na íntegra à União Audiovisual.

Paulo Furtado, que também disponibilizou duas fotografias de uma sessão para o álbum “Femina”, deixa ainda um testemunho na plataforma, sobre os efeitos da paralisação da cultura, por causa da covid-19.

“Em momentos tão fulcrais como o que vivemos atualmente, é fundamental que façamos um esforço para garantir que conseguimos, todos, sem exceção, sair deste terrível pesadelo em que vivemos o último ano como músicos, como técnicos de som, como profissionais do espectáculo. Parece um chavão, mas não é. Não podemos deixar ninguém para trás”, afirmou.

Na mesma plataforma é possível encontrar, por exemplo, uma guitarra acústica de Miguel Ângelo, um vestido que Ana Bacalhau usou nos últimos concertos dos Deolinda nos coliseus de Lisboa e do Porto, e umas sapatilhas de pontas que a atriz Sofia Escobar usou no musical “O fantasma da ópera”, em Londres.

O Teatro Aberto, em Lisboa, colocou à venda duas peças de cenário do espectáculo “A Mentira”, de Florian Zeller, apresentada entre 2018 e 2019.

A página foi lançada há uma semana, mas só agora está a ser divulgada, pelo que alguns artigos já não estão disponíveis, atestando a atenção de alguns fãs, explicou Renato Júnior.

São os casos de uma tarola de Kalú e de quatro camisolas de Tim, músicos dos Xutos & Pontapés, já vendidas, e cujas verbas reverteram para a União Audiovisual.

Segundo Renato Júnior, é o proprietário que define o valor do objeto a ser vendido e a quem é que quer destinar as verbas arrecadas. “Nós músicos temos alguns objetos para disponibilizar”, disse.

“Não está fácil, porque as coisas estão paradas e o dinheiro não estica e há uma solidariedade boa entre todos”, sublinhou o músico, recordando que a vida dos trabalhadores das artes e da cultura vai demorar a reestabelecer-se, mesmo com a reabertura gradual dos espaços culturais.

“Há situações de colegas que já não estão a operar e estão a trabalhar nas obras. Está tudo muito difícil e isto pode ser uma pequenina ajuda”, disse.

Segundo Renato Júnior, A Loja Do Artista está agora a começar e terá mais artigos à venda nas próximas semanas, nomeadamente com obras de artistas plásticos.

Esta plataforma é uma iniciativa das produtora Doubleclick, do músico Renato Júnior, e da empresa de tecnologia Something Apps.

SS // MAG

Foto arquivo/DR

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